Edital de concessão prevê modernização de trens e estações do Corcovado

RIO — Depois de um atraso de sete meses, o serviço de transporte ferroviário que liga o bairro do Cosme Velho ao Cristo Redentor será, enfim, licitado. Nos próximos dias, o governo federal publicará o edital de concessão da linha histórica, de 3,82km de extensão. A operação do sistema cabe à Esfeco Administração Ltda. desde 1984. E a empresa teve o contrato prorrogado por três vezes ao longo desses 30 anos. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o novo arrendatário será definido até novembro. Caberá à empresa responsável operar o sistema por 20 anos e fazer investimentos inéditos: somente nos primeiros anos de concessão deverão ser aplicados R$ 111,06 milhões, e toda a frota será modernizada. A expectativa é que até os Jogos Olímpicos pelo menos um novo trem já esteja operando.

Além de melhorias no transporte sobre trilhos, estão previstas contrapartidas como aporte financeiro na vigilância da área do Cristo, reforma das estações, manutenção das escadas rolantes e apoio a atividades de educação ambiental. O ICMBio, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, fará a regulação do contrato. A escalada do número de visitantes ao Cristo e da procura pelo trem do Corcovado tornou inadiável a necessidade de melhorias no transporte. O número de passageiros do trem quase dobrou nos últimos cinco anos, passando de 509.896 passageiros, em 2008, para 923.691, no ano passado — um aumento de 81%. O sistema atual opera no limite. Os trens da Estrada de Ferro do Corcovado, inaugurada em 1884, estão em funcionamento desde 1978, e encontram-se no fim de sua vida útil.

NOVO PADRÃO DE SERVIÇOS

O presidente do ICMBio, Roberto Vizentin, explica que a demora na divulgação do edital ocorreu por divergências com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU). Ele garante, porém, que todos os entraves foram superados e que a concorrência pública deve ser divulgada até a próxima sexta-feira, dia 27.

— Já era para o edital ter saído. Estamos fazendo os últimos ajustes. A concorrência pública terá ampla divulgação e vai marcar um novo padrão de serviços para a estrada de ferro do Parque Nacional da Tijuca. Fizemos várias reuniões com todos os potenciais interessados. O serviço será terceirizado e tem que ter viabilidade econômica. Mas também deve oferecer retorno ao parque. Não é simplesmente um negócio — diz Vizentin.

Atualmente, o trem do Corcovado possui capacidade para transportar 345 pessoas por hora. Neste modelo, é possível realizar três viagens a cada hora, transportando 3.795 passageiros por dia, a uma velocidade média de 13,5 km/h. Os novos trens, que serão fabricados pela empresa suíça Stadler Rail, vão possibilitar a realização de cinco viagens a cada hora e terão velocidade média de 22,5 km/h. Com isso, poderão levar ao Cristo até 6.710 passageiros por dia, um aumento de 76,8% em relação ao volume atual. Os trilhos, em boas condições de uso, serão preservados. O sistema de tração, chamado de cremalheira, será mantido.
Um dos objetivos da nova concessão é garantir uma visitação mais organizada ao monumento. Hoje, o pico de turistas no platô do Cristo ocorre nos fins de semana, das 10h às 14h. Estimular o acesso de visitantes em horários alternativos é uma das metas. O horário padrão de funcionamento da estrada de ferro (das 8h às 19h) deverá ser mantido, mas poderá se estender em casos excepcionais.— No início de 2013, passamos a ter o direito a conceder o serviço do transporte. Teremos controle da venda de ingressos, que será 100% via internet. Vamos aumentar o número de pessoas no parque sem impactar a vida dos moradores e mudar a dinâmica da unidade de conservação. Temos que concentrar os esforços para acelerar o processo. Se não for possível colocar todas as composições até os Jogos de 2016, que pelo menos uma ou duas estejam circulando — diz o coordenador do ICMBio no Rio, Luiz Felipe de Luca. 

PREÇOS SERÃO MANTIDOS

Não haverá aumento nos preços praticados atualmente. No valor do bilhete estará incluído o ingresso ao parque (R$ 10) e a passagem pelo transporte (R$ 40), totalizando R$ 50 para a baixa temporada e R$ 60,00 para a alta temporada. Os valores foram atualizados por uma portaria publicada pelo ICMBio em julho de 2013.O secretário municipal de Turismo, Antonio Pedro Figueira de Mello, comemora o lançamento do edital e ressalta a importância de ordenar o serviço:— É fundamental aumentar o número de trens. Hoje temos muita limitação na operação. Tenho vários contatos com o pessoal do parque, tentando melhorar o atendimento aos visitantes. Não basta mudar o operador se regras não foram estabelecidas.Intervenção considerada fundamental pelos gestores para ampliar a visitação e dar mais visibilidade ao parque, a construção do centro de visitantes no local do antigo Hotel Paineiras pode ser destravada em breve. Segundo o ICMBio, já houve entendimento com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio. As obras foram paralisadas desde agosto de 2013. Orçado em R$ 65,3 milhões, o Complexo Paineiras abrigará um centro de visitantes com exposições sobre os parques nacionais do Brasil, restaurante e bar com vista panorâmica, loja de lembranças, espaço para eventos, além da nova sede administrativa do parque.Até o fim do ano, os aficionados do mountain bike que costumam pedalar nas Paineiras também ganharão uma novidade. Está em processo de finalização o novo plano de manejo do Parque Nacional da Tijuca, prevendo a possibilidade da abertura de trilhas para a prática desse esporte, proibida atualmente.Ao longo de 36 anos, os trens da Estrada de Ferro Corcovado descortinaram belas paisagens para milhares de turistas e cariocas, sem qualquer acidente grave. Alguns contratempos, no entanto, tornaram o passeio menos aprazível. Em janeiro do ano passado, uma pane mecânica paralisou uma composição do trenzinho por cerca de 40 minutos, deixando cerca de 400 visitantes sem ter como voltar do Cristo. Na ocasião, o Corpo de Bombeiros foi mobilizado. Em março de 2006, os vagões pararam, devido a um curto-circuito na altura da Estação das Paineiras, e bloquearam a passagem dos trilhos pelo resto do dia. Os passageiros embarcados foram ressarcidos e levados de volta ao Cosme Velho em vans e táxis pagos pela empresa.

Fonte: O Globo, 21/06/2014


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