O Brasil poderia economizar até R$ 90 bilhões por ano em custos logísticos se reduzisse pela metade a utilização do transporte rodoviário e dobrasse a utilização das ferrovias. Hoje, o modal rodoviário corresponde a 65,6% da matriz de transporte do país, enquanto o ferroviário responde por 19,49%.
A razão é o alto custo médio do transporte por estradas. Enquanto o valor para transportar uma tonelada de carga por mil quilômetros em uma rodovia é de US$ 123, o preço médio para o transporte da mesma carga pela mesma distância por uma ferrovia é de US$ 22 – quase seis vezes menos.
“As rodovias acabam cumprin-do um papel que não era exatamente o delas. Esta não é a maneira nem mais barata e nem mais inteligente de se transportar os produtos de um país”, explica o diretor de Capacitação do Instituto de Logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ilos), Maurício Lima.
Segundo levantamento realizado pelo instituto, no Brasil os custos logísticos representam 10,6% do produto interno bruto (PIB). Para efeito de comparação, nos Estados Unidos a relação é de 7,7%. Embora no Brasil o percentual ainda seja alto, ele vem caindo nos últimos oito anos. Em 2004, os custos logísticos representavam 12,1% do PIB e, em 2006, o percentual caiu para 11,5%.
“Significa dizer que houve melhora, mas por razões conjunturais e não estruturais”, alerta Lima. Segundo ele, essa queda se deveu a um crescimento da economia proporcionalmente maior do que o crescimento dos custos. O resultado disso foi um “estrangulamento ainda maior do modelo de infraestrutura brasileiro”, centralizado no transporte por rodovias.
O resultado desse cenário é a perda de competitividade dos produtos brasileiros, que enfrentam obstáculos internos para um aumento de produtividade. O problema não é apenas o alto custo do transporte rodoviário. Nos Estados Unidos, o preço médio para o transporte rodoviário é, inclusive, maior que o nosso (US$ 123 nosso contra US$ 282 deles). A diferença é que esse tipo de transporte lá corresponde a apenas 28,5%, enquanto as ferrovias são o maior meio de transporte, com 38%. “O problema no Brasil é o modelo”, resume Lima.
Frete – Os agricultores brasileiros gastam de quatro a cinco vezes mais do que argentinos e norte-americanos para transportar seu produto do campo para o porto. A comparação com os Estados Unidos é pertinente porque, assim com o Brasil, eles são um país de dimensões continentais.
“Existe uma série de fatores que contribui para a elevação dos custos do transporte rodoviário como a questão tributária, a necessidade de manutenção constante dos caminhões e o gasto com segurança para evitar roubo de cargas”, elenca o consultor técnico do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de Minas Gerais (Setcemg), Luciano Medrado. “É fácil resumir a questão da seguinte forma. O Brasil é o sétima em economia, mas é o 37º no ranking de infraestrutura”.
Estudo aponta peso do transporte – O economista principal do setor de Integração e Comércio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Maurício Mesquita Moreira, aponta uma inversão de prioridades na política econômica e industrial brasileira. “É inegável que estamos tendo avanços de infraestrutura, mas investimentos logísticos são mais importantes do que guerras tarifárias e proteção ao mercado”, diz.
Ele é autor de um estudo, publicado em 2008, chamado “Desobstruindo as Artérias – O Impacto dos Custos de Transporte sobre o Comércio Exterior da América Latina e Caribe”. À época, o estudo levantou dados interessantes. Segundo o texto, se o custo do transporte diminuísse 10% no Brasil, as exportações para os Estados Unidos aumentariam 43%. Apesar do material ter sido produzido em 2008, Moreira acha que as conclusões ainda são válidas. “Esse cenário só muda com reformas estruturais, que são mais lentas”.
Fonte: O Tempo – MG, 09/04/2012