A Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) reuniu nesta terça-feira (19/10) representantes das principais empresas que atuam na cidade e entidades setoriais no seminário Colapso da Mobilidade Urbana: Causas, Efeitos e Soluções, que discutiu a maior crise de mobilidade urbana do Rio nos últimos 50 anos. O evento foi organizado pelos Presidentes dos Conselhos Empresariais da ACRJ de Competitividade e Ambiente de Negócios, Irini Tsouroutsoglou, e de Logística e Transporte, Delmo Pinho.
No evento ficou decidido que será iniciado um movimento conjunto do setor, que resultará em um documento oficial a ser encaminhado pela ACRJ às autoridades do Executivo e do Legislativo estadual e municipal, listando causas e efeitos do atual panorama de degradação dos sistemas e seus reflexos no cotidiano dos passageiros. O movimento contará com lideranças das concessionárias de transportes públicos do Rio de Janeiro e instituições do setor.
A Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos) participou do seminário e sua Diretora-Executiva, Roberta Marchesi, explicou que houve uma retração de demanda de mais de 50% nos últimos dois anos em relação a 2019. “Menos 57% de demanda de março a dezembro de 2020 e menos 51% de janeiro a setembro de 2021. A pandemia trouxe alterações econômicas e sociais permanentes, que estão alterando padrões de comportamento social, com impactos, dentre outros, sobre a mobilidade urbana”, declarou.
Ela ressaltou que “é fundamental preparar a mobilidade para essa nova realidade, robustecendo o seu arcabouço jurídico e regulatório e impondo maior eficiência, integração e tecnologia de todos os seus atores”. Enfatizou ainda que são necessárias medidas imediatas, como o reequilíbrio dos contratos de concessão e subsídio governamental visando a modicidade tarifária, e de curto prazo, como atualização do atual modelo dos contratos de concessão e a aprovação do projeto de lei federal para o transporte público, que atualiza o marco legal com as diretrizes nacionais para o transporte coletivo urbano e de caráter urbano de passageiros.
Delmo Pinho, Presidente do Conselho de Logística e Transporte da ACRJ, avaliou que o problema da mobilidade urbana não se restringe ao Rio de Janeiro, que é um problema mundial, e explicou que é “muito provável que haja perda permanente de 20% da demanda”. Ele defendeu a ação e atuação conjunta das entidades e dos órgãos públicos para que se tenha projetos de grande viabilidade e durabilidade.
A Presidente do Conselho de Competitividade e Ambiente de Negócios da Associação lembrou a importância da bilhetagem eletrônica para a mobilidade urbana. “A bilhetagem eletrônica é uma ferramenta fundamental, uma política social para uma integração ampla, envolvendo todos os municípios da Região Metropolitana, auxiliando a mobilidade urbana, compreendendo todos os modais”, afirmou Irini Tsouroutsoglou.
A Subsecretária de Mobilidade e Integração Modal do Estado do Rio de Janeiro, Paula Azem, informou que, apesar da flexibilização e do avanço da vacinação, não houve a retomada da demanda de passageiros pré-pandemia em função, entre outras questões, do home office, não retorno total das aulas presenciais e também por causa do número de desempregados. “Hoje, a queda é de 50% no metrô, 45% nos trens, 70% nas barcas e 25% nos ônibus intermunicipais”, destacou.
Para a Secretária Municipal de Transportes do Rio de Janeiro, Maína Celidonio, já existia uma queda de demanda antes da Covid-19. Ela reforçou que o setor é um serviço essencial. “E se visto como essencial é preciso que o setor público tenha capacidade de garantir a continuidade e a correta prestação desse serviço. Achamos que como o sistema, o contrato, está estruturado, hoje, não garante ao setor público o controle e nem a tranquilidade em relação a isso”, destacou.
Segundo ela, essa falta de controle não vem de um esforço e da vontade do setor público, mas sim de um ambiente de pouca transparência, baixa capacidade de fiscalizar, de auditar as contas. O que o município persegue é sanar a questão da transparência com a licitação da nova bilhetagem.
“A crise sem precedentes do transporte coletivo demanda ações urgentes e imediatas. Subsidiar a passagem do trabalhador é política pública de primeira necessidade nesse momento de retomada”, defendeu o Presidente do MetrôRio, Guilherme Ramalho. Ele explicou que o metrô continua com queda de 50% de passageiros em relação ao ano passado e que manteve suas operações, garantindo o transporte das pessoas que precisam usar o sistema. Ele explicou ainda a empresa já tomou todas as medidas possíveis diante do impacto da pandemia, como redução de custos e renegociação de dívidas, e que os demais setores afetados pela crise já tiveram alguma medida célere diante da situação, com exceção da mobilidade urbana.
Marcelo Feitoza, Diretor da SuperVia, disse que são necessárias ações emergenciais e que os recursos e ativos sejam usados de maneira inteligente. “Que gere riqueza e faça o Rio de Janeiro voltar a crescer. Não dá para imaginar como se usa mal o modelo ferroviário, que alimenta os outros modais”, reafirmou. Para ele não existe uma política integrada desse serviço e frisou que a SuperVia está disposta a discutir essas questões mais profundamente.
O Presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes (NTU), Otávio Cunha, falou sobre a importância do debate nesse momento difícil e a necessidade de reestruturação do setor de transporte público, que está sendo debatida em conjunto com a ANPTrilhos.
O Diretor da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista, apresentou uma pesquisa feira pela instituição, destacou que houve uma redução de 35,6% de passageiros pagantes e defendeu uma série de ações. “Implantação de redes modernas, integradas, multimodais, racionais e de alto desempenho, sendo mais flexível para os usuários em relação ao acesso, utilização e pagamento”, frisou, entre outras iniciativas.
O seminário, ainda, contou a participação do Presidente da ACRJ, José Antonio do Nascimento Brito; do Presidente da Fetranscarga, Eduardo Rebuzzi; do Presidente do Rio Ônibus , João Gouveia; do Presidente da CCR Barcas, João Daniel Marques da Silva; do Presidente da Fetranspor, Armando Guerra; do Professor da Universidade de São Paulo (USP), Francisco Satiro; e do advogado e sócio do Mubarak Advogados, Elias Mubarak.
Fonte: Diário do Rio de Janeiro, 21/10/2021