A Região Sudeste terá de investir R$ 589,6 bilhões nos próximos cinco anos para manter e ampliar a infraestrutura regional. A conta é alta e reflete, em parte, os sucessivos atrasos na execução das obras. A cifra equivale à metade dos recursos necessários para ajustar a economia ao novo patamar de competitividade da infraestrutura.
Os dados fazem parte do mais novo diagnóstico encomendado pela Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema). Os dados foram apresentados ontem ao mercado brasileiro, em São Paulo.
De acordo com os cálculos da Sobratema, o Estado de São Paulo tem projetos que totalizam investimentos de R$ 144,8 bilhões, 24,5% dos recursos necessários a toda a Região Sudeste e 12,12% do volume total projetado até 2018 para o País. O Rio de Janeiro é o segundo em demanda com R$ 136,3 bilhões, 23,1% dos aportes na região e 11,4% em relação ao total, cujo valor estimado chega a R$ 1,19 trilhão.
De acordo com o levantamento, o Espírito Santo é o terceiro, com R$ 78,4 bilhões em investimentos identificados, e Minas Gerais é o último, com R$ 57,9 bilhões. A região ainda tem uma carteira de projetos interestaduais, cujo valor alcança R$ 172,1 bilhões. Integram a lista a Arena Corinthians, a despoluição da Baía de Guanabara, o desenvolvimento do pré-sal e construções em cidades, como a urbanização das favelas de Paraisópolis e Heliópolis, em São Paulo, ou da Rocinha, no Rio.
Para Mário Humberto Marques, vice-presidente da Sobratema, o desafio para a Região Sudeste, e como de resto para o Brasil, está em garantir a execução dos projetos identificados na pesquisa. O problema é que as concessões à iniciativa privada são feitas apenas com projetos básicos. Quando a obra começa todos descobrem invariavelmente que quantidades e preços estão furados. E aí o TCU paralisa tudo. Essa é a essência do problema que inferniza a vida dos empresários e da sociedade, afirma.
Esse ambiente, segundo sondagem feita pela instituição, afeta a confiança do investidor: 89% culpam a burocracia pela trava na infraestrutura; 67% acusam o modelo de concessão como o principal entrave; e 56% dizem que o que o governo afirma não condiz com a realidade.
Olivier Girard, sócio da Macrologística Consultoria, diz que a natureza do problema da infraestrutura na Região Sudeste difere daquela vista em outras regiões. Em geral, existe infraestrutura, mas é insuficiente para a demanda, o que afeta a competitividade da principal região econômica do País.
A situação da ferrovia em São Paulo é exemplar. A capital paulista está no meio do principal corredor de exportação do País, só que um atraso de anos obriga trens de passageiros e de carga a usarem a mesma linha. Numa cidade caótica como São Paulo, a prioridade é a mobilidade urbana, não o transporte de carga.
Promessa. O projeto que criará um anel ferroviário na capital está prometido para sair do papel nos próximos anos. É parte das concessões que o governo federal pretende fazer para dar fluidez ao transporte de carga ao maior porto do País, o que no período de safra pode retirar boa parte dos 12 mil caminhões que descem a serra todos os dias. A situação das rodovias é um pouco melhor, principalmente em São Paulo, mas não é entre Minas Gerais e a saída para o Espírito Santo (BR-381) ou Rio de Janeiro (BR-040).
Em relação aos portos, o problema é maior para o complexo santista, responsável por um quarto do comércio exterior brasileiro. A previsão é que Santos bata recorde em movimentação de carga este ano, alcançando a impressionante marca de 100 milhões de toneladas, a maior parte trazida sobre caminhões do interior até a costa.
O sócio da Macrologística, Olivier Girard, avalia que a decisão do agronegócio de buscar uma saída para as commodities agrícolas pelo Norte pode aliviar a infraestrutura do Sudeste nos próximos anos. Porém, a demora torna qualquer previsão bem pouco precisa.
A infraestrutura aeroportuária é um exemplo. Depois de muita indecisão, o governo fez o leilão dos aeroportos de Viracopos, Cumbica e Brasília. O resultado não agradou e o governo decidiu mexer no modelo.
As mudanças retardaram em quase dois anos (21 meses) os novos leilões de concessão dos importantes terminais do Galeão (RJ) e de Confins (MG). A promessa é que sejam concedidos em leilão no dia 22, em São Paulo, praticamente às vésperas da Copa do Mundo.
Em se tratando de obras de infraestrutura paradas, o Aeroporto Eurico Salles, de Vitória (ES), talvez seja o mais emblemático. Depois de identificar superfaturamento, o TCU mandou suspender o repasse de recursos. A obra de R$ 337 milhões parou em 2008. Parte do dinheiro gasto foi perdida. A obra pode ser retomada até o fim deste ano, promete a Secretária de Aviação Civil. A que preço, ninguém sabe.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 14/11/2013