RIO — Enquanto a bola rola na primeira fase da Copa do Mundo, as obras da Linha 4 do metrô — fundamentais para as Olimpíadas de 2016 e, claro, para a vida dos cariocas — começam a ganhar forma. Como adiantou a coluna Gente Boa, os trilhos já começaram a ser instalados no trecho da Barra da Tijuca a São Conrado, onde a construção das estações também está adiantada e a escavação nos cinco quilômetros de túneis entre os dois bairros, concluída. Na Barra, são executadas ainda as fundações dos pilares da ponte estaiada que atravessará o Canal da Joatinga. E, da Gávea a São Conrado, há quatro frentes de trabalho para abrir caminho na rocha. O único senão é a suspensão temporária, no trecho Ipanema-Gávea, da operação do Tunnel Boring Machine (TBM), o tatuzão, devido ao afundamento de solo na Rua Barão da Torre, em Ipanema, no mês passado.
Apesar do acidente na Zona Sul, que parou a construção dos túneis na região, a Concessionária Rio Barra S/A, que realiza as obras, afirma que o cronograma está mantido, com o início de operação da Linha 4 previsto para o primeiro semestre de 2016, após uma fase de testes. A colocação dos trilhos começou na via 1 do túnel duplo que liga a Barra a São Conrado (o maior do mundo escavado em rocha entre estações metroviárias). Até agora, 400 metros de trilhos foram instalados, numa área mais ou menos equidistante a ambos os bairros.
Na última sexta-feira, operários continuavam acomodando dormentes ao longo do túnel. Segundo o consórcio, a previsão é que sejam instalados 300 metros de trilhos por semana, em intervenções que seguirão, simultaneamente, em direção à Barra e a São Conrado. Com isso, a colocação de trilhos na via 1 deve terminar no início de 2015, quando começarão os serviços na via 2.
PLATAFORMAS QUASE PRONTAS
Nesse trecho, a estação mais adiantada, a de São Conrado, foi completamente escavada. A plataforma de embarque e desembarque está em fase de conclusão. E salas técnicas recebem acabamentos, como ladrilhos e instalações elétricas. Já na do Jardim Oceânico, continuam as escavações e montagem de estroncas, estruturas metálicas que vão escorar as paredes. Mas os dois acessos de passageiros já foram conectados ao centro da estação, que será envolvida por uma manta especial com a finalidade de impermeabilizá-la, uma vez que, na região, o lençol freático está a apenas dois metros da superfície.
Ao todo, de acordo com o consórcio que realiza as obras, da Barra até a Gávea foram escavados cerca de oito quilômetros de túneis. De São Conrado à Gávea, os trabalhos chegaram perto da metade do caminho, em um ponto onde haverá um alargamento do túnel para a construção de uma bifurcação, com vias tanto no sentido Leblon, quanto em direção à Gávea.
No trecho da Zona Sul, apesar da paralisação na escavação dos túneis devido ao afundamento do solo, outros serviços continuam sendo realizados. Até agora, tinham sido escavados 400 metros de túneis pelo tatuzão. Mas a operação do equipamento só será retomada em cerca de 45 dias.
“Com o assentamento de solo ocorrido na madrugada do dia 11 de maio na Rua Barão da Torre, a construção do túnel entre Ipanema e Gávea está temporariamente suspensa, até que sejam concluídos os serviços de injeção de cimento que vão devolver a coesão ao terreno nesta região”, afirma nota do consórcio do metrô.
NAS ESTAÇÕES, TRABALHOS SEGUEM
Enquanto isso, as escavações da estação Nossa Senhora da Paz estão quase terminando, dizem os responsáveis pela obra. Atualmente, é executada uma laje na área por onde o tatuzão passará. Os acessos, por sua vez, recebem acabamentos, como instalação de corrimãos. Dessa forma, espera-se que até o próximo mês parte da Praça Nossa Senhora da Paz seja liberada ao público novamente.
Na Estação Jardim de Alah, as paredes da estação continuam sendo construídas, e atualmente são instaladas cortinas de proteção nos prédios do entorno. Na Estação Antero de Quental, foram concluídos o serviço de tratamento de solo no corpo da estação e a escavação da laje de cobertura. O acesso está sendo escavado pela Avenida Ataulfo de Paiva. Na estação Gávea, depois da conclusão das escavações em solo, começará a fase de escavações em rocha.
Com a expansão, os passageiros poderão optar por trens que seguirão da Barra à Gávea, da Barra a Ipanema/Uruguai e da Gávea a Ipanema/Uruguai (ou vice-versa para todos os casos). Na Linha 4, serão seis estações (Jardim Oceânico, São Conrado, Gávea, Antero de Quental, Jardim de Alah e Nossa Senhora da Paz) e aproximadamente 16 quilômetros de extensão. A previsão é de que a viagem da Barra a Ipanema demore 15 minutos e, da Barra ao Centro, 34 minutos, em trajetos que devem ser feitos por cerca de 300 mil pessoas por dia.
MALHAS DE DAR INVEJA AO RIO
Em Nova York, o metrô tem 24 rotas e mais de 400 estações. Em Paris, 16 linhas e 300 estações. Em Londres, são 11 linhas e algo como 250 paradas. Em Berlim, apenas um sistema, o U-Bahn, tem dez rotas e cerca de 150 estações. Todas essas metrópoles contam com rede metroviária integrada, que chega a quase toda a cidade. Uma realidade muito distante da Região Metropolitana do Rio. Apesar da atual expansão para a Barra, quando ela ficar pronta, serão 42 estações em toda a cidade. A Linha 4 sairá do papel possivelmente sem que a 3 (Niterói e São Gonçalo) tenha passado de mera promessa. E, mesmo com a Linha 4, o metrô no Rio continuará como uma rota só, da Pavuna à Barra.
Para o futuro, o governo planeja criar a linha Gávea-Largo da Carioca, passando por Jardim Botânico e Botafogo. Há ainda intenção de levar o metrô até o Terminal Alvorada e ao Recreio dos Bandeirantes. Ainda assim, o metrô não chegará a regiões populosas, que também não são alcançadas por outros modais, como os trens. Para o engenheiro de transportes da Uerj José de Oliveira Guerra, o relevo do Rio, com a ocupação dos dois lados da cadeia de montanhas, dificulta e encarece a expansão. Ele lamenta que a Linha 4 não tenha seguido o trajeto original (a partir de Botafogo):
— Temos uma história de concepção e execução do sistema metroviário muito lenta. Além disso, falta planejamento a longo prazo do sistema de transportes. Não há um esboço do que precisaremos nos próximos cinco, dez, vinte anos.
Fonte: O Globo, 17/06/2014
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