Coronavírus deve provocar falta de contêineres e afetar exportação

As empresas de navegação e exportadores começam a se preocupar com a provável falta de contêineres no mercado global, devido à crise logística provocada pelo coronavírus. O problema deverá impactar as exportações brasileiras a partir de abril, principalmente nos setores de alimentos e produtos químicos, que precisam de equipamentos refrigerados.

A escassez dos contêineres tem sido provocada pela paralisação das atividades na China após o Ano Novo local, no fim de janeiro. Com terminais portuários fechados e caminhões parados, houve um acúmulo de carga – e, consequentemente, equipamentos – no país.

Hoje, após semanas de incerteza, a operação logística começa a voltar ao normal. No entanto, os principais terminais de contêineres (em Xangai, Xingang, Tanjin e Ningbo) seguem lotados – alguns deles passaram a cobrar “taxas de congestionamento” de clientes com carga refrigerada, tamanha a lotação. Com isso, a liberação dos equipamentos tende a demorar.

Para a Maersk, maior companhia de navegação marítima, a principal preocupação é justamente com os contêineres refrigerados, utilizados, por exemplo, pelos frigoríficos e pela indústria química – dois setores que, no Brasil, têm um volume alto de vendas ao país asiático.

“Muitos dos contêineres não estão sendo descarregados na Ásia e vão demorar para serem reposicionados”, afirma Gustavo Paschoa, diretor comercial da empresa para a Costa Leste da América do Sul.

O impacto para as empresas exportadoras deverá ser sentido a partir do fim deste mês, calculam executivos do setor. Como a viagem entre China e Brasil dura cerca de um mês, há um certo atraso na chegada dos efeitos.

Outro agravante é que a demanda por contêineres refrigerados já costuma ter um aumento no segundo trimestre do ano, devido às safras de frutas no Hemisfério Sul. Com a crise provocada pelo coronavírus, a procura deverá ser ainda mais acirrada, o que tende a elevar preços.

“Abril será um mês de desafios. Estamos colocando esforços para não deixar faltar. É uma preocupação”, afirma Paschoa.

A Hapag-Lloyd também tem estudado formas para evitar a escassez de contêineires, segundo Luigi Ferrini, vice-presidente da empresa de navegação no Brasil. “Não é tão simples remanejar os contêineres da Ásia que estão ficando parados. É possível trazer equipamentos adicionais vazios, mas há um limite”, afirma o executivo da companhia.

O problema não é restrito ao Brasil. Produtores de celulose do Hemisfério Norte (que usam contêineres) também têm relatado falta de equipamentos e, como consequência, aumento nos preços, segundo uma fonte do setor.

No caso de contêineres “dry”, usados para transportar cargas secas, também haverá escassez, mas a solução é mais fácil. Por ser um equipamento mais barato, há um maior estoque global, segundo Leandro Barreto, sócio da consultoria Solve Shipping.

Já o impacto nas importações vindas da China para o Brasil chegará mais rápido. Há cerca de sete semanas, os armadores já têm relatado cancelamentos de viagens e uma maior ociosidade nos navios, devido à paralisação das atividades na China.

O resultado deverá ser uma retração de 35% a 40% no volume de carga importada por via marítima, em um cenário otimista, avalia Barreto. O efeito dessa queda passará a ser percebido nos portos brasileiros a partir de agora. Ontem, atracou no Brasil a primeira embarcação saída da China desde o início da crise.

Diversos fabricantes já têm sofrido com a falta de peças importadas da China porque uma parcela dos produtos chega por via aérea, onde a queda na movimentação foi de 25% em fevereiro, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em relação a janeiro, a redução foi de 50%, aponta a Solve Shipping.

A boa notícia é que a situação já tem voltado à normalidade no país asiático. As fábricas chegaram a 80% de sua operação regular nesta semana, segundo o relatório da Maersk. Já a movimentação de ferrovias e caminhões está em 60% do habitual.

A expectativa é que, na próxima semana, as atividades já estejam praticamente regulares, segundo Ferrini, da Hapag-Lloyd.

“Na semana passada ainda havia muito receio, mas a capacidade de reação da China tem sido rápida. Desde a última quinta-feira houve um ponto de inflexão que trouxe alívio”, diz Barreto.

Nesta semana, ainda há cancelamentos de viagens. Dois dos quatro navios que costumam sair semanalmente da China rumo ao Brasil não virão. Na próxima semana, há um cancelamento, o último programado pelos armadores. Depois, a vinda de navios deverá voltar ao normal.

Para a Maersk, a crise do coronavírus não deverá impactar o resultado final da movimentação de contêineres no Brasil. Em seu relatório trimestral, divulgado ontem, a companhia manteve, ao menos por enquanto, sua previsão de crescimento de 3,8% para o mercado. “Até agora, não tivemos uma ruptura”, afirma o diretor do grupo.

Fonte: Valor.globo.com

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