Rio – No chão, dezenas de cápsulas de cocaína abertas. O uso da droga é livre, acontece durante todo o dia e está acessível para quem estiver disposto a gastar R$ 5 ou R$ 10. Este é o valor que garotos gritam para atrair a clientela. A entrega é ali mesmo, no melhor estilo ‘fast-food’. Pagou, levou. Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, o ponto de drogas não está numa favela. Funciona em uma concessão pública, a plataforma de trem da Estação Tancredo Neves, em Santa Cruz. E o pior: há pelo menos oito anos, o tráfico atua no local, onde milhares de passageiros passam toda semana.
Embarcar e descer na ‘Estação do Pó’, como o local é chamado por passageiros, é uma aventura que exige boa dose de coragem. A equipe do DIA esteve lá dois dias, em semanas diferentes, sempre por volta do meio-dia. Na primeira vez, havia seguranças da SuperVia perto da bilheteria. E mesmo assim foi possível assistir à compra de droga e a uma espécie de crise convulsiva de um usuário.
Na outra vez, nenhum funcionário foi visto. O som alto de um ‘proibidão’ — funk que faz apologia a facções criminosas — tocava no celular de um garoto, dando o tom do clima de animosidade do local. Sentado em um banco de passageiro, à espera de um consumidor, o jovem integrava o grupo de cerca de 20 pessoas que lotearam a estação da concessionária SuperVia a serviço do tráfico.
Lá, o cenário poderia se limitar a usuários de crack, que se tornaram uma ‘epidemia’ na cidade. Mas não. Na plataforma, onde moradores e trabalhadores esperam a composição do ramal Santa Cruz, são traficantes com radiotransmissores que ditam as regras, sem nenhuma preocupação de esconder o lucrativo negócio que os sustenta.
As cápsulas abertas dão uma ideia do número de viciados que circula no local. E não são poucos. Na quinta-feira, pós-Carnaval, eram tantas que formavam um ‘tapete’ na rampa da passarela de acesso dos passageiros. De plástico transparente, elas vêm com a quantidade de cocaína suficiente para serem aspiradas de uma única vez em cada narina.
“É para facilitar o consumo. Cheira e pronto”, explicou uma passageira, que é obrigada a descer na estação todos os dias por causa do trabalho. “Isso aqui é assustador”, concluiu.
A ‘boca’ é abastecida pelo tráfico da Favela de Antares, que faz divisa com a Estação Tancredo Neves. Por isso, a droga chega a qualquer momento, principalmente por motos que circulam livremente na passarela da SuperVia. O domínio do grupo criminoso é tão ostensivo que ele fizeram um buraco no muro que dá acesso à plataforma.
É por esta entrada improvisada que muitas pessoas passam para embarcar sem pagar passagem. Mas o objetivo dos traficantes é “empresarial”: permitir que usuários comprem droga na plataforma sem ter que arcar com o custo da tarifa de trem toda vez forem à plataforma.
SuperVia espera ação da polícia
A SuperVia se recusou a responder uma série de questionamentos feitos pelo DIA . Nem mesmo a quantidade de público que circula na estação foi informada pela concessionária. Eles também não quiseram confirmar a informação de que a bilheteria local tem prejuízo, porque os traficantes liberam a entrada de passageiros por um buraco na parede que fica paralela à estação.
Outro ponto que foi levantado trata da atuação da segurança do local. A empresa não explicou quais foram as medidas tomadas nos últimos anos para impedir a atuação do tráfico naquela plataforma. Em nota, a concessionária que administra o sistema de trens se limitou a afirmar que mantém alinhamento com a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro e que ‘reforça a confiança na atuação do poder público para garantir a segurança da população’.
Disputa afeta posto de saúde
A situação caótica na Estação Tancredo Neves deve piorar ainda mais. O sinal de que isso pode acontecer já foi dado. Na semana passada, traficantes da Favela da Metral, na Vila Kennedy, que foi ocupada por policiais, fugiram para a Favela de Antares. A chegada dos criminosos na comunidade provocou intenso tiroteio. E a disputa pelos pontos de drogas vai incluir, certamente, a ‘boca’ que fica na plataforma da SuperVia.
Por causa do conflito na região, o posto de saúde Professor Sávio Antunes, em Antares, ficou fechado na quarta-feira, à tarde, e na quinta-feira, pela manhã. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Saúde. O DIA apurou que os funcionários não conseguiram nem chegar ao local, devido a quantidade de tiros.
Fonte: O Dia RJ, 17/03/2014
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