Mais de três meses após romper com a Odebrecht, a Transnordestina Logística SA (TLSA), empresa controlada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), está fechando os contratos das empreiteiras que vão assumir nas próximas semanas as obras da concessionária, uma ferrovia de 1.728 quilômetros que vai ligar os portos de Suape (PE) e Pecém (CE) ao município de Eliseu Martins (PI).
Segundo apurou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, pelo menos três construtoras fecharam acordo para assumir trechos da estrada de ferro. A Queiroz Galvão vai ficar com alguns lotes no Ceará, enquanto a Civilport Engenharia assumirá o trecho no Piauí. A EIT Engenharia, que participou do início da ferrovia, ficará em Pernambuco, trecho mais avançado.
Durante visita a Fortaleza, no mês passado, a presidente da República Dilma Rousseff foi questionada sobre o andamento da Transnordestina, que ao lado da transposição do rio São Francisco e da Refinaria Abreu e Lima forma o grupo dos grandes projetos federais no Nordeste, todos com prazos estourados e custos muito superiores aos inicialmente estimados. Sem grande convicção, Dilma respondeu que a obra “estava andando”.
O que estava em andamento, no entanto, era apenas o “saldo” do contrato entre TLSA e Odebrecht, rompido após acusações mútuas de descumprimento do acordo. Antes de sair do projeto, a Odebrecht se comprometeu a terminar algumas obras, como um túnel no município pernambucano de Arcoverde e um trecho da ferrovia na divisa entre Ceará e Pernambuco. O restante da obra, hoje com orçamento atualizado de R$ 7,5 bilhões, está parado.
O Valor apurou com fontes próximas ao projeto que a expectativa da CSN é ter pelo menos 4 mil pessoas trabalhando nas obras da ferrovia nas próximas semanas. Até junho do ano que vem, a meta é que 8 mil operários estejam em atividade. O pico de obras, entre 2010 e 2011, registrou 11 mil trabalhadores em todos os lotes da estrada de ferro.
Entre os principais problemas pelos quais passou o projeto está a falta de sintonia entre a TLSA e o governo federal, principal financiador da ferrovia. Os seguidos aumentos de custos com mão de obra, desapropriações e equipamentos não foram aprovados pelo governo na velocidade esperada pela companhia, o que acarretou em falta de pagamento a fornecedores, greves e, consequentemente, atrasos no cronograma.
Pelo acordo de acionistas definido no lançamento do projeto, em 2005, a CSN entraria com 25% de capital próprio nos R$ 4,5 bilhões previstos à época para a estrada de ferro. O restante seria financiado pelo Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) e pelo Fundo de Investimento do Nordeste (Finor), além de aportes menores do Banco do Nordeste, do BNDESPar e da Valec, os dois últimos sócios no projeto.
Um novo acordo de acionistas foi assinado este ano, o que permitiu o reajuste da obra para os R$ 7,5 bilhões atuais. Segundo fontes no governo, em junho foram repassados R$ 600 milhões do FDNE. No mês passado, outros R$ 400 milhões foram liberados. O novo acordo com a TLSA será mais rigoroso com os prazos, podendo acarretar em sanções financeiras à operação da ferrovia.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretendia andar na Transnordestina antes de deixar o cargo, em 2010. Sucessora de Lula, Dilma só terá a oportunidade se for reeleita. O novo prazo para a entrada em operação da ferrovia ficou para 2015.
Procuradas, as construtoras que vão assumir as obras informaram que os esclarecimentos sobre o projeto deveriam ser fornecidos somente pela CSN, que preferiu não se manifestar.
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2013
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