Com volume de pedidos em baixa, a indústria ferroviária pede socorro ao governo federal nesta semana para colocar em prática um plano de reforma geral de vagões e locomotivas de carga no país. O plano envolve investimentos de R$ 6 bilhões nos próximos anos – montante a ser liderado pelas concessionárias, com subsídios públicos.
A iniciativa nasceu da reclamação, vinda da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), de que os pedidos de seus clientes – as concessionárias e outros operadores ferroviários – são inconstantes. Quando a indústria cresce dois dígitos em um ano, no período seguinte a produção pode recuar a níveis inferiores aos registrados em 2006. Segundo Vicente Abate, presidente da Abifer, os altos e baixos colocam a indústria em risco e elevam os custos de produção.
A solução, criada em parceria com a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF) – que representa as concessionárias – é pedir aval do governo para reformar o patrimônio antigo herdado da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que hoje é operado, mas que poderia ser modernizado. A ideia é usar esse material para produzir 18 mil novos vagões e 600 novas locomotivas nos próximos seis anos.
Para isso, a ANTF vai pedir, entre outros itens, que ao menos parte do arrendamento que as concessionárias pagam à União pelo direito à concessão – neste ano, por exemplo, estimado em R$ 1,1 bilhão – seja empregado na renovação da frota. Além disso, solicitará auxílios como a manutenção do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES – que tem juros em 3,5% ao ano para compra de máquinas e equipamentos no setor. Pelo menos até 2014. Também demandam que o prazo de pagamento do financiamento seja aumentado de 10 para até 20 anos, e a carência de 2 para 5 anos. E que vagões deteriorados sejam classificados como sucata e usados como matéria-prima. A previsão é entregar o pedido amanhã ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Rodrigo Vilaça, presidente da ANTF, defende que o plano ajudaria a indústria a manter um volume constante de entregas nos próximos anos. “A situação é crítica, por isso a iniciativa privada está se movimentando”, diz. Para ele, fabricar material rodante agora também ajudaria a antecipar a demanda que será criada com os 10 mil quilômetros de ferrovias previstos pelo governo federal para os próximos anos.
“O plano auxilia as concessionárias a ter uma frota de vagões e locomotivas modernizada, e isso depois volta ao governo [quando a concessão acabar]”, diz Abate, representante dos fabricantes.
Enquanto o plano ainda não é analisado, essa indústria demonstra preocupação em 2013. O caso que mais chama a atenção é o da fabricante Randon, que não recebeu nenhuma encomenda para o setor neste ano. “Fizemos os últimos vagões em março. De lá pra cá, mais nenhum”, diz Norberto José Fabris, diretor corporativo da Randon. A situação da companhia só não é pior porque ela atua também em outros mercados. Com a mesma estrutura em que fabrica vagões, consegue produzir implementos rodoviários. “Se produzíssemos só vagões, estaríamos numa situação complicada.”
Na AmstedMaxion, líder na produção de vagões, os números também estão abaixo do inicialmente estimado. “Os dois últimos anos têm sido bastante abaixo daquilo que se esperava”, diz Ricardo Chuahy, presidente da AmstedMaxion. Ele diz que a empresa não chega mais a demitir funcionários. “Se demitir, você precisa procurar depois mão de obra qualificada de novo, investir em treinamento e desenvolvimento. Então apesar de ser um custo grande, a gente opta por manter”, diz. Os executivos também reclamam do fato de as encomendas acontecerem “aos solavancos”. “A gente tem demandado que haja um volume mais constante ao decorrer do tempo. Ter volume alto é bom, mas tem que ser previsível”, diz Chuahy.
A americana Caterpillar investiu US$ 100 milhões nos últimos cinco anos na área ferroviária no Brasil e abriu em novembro uma fábrica de locomotivas. Mas esperava números mais exuberantes. “Podemos até investir mais, mas precisamos de uma demanda no horizonte”, resume Carlos Alberto Roso, diretor-geral da Progress Rail, subsidiária da Caterpillar no Brasil.
Fonte: Valor Econômico, 28/08/2013