A solução para diminuir o trânsito das grandes cidades está nos trilhos. No Rio de Janeiro, começam nesse mês as obras para a expansão do metrô.
Serão quatro anos de canteiros, operários e ruas interditadas na área mais nobre da cidade: os bairros de Ipanema e Leblon, na Zona Sul. É o preço a ser pago para alcançar, no futuro, o que nas cidades mais desenvolvidas do mundo já se pode chamar de passado.
O espaço verde, no coração de Ipanema, vai ficar temporariamente fechado à população. A partir do mês que vem e até 2015, a praça em um dos metros quadrados mais caros do Rio vai virar um canteiro de obras. Embaixo da praça vai ficar a estação da Linha 4 do metrô.
Em cima da praça, moradores reclamam. “Não é o metrô que vai passar aqui. É a estação que querem fazer aqui embaixo. Por que usar uma praça inteira como estação do metrô se a gente pode ter outros acessos que não vão prejudicar as nossas árvores, a nossa cobertura verde?”, critica a coordenadora do projeto Segurança de Ipanema, Inês Barreto.
“Não haverá motivo para o trânsito de pessoas por dentro interior da praça para chegar aos acessos. A praça será devolvida como local bucólico para a população”, explica o subsecretário-adjunto de Projetos Especiais da Casa Civil do Rio de Janeiro, Rodrigo Vieira.
Os projetos são discutidos e modificados há décadas. Agora, distantes 16 quilômetros, na Barra da Tijuca, as máquinas seguem em direção à praça. Os explosivos são colocados no local, para serem detonado e o túnel avançar mais alguns metros. Em média, são 6,5 metros por dia, 6,5 metros de escavações no meio da rocha diariamente na tentativa de recuperar o tempo perdido.
O metrô do Rio foi inaugurado em 1979 com quatro quilômetros. De lá para cá, a rede cresceu pouco mais de um quilômetro por ano. “O metrô no Rio de Janeiro está atrasado em relação ao seu cronograma inicial. O planejamento e a construção do metrô estão defasados em relação à época em que deveria ter sido construído. Então, hoje o metrô atende a uma parte daquilo que deveria atender”, aponta o engenheiro de transportes Hostílio Ratton, da COPPE-UFRJ.
O caso do Rio é muito diferente das cidades que têm os melhores sistemas de metrô do mundo que começaram cedo e expandiram muito suas linhas. O de Londres foi aberto em 1863. Hoje, tem 11 linhas que se estendem por mais de 400 quilômetros. O de Nova York é de 1904, transporta cinco milhões de passageiros por dia no seu emaranhado de 25 linhas. Muitas linhas, estações e possibilidades de conexões também são as características dos metrôs de Tóquio e de Paris, por exemplo.
O metrô do Rio tem duas linhas, que em determinado ponto são paralelas. A linha que está sendo construída será uma extensão delas. Guardadas as devidas proporções, os mapas de metrô no Brasil são ainda mais modestos. Salvador tem uma linha e nove estações. Belo Horizonte possui uma linha e 19 estações. Em Porto Alegre, não é muito diferente. São Paulo tem o maior sistema de metrô do país. Mesmo assim, é pequeno para seus mais de 10 milhões de habitantes. Paris, por exemplo, tem um quarto dessa população e um sistema quase três vezes maior. O metrô de Nova York é cinco vezes mais extenso.
Se os sistemas são pequenos, ainda há os problemas de operação, superlotação e acidentes. Na semana passada, dois trens bateram em São Paulo, e 49 pessoas ficaram feridas.
No Rio, nos horários de pico, os passageiros sofrem para conseguir entrar ou sair das composições. “É muito cheio, tem problema de superlotação”, diz um rapaz. “No meu caso, o metrô é suficiente. Eu pego agora a integração e está feito”, comenta um jovem.
“Ampliaremos a rede. Essa não é a única ampliação. Outras estão sendo estudadas. Na verdade, o meio metroviário é o meio que tem capacidade maior de carregamento de pessoas. E o fato dele ter demorado a ser feito faz com que agora tenhamos que fazer mais e mais rápido”, declara o subsecretário-adjunto de Projetos Especiais da Casa Civil do Rio de Janeiro, Rodrigo Vieira.
Fonte: G1, 21/05/2012