A agenda econômica do governo até o fim do ano tem um único ítem na pauta e chama-se concessões. Já a preocupação central está nos resultados do emprego nos próximos meses. A área política e também a equipe econômica têm convergido em torno da avaliação de que o crescimento de 2013 já está dado – não será muito superior ou muito inferior a 2% – e a recuperação esperada não se confirmará. As atenções estão agora na construção de um 2014 em que a economia, se não ajudar, pelo menos não atrapalhe o calendário eleitoral.
Nesse raciocínio, o sinal capaz de melhorar tanto expectativas do mercado financeiro quanto da população são bons resultados nos leilões de concessão do segundo semestre. Acredita-se mais num efeito psicológico do que diretamente econômico, nesse primeiro momento. “O sucesso nos leilões cria aquele sentimento de bem estar que pode ajudar 2014 a começar numa trajetória mais otimista”, explica um integrante do governo.
O risco desse cenário é a taxa de desemprego. Há uma certa torcida entre os assessores mais próximos da presidente Dilma Rousseff para que o emprego resista nos próximos meses e a taxa não comece a indicar demissões. “O emprego preocupa muito, mas ainda não está claro o que vai acontecer”, diz um auxiliar direto da presidente.
O governo reconhece que há sinais de desaquecimento no mercado de trabalho, mas argumenta que o emprego tem resistido mesmo com crescimento menor. A geração de vagas em maio foi 48,4% menor que no mesmo mês de 2012 e marca o quarto mês no ano em que essa comparação é desfavorável em 2013. A renda do trabalhador também teve queda de 0,3% em maio em relação a abril.
O calendário de concessões do segundo semestre começa em agosto, com o trem-bala, que ligará o Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. Aeroportos do Galeão (Rio) e de Confins (Belo Horizonte) irão a leilão em outubro, assim como o campo de Libra, na área do pré-sal. As concessões de rodovias foram divididas em vários lotes para serem leiloadas a partir de setembro. No caso das ferrovias, a maior parte ocorrerá em 2014.
Com o aumento de juros já iniciado pelo Banco Central (BC), que elevou a Selic de 7,25% ao ano para 8,5% ao ano em 2013, e a frustração na recuperação do PIB, a equipe econômica e os assessores diretos da presidente estão se preparando para um quarto trimestre notícias ruins. Está previsto um desaquecimento econômico ainda mais acentuado e um novo repique inflacionário.
A avaliação interna no governo é de que as medidas que se esperavam positivas para a inflação no primeiro semestre, como a redução no preço da energia elétrica, a desoneração da cesta básica e o adiamento dos reajustes no transporte urbano, acabaram não sendo suficientes para confirmar uma reversão dos preços. “As desonerações não tiveram impacto relevante na inflação. As boas notícias que se esperavam não vieram”, explica essa autoridade sobre a decisão do BC de atuar com mais força nos juros.
Do ponto de vista prático, as concessões devem ajudar na entrada de dólares, podem suavizar um pouco a desvalorização do real, além de contribuir para um ajuste menos volátil à nova política monetária do governo americano.
O governo ainda resiste ao cenário de desaceleração no crescimento já no terceiro trimestre do ano, conforme previsões de uma parcela do mercado financeiro. Para 2014, a aposta ainda é num crescimento acima do que será alcançado neste ano. Os sinais dessa melhora deverão começar a aparecer no segundo trimestre, inclusive porque a política monetária do BC já terá feito algum efeito na reversão da inflação.
Dessa forma, o auge da campanha eleitoral não será dominado por termos como inflação e desemprego. Críticas da oposição ao baixo crescimento econômico são esperadas, mas o governo acredita que elas podem ser esterilizadas por uma sensação de bem-estar da população e inflação debelada.
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2013
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