As cidades de Sorocaba (SP) e Jundiaí (SP) mudaram radicalmente após a chegada das ferrovias Sorocabana e Inglesa. A economia teve grande ascensão e os progressos tecnológicos e culturais nas cidades refletem na importância que elas tem hoje para o estado de Sâo Paulo.
As ferrovias deram um novo significado histórico para a região. No dia 13 de junho de 1872, a estrada de ferro Sorocabana começou a ser construída e a vida da população, até então marcada fortemente pelo tropeirismo, deu uma forte guinada. Sorocaba foi escolhida para ter uma ferrovia porque a produção regional de algodão para o porto de Santos que, até aquele momento era feito no lombo de muares, crescia consideravelmente e a solução mais moderna foi adotada. O trecho Sorocaba – São Paulo da ferrovia demorou três anos para ficar pronto e foi inaugurado em 10 de julho de 1875.
O algodão que saia de Sorocaba e chegava a São Paulo era transferido para os vagões da São Paulo Railway, também conhecida como Inglesa, que ligava Jundiaí a Santos e foi a primeira ferrovia construída em solo paulista. A Inglesa, que foi inaugurada em 1867 e tinha o monopólio do transporte de mercadorias até o porto de Santos.
A chegada das ferrovias nas cidades de Sorocaba e Jundiaí modificou completamente também a economia e o comportamento local. Jardel Pegoretti, de 83 anos, trabalhou por 32 anos na Sorocaba e conta que tudo na cidade girava em torno da ferrovia, até mesmo a vida noturna.
“Praticamente 90% dos músicos e atores de Sorocaba eram ferroviários. Não existia televisão e a diversão estava nos bares, clubes e teatros”, com Jardel.
A cidade de Jundiaí teve o seu crescimento acelerado a partir de sua ligação por via férrea com São Paulo. Ali passaram a chegar todas as cargas do interior para canalizar seu transporte para o porto. Além de mercadoria, a Inglesa também transportava passageiros. Os passeios em família até o litoral paulista eram frequentes.
O crescimento demográfico e econômico de Sorocaba também trouxe outros negócios para a cidade. “Sorocaba cresceu bastante, atraindo investidores que, aproveitando a produção regional do algodão, mão de obra disponível e energia elétrica farta, construíram industriais têxteis, que teria a exportação facilitada pelo transporte ferroviário”, explica o historiador Aparício Tarcitani.
A ‘Sorocabana’ foi uma grande oportunidade de trabalho para muitos jovens da época. “Eu me formei em marcenaria e carpintaria da via permanente. Na ferrovia eu aprendi, cresci e fiz minha vida. Foram 30 anos cuidando daqueles trilhos”, relata José Carlos Malzoni, hoje com 66 anos. Os trilhos eram sinônimo de progresso e ser ferroviário significava “status”.
Para Pegoretti, o trabalho na ferrovia trouxe não só estabilidade financeira como também uma família. Ele se casou com a irmã de outro ferroviário. “Desde que comecei meu trabalho, em 1944, varrendo o chamado Pavilhão Monte Castelo as portas se abriram para mim e entrei em um mundo diferente. O mundo dos trilhos”.
Por ser um dos poucos alfabetizados na ferrovia, a ascensão de Jardel foi rápida. Ele passou a chefiar a seção das locomotivas elétricas e a diesel e foi responsável pela montagem de novos vagões que chegaram da Alemanha, em 1970. “Eles vinham desmontados em caixas. Carreguei cada um deles e montamos um por um. Quando a equipe de montagem alemã chegou, com quatro meses de atraso, levaram um susto ao ver que a locomotiva nova já estava em funcionamento.”
A utilização de ferrovias no Brasil declinou na década de 70 e no seu lugar estão os automóveis e caminhões. Hoje Jundiaí e Sorocaba têm museus que contam e se dedicam à importante história ferroviária da região. O dia a dia nos trilhos atualmente é contado por estudiosos do assunto e ex-trabalhadores, que têm a vida na ferrovia ainda frescas em suas memórias.
Fonte: G1, 03/06/2012