Trens chineses comprados pelo governo do Estado ao valor de 5,5 milhões de dólares cada — equivalentes hoje a R$ 11 milhões — chegaram ao Rio enferrujados.
Relatório ao qual O DIA teve acesso com exclusividade mostra que foi preciso fazer uma raspagem e limpeza com produtos químicos, em caráter emergencial, antes de apresentar os carros e colocá-los para circular.
Nos dias 28 e 29 de janeiro, 15 funcionários da empresa TTrans ficaram encarregados de fazer o trabalho de remoção da oxidação no sistema de engate da parte da frente do trem e nas portas de acesso dos passageiros. A TTrans confirmou que fez o serviço para tratar a ferrugem nos carros e afirmou ainda que não recebeu o valor cobrado.
O custo, segundo a Secretaria Estadual de Transportes, é de responsabilidade do consórcio que ganhou a licitação da compra dos carros. Por isso, a contratação do serviço não teria gerado gasto aos cofres públicos.
Os trens chineses são fabricados por um consórcio, formado por várias empresas. “Achei estranha a oxidação, mas tudo foi retirado com tranquilidade. Técnicos da SuperVia, da Central Logística e da empresa chinesa afirmaram que não haveria dano ao funcionamento”, admitiu o secretário Júlio Lopes.
Especialistas preveem novos problemas em composições
Se os trens voltarem a enferrujar dentro de período que ultrapasse três anos, estado ou concessionária que opera o sistema de transporte terá que pagar a retirada da ferrugem.
Esse é o tempo, segundo o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, que a empresa chinesa deu como garantia para qualquer avaria com os carros.
Segundo os especialistas em química e engenharia consultados pelo jornal, não será difícil os trens voltarem a enferrujar. Isso porque a área com problema precisaria passar por aplicação de novo acabamento. Se o material fosse adequado, não teria oxidado com a salinidade da água do mar.
Dos 30 trens encomendados pelo governo, 18 já foram entregues. O restante, segundo a SuperVia, chega até o final do ano. Segundo a concessionária responsável pelo fornecimento dos trens, a CMCCRC, os TUEs vieram embalados e ficaram na parte de baixo do navio.
“Existem ferrugens que aconteceram por causa da água do oceano que pinga no trem ocasionalmente. Mas o material de chapa inoxidável dos TUEs foi fabricado no Japão e está comos certificados. O material é qualificado e ferrugem só é ocasional”, diz em nota.
A reportagem apurou que, na viagem de 45 dias para transportar de navio os trens da China ao Rio, houve tempestade e, por isso, os carros foram molhados pela água do mar. O episódio, no entanto, não justifica a corrosão, segundo especialistas da Coppe/UFRJ e químicos ouvidos por O DIA.
Segundo os peritos, há no mercado acabamentos que impediriam a oxidação por até 20 anos. Afirmaram que, como a ferrugem atingiu mais algumas áreas, há indícios de que houve diferença na escolha do material, que seria de qualidade inferior.
A SuperVia não quis comentar o caso. Procurada por O DIA, a Changchun Railway Vehicles, fabricante dos trens, não enviou resposta. A empresa chinesa é a mesma dos novos vagões do metrô.
Fonte: Jornal O Dia, 18/08/2012