Datas como o Dia Mundial sem Carro e a Semana da Mobilidade são momentos para fomentar a continuidade da mobilização sobre o tema
Muito se tem discutido para tentar entender as manifestações iniciadas em junho deste ano, assim como seus desdobramentos. Mas é quase consenso que elas só atingiram seu ápice naquele período porque tinham a bandeira da mobilidade urbana como um elemento agregador muito forte: ninguém aguenta mais a dificuldade de ir e vir nas grandes cidades. Datas como o Dia Mundial sem Carro e a Semana da Mobilidade – que começou ontem – são momentos propícios para fomentar a continuidade da mobilização sobre este tema. Há exatamente um ano, a Rede Nossa São Paulo lançou uma pesquisa que mostrava que 20% da população da cidade de São Paulo gastava mais de duas horas para deslocar-se diariamente, e metade da população gastava entre uma e duas horas. Este tempo, perdido dentro do carro ou em transportes públicos superlotados e insuficientes, muitas vezes significa quase todo o tempo livre das pessoas. Soma-se a isso a má qualidade do ar e o grande número de acidentes de trânsito, que retiram energia das pessoas e conduzem a um estresse crescente, é quase natural que uma situação como essa gere protestos com grande adesão.
A primeira exigência feita ao poder público durante as manifestações foi a redução das tarifas do transporte público. Sem dúvida, uma questão importante: o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que as famílias brasileiras que compõem os 10% mais pobres gastam 13,5% de sua renda com o transporte público. E 30% dessas famílias nem chegam a usar transporte público por falta de dinheiro.
Mas o custo das passagens é apenas um dos aspectos do transporte público. É preciso considerar também:
1) As questões urbanísticas, como a necessidade de adensar os centros das cidades, verticalizandoos, e de combinar locais de moradia e trabalho. Em grandes metrópoles, ainda seria necessário estimular a criação de polos de trabalho fora das regiões centrais, de modo a reduzir o deslocamento das pessoas; 2) Questões empregatícias, tais como aprimorar a legislação para incentivar o uso do home office e das jornadas flexíveis de trabalho, evitando deslocamentos que não são estritamente necessários ou permitindo os deslocamentos fora do horário de pico; 3) Questões de infraestrutura viária, visando valorizar opções de curto prazo que viabilizem o transporte não apenas de grupos de pessoas, mas de grandes massas, combinando-as com meios de transporte coletivo mais eficientes.
Tomo como exemplo duas ações adotadas recentemente pela Prefeitura de São Paulo em resposta às manifestações. A primeira foi a formação do Conselho Municipal de Trânsito e Transporte, que busca permitir um diálogo mais constante com a população e com especialistas para a criação de soluções. A segunda foi a criação dos novos corredores e faixas exclusivas de ônibus que têm o mérito de, como solução de transição, provocar a população para privilegiar a escolha do transporte coletivo. É animador perceber que essa mudança de cultura já começou. Pesquisa divulgada pelo Akatu em abril mostrou que o índice médio de preferência dos brasileiros por uma mobilidade eficiente, segura e rápida foi de 7,9, contra 4,9 da opção de ter a propriedade de um carro, numa escala de zero a dez. E a preferência se dá tanto entre os que usam carro todos os dias como entre os que não o fazem, mostrando que a população menos favorecida também prefere a mobilidade à posse do automóvel.
O caminho pode se tornar menos árduo se for inspirado em experiências bem-sucedidas em outros lugares do mundo. Por que não criar incentivos ao carro compartilhado? Ou criar sistemas que articulam trocas de emprego, para que as pessoas encontrem oportunidades mais próximas de suas casas? Ou criar instâncias de governo para discutir a gestão do tempo de sua população e elaborar políticas públicas para a redução do seu desperdício em atividades que não sejam nem produtivas nem prazerosas? Assim, o poder público estaria incentivando não só um consumo mais consciente do transporte, mas principalmente da cidade em que vivemos e de nosso tempo.
Autor: Helio Mattar – Ph.D em engenharia industrial, é diretor-presidente do Instituto Akatu
Fonte: O Globo – Amanhã, 17/09/2013
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