Inovação sobre os trilhos

O Espírito Santo, apesar de não ter tradição no setor industrial ligado às ferrovias, apresenta ao mercado duas iniciativas de vanguarda: produção de dormentes de aço e transformação dos antigos dormentes de madeira em carvão vegetal, pelas empresas Hidremec e Recicarbon.

Prestes a comemorar a produção de 1 milhão de dormentes, a empresa capixaba Hidremec já pensa em expansão a partir da expectativa gerada pelo programa lançado pelo governo federal, que já definiu a construção de 10 mil quilômetros de ferrovia. Vinda de São Paulo há oito anos, a Hidremec se instalou em Cariacica e aumentou em três vezes a sua capacidade.

Especializada na produção de dormentes de aço, a empresa tem capacidade para produzir 400 mil dormentes por ano. O produto da Hidremec está sendo utilizado pela Vale para substituir os dormentes de madeira em suas ferrovias.

Com o novo produto, a empresa quer economizar ao utilizar um dormente com maior vida útil. “A madeira não compete com o aço. O concorrente do aço é o concreto, que também vem substituindo a madeira”, explica Carlos Alberto Pinto, acionista e diretor da Hidremec.

O processo de substituição dos dormentes da Estrada de Ferro Vitória a Minas, da Vale, ainda deve durar mais dois anos. “Já fornecemos cerca de 300 mil dormentes para a ferrovia de Carajás, no Pará e mais de 50 mil para a FCA. O contorno de Belo Horizonte, que foi reformado pela Vale, também já recebeu dormentes da Hidremec, disse Carlos Alberto.

“A substituição da madeira pelo aço é inevitável. Além de durabilidade maior, o aço pode ser reciclado, enquanto a madeira, não. Há no Brasil, dormentes de aço que estão em uso desde 1889, o que mostra como esse material é recomendado, explica Carlos Alberto.

Investimento

O executivo explica que a empresa fez dois investimentos nos ltimos anos, sendo o primeiro a decisão de sair de São Paulo para se instalar em Cariacica. O segundo passo foi investir no aperfeiçoamento do processo de solda, agora feita por robôs em duas linhas de produção. O investimento chegou a R$ 10 milhões.

A empresa tem 110 funcionários e a direção tem planos para ampliar a capacidade a partir da ampliação da malha ferroviária do país, que hoje é de 29 mil quilômetros. O governo lançou o Plano de Investimento de Logística (PIL) que quer acrescentar 10 mil quilômetros à malha.

Ele explica as vantagens: “Enquanto um quilômetro de linha precisa de 1.850 dormentes de madeira – o que corresponde ao desmatamento de 337 árvores – o mesmo quilômetro pode ser construído com 1.667 dormentes metálicos”, ressalta.

Madeira é tratada e vira combustível

A decisão da Vale é trocar os dormentes de madeira por outros fabricados com aço criou um problema sério: o que fazer com a madeira utilizada anteriormente, cuja preparação envolveu o uso de produtos tóxicos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente?

O destino de um passivo de 72 mil toneladas de dormentes levou a Vale a uma parceria com a Recicarbon que encontrou uma solução. Foram investidos US$ 4 milhões para chegar ao processo de extração dos gases da madeira e sua transformação em carvão.

O processo foi patenteado e a empresa contratada para transformar em carvão vegetal 72 mil toneladas de dormentes num período de 52 meses. Há 30 mil toneladas somente da EFVM e de outras ferrovias da Vale.

Cada forno processa 150 toneladas de madeira por vez, explica um dos diretores da empresa, José Antonio Semensato. Este volume se transforma em cerca de 50 toneladas de carvão que as siderúrgicas utilizam para produzir ferro-gusa.

Semensato explica que o dormente de madeira não é queimado, mas sofre a extração dos gases originados pelos produtos químicos utilizados na preparação de madeira. São produtos como creosoto, pentaclorofenol e outros.

A Recicarbon foi criada por cinco ex-bancários. Instalada no distrito de Guaraná, Aracruz, a empresa espera fechar outros contratos e ampliar sua capacidade. Os gases originados a partir da transformação da madeira em carvão são tratados antes de lançados na natureza.

Fonte: A Gazeta (ES), 14/04/2013

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