Viagem ao passado da ferrovia

Negativos de vidro que fazem parte de um acervo inédito da antiga Rede  Ferroviária Federal revelam imagens e costumes de um Rio de Janeiro no começo do  século XX.
Sentadas à soleira da porta de um casebre no alto do Morro da Providência, no Centro, duas mulheres esperam calmamente a roupa quarar. Lá embaixo, avistam-se embarcações ancoradas no Porto e os seis galpões ferroviários usados para armazenar sacas de grãos — o mesmo conjunto que atualmente é restaurado dentro das obras de revitalização da Zona Portuária. Numa outra cena, a Avenida Francisco Bicalho aparece ainda sem o prédio da estação Barão de Mauá e com o canal do mangue navegável, ocupado por pequenos barcos. As duas fotografias, registros da ocupação daquele trecho do Centro no início do século XX, integram um acervo inédito de cerca de 400 imagens, ainda em negativos de vidro, feitas por volta de 1910.O material, que passou anos guardado em caixas de madeira num antigo escritório da Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), em Campos, acaba de ser digitalizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-RJ) e fará parte de uma exposição sobre a história da ferrovia, em 2014, no Museu do Trem, na Zona Norte.

Os negativos foram encontrados com uma série de documentos (entre eles, escrituras, plantas e mapas), que estão sendo levantados e identificados durante o processo de liquidação da RFFSA, iniciado em 2007. No caso específico das fotos, são imagens das equipes da empresa inglesa The Leopoldina Railway Company Limited (que atuou no país de 1898 a 1949), feitas com a intenção de documentar as ações da companhia no Brasil.

Como os enquadramentos das fotos não se restringiram às máquinas e prédios das ferrovias, elas podem ajudar a contar a história não só dos ramais ferroviários, mas dos processos de ocupação e até dos costumes das três cidades atendidas pelas linhas da antiga Leopoldina Railway: Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro no início do século XX.

— Os ingleses separaram as fotos em blocos: obras de arte (que englobavam pontes e viadutos), acidentes, edificações e cenas da família ferroviária, com fotos dos chefes das estações, grandes autoridades e até do cotidiano no final do século XIX e início do XX — descreve Ivo Barreto, Superintendente do Iphan-RJ.

A maioria das fotos é de autores desconhecidos, e muitas ainda estão em processo de identificação. Uma das preciosidades destacadas pelo Iphan é uma série de registros que parece ter sido feita de cima dos morros do Centro do Rio.

— A cobertura fotográfica resulta numa montagem de quase 360 graus de parte do Centro — adianta o superintendente do Iphan-RJ.

Fonte: O Globo, 14/10/2013

Por Simone Candida

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