A reviravolta que o governo decidiu promover no setor ferroviário terá que incluir, agora, uma reformulação na diretoria da Valec, estatal vinculada ao Ministério dos Transportes, responsável pelos empreendimentos do governo neste setor. O Valor apurou que o atual presidente da Valec, José Eduardo Castello, decidiu deixar o cargo. Por meio de uma carta entregue ao ministro dos Transportes, Paulo Passos, Castello pediu formalmente o seu desligamento do comando da estatal, em caráter irrevogável.
Engenheiro civil com 30 anos de experiência no setor ferroviário, Castello chegou ao cargo há quase um ano, para substituir José Francisco das Neves, o chamado “Juquinha”, que caiu por conta dos escândalos de corrupção que envolveram a Pasta dos Transportes no ano passado e que, neste ano, chegou a ser detido pela Polícia Federal, sob acusações de enriquecimento ilícito.
Castello assumiu a Valec com a missão de reorganizar a estatal e de tentar retomar o ritmo de obras que estavam absolutamente paralisadas, por conta de uma infinidade de irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Controladoria-Geral da União (CGU). Em termos práticos, não conseguiu soltar o freio de projetos estratégicos para o país, como a Ferrovia Norte-Sul e a Ferrovia Oeste-Leste. Em vez de administrar obras, passou a maior parte de seu tempo tentando responder uma enxurrada de questionamentos que vinham da Polícia Federal e dos órgãos de controle. Procurada, a Valec informou que não iria se pronunciar sobre o assunto.
José Eduardo Castello não sai sozinho. O Valor apurou que o atual diretor de planejamento da Valec, Josias Cavalcanti, está cotado para assumir uma diretoria na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), provavelmente numa área atrelada às concessões ferroviárias preparadas pelo governo. A diretora de engenharia da estatal, Célia Rodrigues, também vai deixar o cargo por motivos pessoais. Isso significa que, dos quatro postos de diretoria da Valec, apenas a diretoria administrativa e financeira, Vera Lúcia de Assis Campos, deverá permanecer, já que a vaga de diretor de operações, criada recentemente, ainda não foi preenchida.
Parte das razões que levaram José Eduardo Castello a pedir seu desligamento do comando da estatal está atrelada ao salário que é pago pelo governo. O presidente da Valec recebe R$ 15 mil por mês. Agora, ele deve voltar ao Rio, onde vive sua família. Antes de chegar à Valec, Castello esteve à frente da subsecretária de Fazenda e Planejamento do município de Duque de Caxias, no Estado carioca.
O esvaziamento da diretoria da Valec neste momento deverá abrir espaço para uma boa briga política para ocupar o comando da estatal, apesar do governo insistir na tese de que tem privilegiado o perfil técnico de servidores. A Valec ganhou papel absolutamente estratégico dentro do pacote de concessões de ferrovias anunciado no mês passado pelo governo. O plano da presidente Dilma Rousseff reserva uma função nobre para a estatal, frente ao programa que prevê aporte de R$ 91 bilhões para construção de 10 mil km de novas estradas de ferro. A ideia é que, em vez de construir ferrovias, a Valec passe a ser uma administradora dessa malha. Quando as concessionárias concluírem a construção dos trilhos, a estatal vai comprar dessas empresas a capacidade de tráfego de transporte de carga das estradas de ferro para, então, revendê-las a companhias interessadas em transportar seus produtos.
A mudança deverá ter impacto direto, inclusive, dentro das diretorias da estatal. Segundo uma fonte do governo, a tendência é que a área de engenharia da estatal seja reduzida, para que uma divisão operacional ganhe mais relevância. De maneira prática, a Valec passará a ser o órgão executor de políticas públicas fiscalizadas pela ANTT e definidas pelo Ministério dos Transportes e pela Empresa de Planejamento e Logística (EPL), criada recentemente pelo governo.
Quando assumiu o comando da Valec em outubro do ano passado, José Eduardo Castello afirmou que, como gestor público, enxergava na Valec uma organização com um nível gerencial muito pobre. Agora, com a saída de seus diretores, a estatal passa a ser uma companhia com nível gerencial esvaziado. Segundo uma fonte do setor, o ministro Paulo Passos já está em busca de novos nomes para a Valec.
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2012