Ainda aguardando novas composições, trens do Metrô Rio e da Supervia e embarcações das Barcas S. A. continuam em circulação mesmo depois de ultrapassados seus prazos de vida útil.
RIO – De tão desgastado, um trem que circulava no trecho entre Saracuruna e Guapimirim, na manhã de quinta-feira, sequer fechava algumas das portas. Apesar do prazo de validade vencido – tem cerca de 50 anos -, ele e outros 48 veículos da mesma idade, todos de aço-carbono, ainda trafegam em ramais da SuperVia e representam quase um terço da frota da empresa. Pelos padrões internacionais, a vida útil de um trem oscila entre 25 e 30 anos. E os 32 do metrô do Rio também ultrapassaram essa barreira: todos foram comprados pelo estado em 1978.
– À medida que o tempo vai passando, fica cada vez mais caro fazer a manutenção de um trem, e isso tem reflexos na tarifa – observa o engenheiro Fernando Mac Dowell, especialista em transportes e ex-presidente do metrô. – No caso dos de aço-carbono, acho complicado serem aproveitados. Os outros podem ser modernizados. Essa modernização, porém, tem que ser generalizada, atingindo todo o sistema de operação.
A SuperVia tem 160 composições, sendo que 20 delas ficam normalmente em manutenção. Além das 49 de aço-carbono, a frota conta com 91 de aço inox (18 com ar-condicionado), com cerca de 30 anos, e 20 coreanas (também refrigeradas), adquiridas em 2007.
O processo de aposentadoria das composições de aço-carbono deve ser deflagrado este ano, com a entrada em operação do primeiro novo trem de um pacote de 124, informa a Secretaria estadual de Transportes. Segundo o presidente da SuperVia, Carlos José Cunha, à medida que as composições forem chegando, as mais antigas serão substituídas. Das 124, o governo estadual adquiriu 34, que estão sendo fabricadas na China. Outras 60 serão licitadas pelo estado este ano. Os 30 trens restantes serão comprados pela SuperVia: a concessionária tem até 2020 para adquirir os veículos, conforme previsto em contrato, mas pretende antecipar o cronograma.
– A idade média de nossa frota é de 35 anos. Apesar de muita manutenção, não conseguimos uma performance de qualidade – diz Cunha. – Mas os novos trens e a colocação de ar-condicionado em 73 composições vai permitir que cheguemos em 2014 com um frota toda com ar e idade media de 16 anos. A partir daí, a gente espera oferecer um serviço de boa qualidade, com conforto e segurança.
Metrô: superlotação provocaria danos
Entre os usuários, uma das principais queixas é quanto aos enguiços de trens. O porteiro José da Silva Soares, de 25 anos, que mora em Saracuruna, Caxias, e trabalha no Rio, já passou por maus momentos:
– O trem parou comigo três vezes em um ano. O jeito é descer e sair andando pela linha férrea até a próxima estação.
Também morador da Baixada, Flávio Pacheco de Oliveira, que usa cadeira de rodas, pega diariamente o trem até a Central. Sua principal queixa é quanto à acessibilidade, porque as composições antigas ficam desniveladas em relação à plataforma.
– Preciso de ajuda para colocar e tirar a cadeira de rodas do trem – diz o vendedor Flávio, de 22 anos.
Os 32 trens do metrô são formados por 182 carros – 36 entregues pelo estado em 1998, mas, como faziam parte do mesmo contrato dos demais, têm a tecnologia da década de 70.
– Temos o maior índice do mundo de utilização da frota no horário de pico: quase 100%. O investimento feito pela concessionária Metrô Rio em manutenção é crescente. No último ano, chegou a mais de R$ 31 milhões – afirma Rosa Cassar, gerente de Relações Institucionais e Governamentais da empresa.
Para Mac Dowell, a superlotação tem causado danos aos vagões do metrô:
– Ao colocar oito pessoas por metro quadrado nos vagões, a estrutura pode abaular e as portas começam a não fechar direito. O trem sente muito. Os vagões foram projetados para até oito pessoas por metro quadrado como carga. É um cálculo de segurança e não para uso permanente.
Como a da SuperVia, a frota do metrô também deve ganhar trens (19 com 114 carros). A previsão é que o primeiro chegue em dezembro e os demais, em 2012. Os investimentos estão sendo feitos pela Metrô Rio como contrapartida à ampliação do contrato de concessão.
Fonte: O Globo, 18/06/2011