Relatório detalha situação de trens parados na oficina da estação de Deodoro
Atrasos e intervalos irregulares. Um cenário conhecido por quem utiliza diariamente os trens da SuperVia, mas que poderia ser diferente caso composições atualmente inoperantes voltassem a circular. Um relatório do Governo do Estado apontou que apenas na oficina e no pátio da estação de Deodoro, na Zona Oeste, há 20 trens parados. Um deles não atende passageiros desde 2017.
O levantamento da Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística, a Central Logística, lista entre os motivos para a retirada de operação acidentes, furtos de materiais, vandalismo e até mesmo alagamentos na linha férrea. O documento foi obtido pela reportagem da BandNews FM.
Os trens pertencem ao Governo do Estado e são de diferentes modelos: chineses, coreanos e fabricados pela empresa Alstom. A vistoria foi realizada no fim de março e o estudo elaborado no início de abril.
O documento traz fotos e detalhes de cada um dos carros. Nas imagens anexadas é possível que nos casos de alagamentos, a água chegou a atingir peças como caixas do indutor e disjuntores. Em outras, são listados os furtos de conjuntos de cabos de alta tesão e até mesmo de tubulações pneumáticas.
Segundo o relatório, 13 dessas composições vêm sendo indevidamente utilizadas como uma espécie de “almoxarifado”, fornecendo peças e equipamentos para o restante da frota operacional.
Na análise da Superintendência de Material Rodante da Central, a situação provoca uma redução significativa na oferta de transporte para a população.
Para o diretor da FGV Transportes, Marcus Quintella, a SuperVia deve fornecer respostas.
Entre os trens parados e que foram analisados estão os que colidiram na estação de São Cristóvão, na Zona Norte, em fevereiro de 2019. Na ocasião, um maquinista acabou morrendo depois de ficar cerca de oito horas preso às ferragens.
A vistoria também chamou a atenção para outras 7 composições que foram retiradas de circulação em 2022. Um deles é um trem que se envolveu em uma batida com um veículo de manutenção, também em São Cristóvão.
De acordo com a Central Logística, existe a possibilidade dessas composições sofrerem o mesmo grau de sucateamento, o que agravaria ainda mais o quadro já preocupante de inutilização da frota.
Para a coordenadora do projeto Observatório dos Trens, Rafaela Albergaria, o cenário impacta principalmente moradores de regiões que já sofrem com problemas de transporte e infraestrutura.
No documento, o técnico em manutenção Ricardo Heinz Herz ressalta que não existe previsão de recuperação, por parte da Supervia, dos trens que sofreram alagamento.
O relatório concluiu que foi constatado o péssimo estado de conservação de ativos adquiridos pelo Estado. Por conta disso, o diretor-presidente da Central Logística, Fabrício Abílio Duarte de Moura, enviou uma carta ao presidente da SuperVia, Antonio Carlos Sanches, pedindo a formulação de um plano de ação para os trens imobilizados indevidamente, com o objetivo de interromper a degradação da frota.
A reportagem da BandNews FM procurou a concessionária, que até o momento não se manifestou. A Agetransp, por sua vez, informou não teve acesso ao documento, mas argumentou que faz um acompanhamento sobre o controle da frota de trens da Supervia.
Em nota, a Secretaria de Estado de Transportes, por meio da Central Logística, confirmou que cobrou da SuperVia, por meio de ofício, esclarecimentos e providências sobre os problemas encontrados. O órgão disse ainda que o Governo do Estado faz fiscalizações e cobranças constantes à concessionária.
O comunicado também menciona que está sendo elaborado o 13º Termo Aditivo do contrato, que vai estabelecer novas obrigações e medidas a serem adotadas para o efetivo aperfeiçoamento dos serviços prestados pela operadora.
Fonte: BandNews FM, 11/04/2023