O portfólio de obras de infraestrutura em execução pelas grandes construtoras brasileiras não é nada desprezível. Envolve investimentos estimados em R$ 100 bilhões por ano. Os empresários do setor acreditam que esse movimento vai ser ainda maior a partir do segundo semestre deste ano, quando começam a deslanchar os primeiros projetos do programa de concessões em infraestrutura do governo federal.
Segundo levantamento elaborado pelo Ministério da Fazenda, os investimentos associados ao programa de concessões de rodovias, aeroportos, portos, mobilidade urbana, ferrovias, petróleo e gás e energia devem somar perto de R$ 700 bilhões até 2017.
“Isso significa, praticamente, adicionar, por ano, mais do que o dobro dos recursos atualmente investidos no país em infraestrutura”, avalia Carlos Namur, vice-presidente da divisão Infraestrutura do Grupo Galvão Engenharia. “No momento, tudo o que estamos fazendo são obras que já estavam em nossa carteira de contratos. A escalada de novos investimentos só vai acontecer a partir de junho, quando as obras maiores, já licitadas, começarem a sair do papel. O impacto na receita das empresas virá a partir do ano que vem”, diz Namur.
Nos últimos anos, com um plantel de nove mil colaboradores, a Galvão Engenharia tem participado de algumas das mais importantes obras em execução no país. Em 2012, a companhia consolidou uma carteira de contratos de R$ 6,1 bilhões, com receita líquida de R$ 3 bilhões. No ano passado, o faturamento atingiu R$ 3,4 bilhões, e este ano está previsto para R$ 3,5 bilhões. “Nossa estratégia tem sido a de crescer sempre, no patamar máximo de 10%”, diz o executivo.
Algumas obras têm impacto muito grande nos negócios da companhia. É o caso da construção da Hidrelétrica do Belo Monte, com custo estimado em R$ 15 bilhões. Este ano, a usina deve contribuir com 15% do faturamento da Galvão, uma das dez empresas integrantes do consórcio construtor, com participação de 10% no bolo total das obras.
Maior obra de infraestrutura em construção no país, com capacidade de geração prevista de 11.233 MW, Belo Monte tem 45% de suas obras civis concluídas, após pouco mais de 30 meses de atividades de produção. As obras civis envolvem 30 mil funcionários, instalados em alojamentos, vilas residenciais e cidades na região de Altamira, no Pará. Os canais de derivação e transposição encontram-se em fase de escavações e revestimento do leito e já chegaram a 46% do seu volume executado. Os diques que irão formar o reservatório intermediário estão com suas escavações praticamente concluídas, permitindo a execução dos aterros nos próximos períodos de seca. Até o final do ano, está previsto um volume de 9 milhões de metros cúbicos de aterro nos 28 diques que compõem o projeto, diz Namur.
Outro empreendimento, igualmente importante como fonte substancial de receitas para a Galvão Engenharia (15% de participação), é o da construção de 118 quilômetros da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que formará, a partir do Tocantins, um corredor de transporte de minério de ferro, soja, farelo e milho até o porto Sul, em Ilhéus, na Bahia. Avaliada em R$ 810 milhões, a obra rende à Galvão Engenharia um contrato de R$ 50 milhões. “É um projeto que está mobilizando 2,7 mil pessoas e deverá estar concluído no ano que vem”, diz o executivo.
Com atuação bastante diversificada, a Construtora Queiroz Galvão, fundada em 1953, com faturamento anual de cerca de R$ 4 bilhões, relaciona pelo menos sete empreendimentos que estão recebendo esforços concentrados da companhia ao longo deste ano. São eles a participação na construção das obras da Linha 4 do Metrô carioca, que vai ligar a estação de Ipanema à Barra da Tijuca, o Monotrilho Leste, de São Paulo, a Linha 6 do Metrô de São Paulo, a Via Mangue, uma via expressa de 4,7 quilômetros de extensão em Recife, o VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos) de Santos, um investimento de R$ 1 bilhão do Governo do Estado de São Paulo, que terá 16,6 quilômetros de extensão e beneficiará 70 mil pessoas, o Complexo Petroquímico de Itaboraí (Coperj), no Estado do Rio, e a participação na construção da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Pernambuco, orçada em R$ 17 bilhões.
A atuação consorciada é um dos elementos fundamentais para a realização dos grandes empreendimentos no país. A construção dos 16 quilômetros da Linha 4 do Metrô carioca, que tem custo previsto de R$ 8,5 bilhões e envolve mais de 7,5 mil funcionários entre contratados e subcontratados, reúne dois consórcios, que incluem, além da Queiroz Galvão, as construtoras Odebrecht Infraestrutura, Carioca Engenharia, Coway e Civis. Na área de energia elétrica, a Odebrecht participa de outros quatro empreendimentos consorciados: a construção das usinas hidrelétricas Santo Antônio (RO), Teles Pires (PA-MT), Belo Monte (PA) e Baixo Iguaçu (PR).
No setor de saneamento, duas grandes construtoras, a Andrade Gutierrez e a Camargo Corrêa, executam uma das maiores obras do país – a construção do Sistema Produtor São Lourenço, que vai ampliar a capacidade de produção de água tratada na Região Metropolitana de São Paulo em 4,7 mil litros por segundo.
Trata-se de uma Parceria Público-Privada (PPP), que pretende aumentar em 7% a capacidade atual da rede, beneficiando diretamente 1,5 milhão de moradores de Barueri, na Grande São Paulo. O investimento é de R$ 2,21 bilhões e a previsão é de que o sistema entre em operação daqui a quatro anos, em 2018.
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2014