Bonde volta à moda para melhorar trânsito

Para resolver seus problemas recorrentes de trânsito, uma série de cidades médias e grandes dos Estados Unidos está recorrendo a um velho meio de transporte que também já esteve em moda no Brasil: o bonde. Nos últimos cinco anos, pelo menos 20 cidades em diferentes partes do país já construíram ou estão construindo linhas modernas de bonde.

A justificativa principal para o fenômeno é estética, já que os bondes, ao contrário dos metrôs e trens leves (como os monotrilhos que estão sendo feitos em São Paulo), andam em trilhos feitos nas ruas e avenidas da cidade e têm de parar nos semáforos.

Segundo os defensores do modelo, os bondes são mais agradáveis que os ônibus e, por isso, teriam mais usuários dispostos a deixar o carro em casa para pegar esse modal.

Outra explicação citada por seus defensores é que eles ajudam a revitalizar áreas abandonadas das cidades e alavancar o mercado imobiliário, principalmente nas regiões centrais. Esses dois fenômenos foram medidos em Portland, no Estado do Oregon, na costa oeste americana. Ela foi a primeira cidade do país a criar uma rede de bonde moderno, em 2007. Avaliações feitas pelo governo local em 2009 mostraram que os dois objetivos foram alcançados.

Depois disso, pelo menos nove outras cidades dos Estados Unidos já construíram sua rede de bondes. Boa parte dos investimentos também pegou carona na crise econômica iniciada em 2007, já que algumas prefeituras e governos estaduais decidiram aumentar os investimentos para tentar alavancar a economia.

Críticas. Não é todo mundo que concorda com essas teorias. Charlotte, na Carolina do Norte, está discutindo a construção de uma linha de bondes de cerca de 6 quilômetros em seu plano de investimentos públicos para os próximos cinco anos.

Boa parte do legislativo local, porém, é contra o gasto de US$ 120 milhões para um meio de transporte que não tem garantia de ser mais rápido ou mais eficiente que os ônibus.

Eles também discordam da hipótese de que um bonde seria menos poluente que um ônibus. E citam como exemplo os trólebus – ônibus movidos à eletricidade. Em São Paulo, eles são conectados à rede elétrica por meio de cabos suspensos em sua parte superior, mas existem modelos mais recentes, como os híbridos, que não necessitam de rede aérea.

O mesmo debate ocorre hoje em Dallas, no Texas, onde uma linha de 2 km ao custo de US$ 40 milhões está sendo discutida. “Bondes quase nunca se movem rápido. Eles são grandes e pesados e mais difíceis de frear do que um carro. Por isso, têm de se mover com cuidado extra”, afirmou, em editorial contrário ao meio de transporte, o jornal local Dallas Observer.

Exemplo. Para o consultor em transportes Horácio Figueira, a experiência americana não é uma boa opção para cidades como São Paulo. “Temos problemas muito graves de transporte. A primeira prioridade deve ser construir redes de corredores de ônibus com linhas tronco, áreas de ultrapassagem e mais modernos, que teriam bem mais capacidade de transporte. Só depois é que seria razoável experimentar modais alternativos como os bondes”, afirmou.

Fonte:  O Estado de S.Paulo, 12/08/2012

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