Caos do sistema pode ser evitado com investimento pesado em transporte de massa
Desatar o nó do trânsito é um dos desafios que o Rio de Janeiro terá que enfrentar antes da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016. Um estudo da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) mostra a dimensão das perdas provocadas pelos congestionamentos na capital. Segundo o levantamento, o prejuízo decorrente do trânsito chegará a R$ 34 bilhões em 2016 – o valor representa quase 25% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas na cidade) previsto para o ano dos jogos olímpicos.
Para chegar a esse prejuízo, o estudo considerou uma série de problemas decorrentes dos congestionamentos, sobretudo, danos com o desgaste dos veículos, a queima de combustíveis e a perda de produção devido às horas paradas.
Cristiano Prado, gerente de competitividade industrial e investimentos da Firjan, explica que esses fatores têm forte impacto nos gastos com serviços médico-hospitalares em razão da poluição, danos a cargas e propriedades e custos relativos à administração de seguros. Ele defende uma solução unânime entre os consultores de trânsito: a adoção do transporte público de qualidade.
– É preciso incentivar a integração entre os diversos modais para que as pessoas deixem seus carros em casa e utilizem os sistemas de locomoção em massa. Do contrário, os gastos com combustível, com os veículos, com as perdas em tempo de trabalho e serviços ligados a operação e administração da rede de transporte da cidade só vão aumentar.
Os autores do estudo explicam que não é possível destacar qual o prejuízo decorrente de cada fator considerado, pois uma complexa equação foi usada para mensurar o prejuízo causado pelo trânsito. A entidade diz que 16 itens foram considerados nessa projeção, entre eles, perda de produção, danos a veículos, tempo perdido em congestionamentos, custos com resgate de vítimas, serviços de remoção de veículos, danos a equipamentos urbanos e a sinalização de trânsito
Segundo a Firjan, o maior peso dessa conta fica com os custos de produção. Por exemplo, quando um caminhão com carga fica preso em um engarrafamento, ele gasta mais combustível (poluindo mais) e cumpre menos ciclos de entrega. Esse processo obriga a empresa a colocar mais caminhões nas ruas. Resultado: aumenta-se a frota, os gastos com combustível e a manutenção com os veículos.
Dependendo da carga que está sendo levada, o produto pode estragar, causando prejuízo à empresa e também ao consumidor, pois esses custos são repassados aos produtos que chegam às prateleiras. O estudo da Firjan demonstra como o trânsito pode “trabalhar contra” a economia.
Transporte de massa x política
Sérgio Ejzenberg, engenheiro e mestre em transportes pela USP (Universidade de São Paulo), faz coro à proposta de Cristiano Prado: a fim de reduzir tamanhas perdas e criar condições para que a população se desloque de forma mais eficiente é preciso investimento em transporte de massa, com conexões entre os diferentes meios.
– A única solução possível para resolver o problema como ele já se apresenta é o transporte de massa. É possível e ?economicamente e ecologicamente viável.
No Rio, a combinação alta densidade populacional, taxa crescente de veículos – na ordem de 4% ao ano -, concentração da malha de serviços no transporte rodoviário e baixa cobertura do metrô e do trem colaboram para que os congestionamentos cresçam ano a ano.
O tamanho da população carioca, aponta Alexandre Rojas, engenheiro de transportes da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), reflete diretamente na necessidade de o governo planejar um sistema de transporte de massa que seja, de fato, interligado.
– É preciso que realmente tenha um planejamento e que as medidas implantadas sejam de longo prazo, e não apenas políticas.
A Firjan estima que, se mantida a evolução do cenário apresentado no Plano Diretor de Transportes Urbanos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, os engarrafamentos cheguem a 154 km em 2016.
Metrô carioca
A rede de metrô e trem na capital fluminense é tão concentrada que, segundo o Plano Diretor de Transporte Urbano do Rio de Janeiro, menos de 7% da população utiliza esses meios de transporte diariamente. Para aumentar o uso do sistema com vistas à Olimpíada, está em construção a linha 4 do metrô, que ligará a zona sul à Barra da Tijuca (zona oeste).
Apesar de a rede estar crescendo, segundo Paulo Cezar Ribeiro Martins, engenheiro de transportes da Coppe/UFRJ (Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), o sistema continua concentrado.
– Quando analisamos o traçado da nova linha, a proposta que está sendo colocada no final é ter uma grande linha única, que sai da Barra até a Pavuna. Isso é uma coisa muito perigosa, porque qualquer problema em um trecho pode afetar o sistema todo.
O secretário de Transportes, Júlio Lopes, reitera que os projetos foram concebidos pensando em melhorar as condições da população, principalmente as das áreas mais afastadas.
– O sistema de transporte do Rio será completamente novo. Haverá integração entre o metrô, o trem e os sistemas BRTs [corredores de ônibus]. A população da zona norte vai ser contemplada com a integração dos modais, o que vai diminuir o tempo de duração das viagens entre bairros da zona norte à Barra da Tijuca.
Fonte:Portal R7, 05/09/2011