Pelo menos no que diz respeito à PUC-Rio, não existe mais empecilho para que seja levado adiante o projeto de implantação da Estação Gávea da Linha 4 do metrô (Barra-Zona Sul), em área ocupada por parte do estacionamento de alunos e professores e pelo Instituto Gênesis.
Estado e universidade chegaram a um acordo que prevê a transferência provisória de 280 das 1.050 vagas para um terreno de dez mil metros quadrados na Rua Marquês de São Vicente — a ser desapropriado ou arrendado — e a construção, pelo governo, de um prédio de quatro andares para abrigar a encubadora de empresas da PUC. O entendimento foi noticiado pelo boletim informativo da universidade.
O impasse, no entanto, ainda está longe do fim. Temerosos de impactos no trânsito, dirigentes das associações de moradores do Alto Gávea e do Leblon estão iniciando um movimento contra a transformação do terreno (ao lado do número 94 da Marquês de São Vicente e próximo à Rua Embaixador Carlos Taylor), que pertence ao Supermercado Mundial, em estacionamento. Já o secretário estadual da Casa Civil, Regis Fichtner, espera que as obras da estação possam começar entre 30 e 60 dias, estendendo-se até 2015. Ainda segundo ele, o uso do terreno da Marquês de São Vicente será por tempo determinado. Ou seja, pelo período necessário de interdição de parte do estacionamento, estimado em dez meses.
– O que acertamos é que nos avisem com antecedência sobre a data de início das obras. Também só vamos entregar o Instituto Gênesis para ser demolido depois de o novo edifício ficar pronto — diz o vice-reitor de Desenvolvimento da PUC, Sergio Bruni, acrescentando que, embora estejam dentro dos muros da universidade, as vagas atuais ficam fora do campus, numa área da Cehab que foi arrendada.
Linhas de ônibus deixarão terminal
A implantação do canteiro de obras na Gávea, explica Fichtner, depende da concessão da licença definitiva das obras, pela Comissão Estadual de Controle Ambiental (Ceca). A licença prévia de instalação foi dada este mês para o trecho sul da Linha 4 (da Gávea à Praça General Osório, em Ipanema). Uma das exigências, incluídas no parecer da Ceca, é que a Estação Gávea tenha dois níveis subterrâneos. O chefe da Casa Civil, no entanto, quer demonstrar à comissão que o projeto de construir um nível é mais adequado:
– Em dois níveis, a estação vai custar mais. Além disso, o solo do local não é bom.
Com o início da construção da estação, acrescenta Fichtner, para acessar as atuais vagas dentro da PUC será preciso dar a volta no canteiro de obras. O secretário informa ainda que duas das quatro linhas de ônibus que hoje fazem ponto final no terminal da Gávea serão remanejadas. A alteração está sendo projetada em comum acordo com a Secretaria municipal de Transportes.
O terreno do Mundial chegou a ser declarado de utilidade pública para fins de desapropriação em 2001, pelo então prefeito Luiz Paulo Conde. O prefeito Eduardo Paes, porém, revogou o decreto, argumentando que o temor de moradores não tinha sentido, uma vez que teria de ser cumprida a legislação urbanística da área, que impede a construção de um grande supermercado no local.
– É possível erguer ali dois prédios de sete andares. Eles não acarretariam o impacto viário de um estacionamento. É preciso considerar ainda o absurdo que é gastar dinheiro público para beneficiar estudantes de uma universidade de elite, que podem usar o transporte coletivo. Dizem que o estacionamento será provisório. Podemos acreditar? Se querem criar um estacionamento na área, que façam uma garagem subterrânea na Praça Santos Dumont, para atender a todos — diz o diretor de Urbanismo da Associação de Moradores do Alto Gávea, Luiz Fernando Penna.
A presidente da Associação de Moradores do Leblon, Evelyn Rosenzweig, também reclama:
– Os carros que hoje entram pela Avenida Padre Leonel Franca vão passar a usar a Marquês de São Vicente. Quando se cria uma garagem, se induz o fluxo de carros. Os alunos e professores podem se adaptar a meios menos poluentes de transporte.
Entre os que criticam o uso do terreno do Mundial como estacionamento da PUC está a vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB), moradora do Alto Gávea:
– Teremos um engarrafamento monstro na Marquês de São Vicente. O estado também vai gastar muito dinheiro para desapropriar aquele terreno (a avaliação está sendo feita pelo governo). Moradora do Alto Gávea há 25 anos, a designer Heloisa Ignez Ortega Schmitt pensa diferente. Argumenta que é melhor criar um estacionamento do que correr o risco de não ter uma estação do metrô na Gávea.
– O trânsito da Marquês de São Vicente é intenso, porque a rua é cheia de escolas. Além do mais, cada um tem de ceder um pouco. É preciso escolher o que é menos ruim para os moradores.
Presidente da Associação de Moradores da Gávea, Maria Amélia Crespo teme pelo impacto viário, mas prefere esperar antes de se posicionar sobre o estacionamento:
– Primeiro quero ver o projeto. Depois, vamos convocar os moradores da Gávea para discuti-lo. O que não podemos é, simplesmente, sermos contra o progresso.
Com 16 quilômetros de extensão, a Linha 4 começou a ser construída em 2010, pelo trecho oeste. Estão sendo executadas três frentes de serviço: emboque Barra, com a escavação dos túneis sentido São Conrado e Jardim Oceânico; Estação Jardim Oceânico, na Avenida Armando Lombardi; e Estação São Conrado, próximo à Rocinha, com a escavação dos túneis sentido Barra.
Já o governo federal anunciou a liberação dos recursos para a implantação da Linha 3 do metrô, que ligará Niterói a São Gonçalo. Os investimentos públicos totalizam R$ 1,734 bilhão: R$ 500 milhões do Orçamento Geral da União; R$ 774 milhões do BNDES; R$ 200 milhões de financiamento do Banco do Brasil; e R$ 260 milhões de compensação ambiental. O secretário estadual de Obras, Hudson Braga, acredita que em um mês seja lançada a modelagem do edital para da Linha 3, definindo as regras que a parceria público-privada (PPP) terá que seguir. O edital deverá ser lançado em outubro. A previsão do governo é que em janeiro de 2013 as obras possam começar.
O Globo, 26/04/2012