Seminário discute Bondes de Santa Teresa
Por Antônio Pastori, Presidente da AFPF – Assoc. Fluminense de Preservação Ferroviária
Dia 26 de setembro, aconteceu um Seminário Técnico sobre os Bondes de Sta. Teresa, promovido pela AMAST – Ass. dos Moradores e Amigos de Sta. Teresa.
Após mais de três horas de discussão e debates acirrados, para mim ficou extremamente claro que:
A Engenharia nacional tem total condições de tratar do problema, sem haver necessidade de consultar os engenheiros portugueses, sem nenhum demérito; vários depoimentos relataram problemas de engenharia ferroviária – insolúveis aos ohos dos técnicos no exterior – que foram aqui resolvidos satisfatoriamente.
Deve ser criada uma Comissão para acompanhar a “intervenção” e apresentar soluções tipo, “Qual o melhor modelo gerencial: uma Fundação, OSCIP ou deve continuar sobre o instável guarda-chuva do Estado?”
Deverá ser oferecida denúncia ao Ministério Público para intimar os verdadeiros responsáveis que foram omissos na questão da manutenção.
Deverá ser elaborada uma Carta, Manifesto, Abaixo Assinado ou algo semelhante, expondo os problemas, apontando soluções para o Sistema de Bondes e pedindo apoio popular.
Deverá ser convocada uma nova Audiência Pública; a anterior “não valeu”, pois já estava marcada há dias (era para para tratar da morte daquele turista francês que caiu dos Arcos da Lapa) e, portanto, o Secretário de Transportes Júlio Lopes não havia sido convocado.
Por fim, recomendo a leitura das matérias abaixo.
Antonio Pastori – Presidente da AFPF
O bonde como resposta a crise de mobilidade
Notícia publicada no jornal O Dia dando que “bondes portugueses são aprovados para Santa Teresa” pode parecer somente um alento para os apaixonados por um dos bairro mais charmosos do Brasil e por um modo de vida mais humano, mas é muito mais.
Os bondes quando apareceram representavam o mais moderno transporte mundial e ajudaram a construir e a formatar as Cidades Modernas. No Brasil eles chegaram cedo, no Rio de Janeiro foi antes de toda a Europa, a excessão da França, e o primeiro de MInas começou a operar em Juiz de Fora em 1871. A tecnologia era tão moderna que a implantação se dava através de precoces PPPs, mas quando acabava o dinheiro sobrava para o Poder Público Municipal a responsabilidade de manter os bondes. O declínio dos bondes na América Latina coincide com o crescimento do transporte individual nos EUA, uma vez que a retirada de circulação dos bondes de lá implicou na falta de peças de reposição para boa parte dos sistemas latino-americanos. Mas será que esse seria um motivo suficiente?
Das centenas de sistemas de bonde de passageiros funcionando no pós-guerra, apenas a linha de Santa Teresa continuou a funcionar e sob a responsabilidade do poder público, assim como a Carris de Portugal. Como toda a Europa também Portugal está sistematicamente investindo no retorno dos bondes. E esse retorno dos bondes modernos, hoje conhecidos como Veículos Leve sobre Trilhos (VLT), é uma resposta a crise da mobilidade ocasionada pelo excesso de carros e marca o fim do Império dos Automóveis que terão agora de aprender a conviver com reserva de espaço para o transporte público e com níveis crescentes de restrição de tráfego.
Importante lembrar o documentário Taken for a Ride (96) que mostra a grande indústria norte-americana de automóveis, de pneus e de petróleo como responsáveis pelo fim dos bondes nos EUA colocando os interesses financeiros acima do interesse dos próprios cidadãos americanos. Quem sabe o retorno dos bondes não possa significar o fim de outros impérios?
Uma equipe da Comissão Interventora da Central, empresa que administra o bonde de Santa Teresa, voltou este fim de semana de Portugal entusiasmada com as instalações da Carris, que opera os bondes de Lisboa. O grupo deve apresentar amanhã ou depois a decisão sobre a contratação da consultoria da firma portuguesa para melhorar a gestão e a operação dos bondes cariocas.
Os interventores constataram que é possível a substituição do sistema de contratrilhos, usados em Santa Teresa, por bilabiados, que são utilizados em Lisboa e reduzem riscos de acidentes em terrenos irregulares. “Os técnicos brasileiros já apontavam os bilabiados como mais seguros mas, vendo os bondes rodarem sobre os mesmos, pode-se ter a real ideia da confiabilidade e segurança proporcionadas por esse tipo de equipamento”, disse Rogério Onofre, presidente do Detro, que comanda a intervenção.
Caso o contrato com a Carris seja fechado, os portugueses já chegam ao Rio na primeira semana de outubro para prestarem consultoria.
Nelson Dantas Filho
ONGtrem – transporte e ecologia em movimento