O governo federal adiou, no início de agosto, a primeira etapa do leilão do Trem de Alta Velocidade (TAV), um moderno – e controverso – projeto que prevê o transporte de passageiros entre as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. O leilão, agendado para 19 de setembro, teve seu adiamento confirmado antes mesmo da entrega das propostas, em 16 de agosto, e deve demorar pelo menos um ano para ocorrer. A explicação do ministro dos Transportes, César Borges, é que a postergação ocorreu a pedido dos prováveis participantes, que pediram mais tempo para organizar os consórcios e estruturar suas propostas.
Anunciado em 2007, o projeto da primeira linha de alta velocidade na América Latina, que percorreria um trajeto de 511 quilômetros entre as três cidades e com uma demanda de 100 milhões de passageiros/ano em 2044, é cercado de polêmica. O alto custo envolvido – R$ 36 bilhões, segundo estimativa de setembro de 2008, a maior parte saindo dos cofres públicos -, a falta de um projeto executivo que garanta a viabilidade econômica e operacional da obra e mesmo a aposta em investir em um projeto considerado por muitos especialistas como não prioritário em termos logísticos são os motivos mais apontados pelas vozes contrárias ao TAV.
Para Paulo Fleury, presidente do Instituto Ilos, o projeto do TAV é descabido sob o ponto de vista de investimento de logística. “Primeiro pela falta de prioridade real. Segundo, porque ainda não se sabe exatamente quanto vai custar. Sem o estudo detalhado de engenharia, o preço final da obra pode dobrar com os níveis de erros que existem em projetos desse tipo”, afirma.
Ao Valor, o diretor da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), subordinada ao Ministério dos Transportes, Hélio Mauro França, afirma que o novo adiamento não muda a previsão de entrada do trem-bala em operação, em 2020. “A data continua mantida. O adiamento não prejudica a implantação do projeto. Ao contrário, traz consigo uma perspectiva de competição mais agressiva e acirrada”. A maior urgência é elaborar um projeto executivo que inclui todo o aparato que engloba a instalação de um trem de alta velocidade, desde o traçado da via, as obras de engenharia, sistema de eletrificação, sinalização, telecomunicações, oficinas de manutenção, centros de controle operacional e sistemas de energização nas linhas de transmissão.
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2013