O governo brasileiro quer atrair a Rússia para investir nos leilões das ferrovias brasileiras que serão abertos no ano que vem. A visita do presidente Vladimir Putin será o momento para a consolidação de um memorando de entendimento para tratamento preferencial de investimentos entre os dois países, o que abriria as portas das licitações brasileiras para a RZD International, operadora do sistema ferroviário russo.
As dificuldades enfrentadas pelo Brasil para atrair investimentos privados nacionais para as ferrovias estão por trás da busca ativa pelas empresas dos parceiros no Brics (bloco que além do Brasil, inclui Rússia, Índia, China e África do Sul). A China também já mostrou interesse nesse mercado. A RZD Internacional chama a atenção por sua expertise no transporte de cargas e na operação de ferrovias de longa distância.
“O potencial da parte comercial nossa com a Rússia é enorme, inclusive da fase de defesa. Eles têm demonstrado interesse no programa de ferrovias, que começou a andar mesmo. Podemos ter um protocolo de entendimento de tratamento preferencial de investimento, haverá um diálogo. Vamos apresentar o que temos pela frente e pronto”, disse ao Estado o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges.
A dificuldade maior seria o financiamento para investimentos externos, já que a empresa se concentra no próprio território e em alguma expansão para países asiáticos. Em negociações prévias, executivos da empresa mostraram-se dispostos a participar das licitações, mas pediram a participação de um parceiro local, familiarizado com a legislação brasileira, para facilitar sua entrada nesse mercado no Brasil.
Banco. Já o financiamento pode ser facilitado com a criação do Banco dos Brics, que deve ser finalizada na próxima semana, durante a Cúpula do grupo, em Fortaleza.
No governo brasileiro fala-se nos leilões da malha ferroviária brasileira como um dos possíveis projetos iniciais a ser financiado pelo banco, com a facilidade de ser aprovado porque beneficiaria, ao mesmo tempo, dois dos membros, Rússia e Brasil.
Como os cinco membros entrarão com cotas iguais no capital do banco, a decisão sobre os projetos que serão financiados terá de seguir normas técnicas e políticas. Entre elas, o interesse dos países financiadores e a importância econômica, além de critérios de desenvolvimento sustentável – critérios nos quais fontes ouvidas pelo Estado acreditam que a proposta se encaixa.
A primeira licitação para a construção de um trecho da malha ferroviária do País já poderia ter sido feita. A estrada de ferro entre Lucas do Rio Verde (MT) e Uruaçu (GO) tem o edital pronto e liberado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), mas não foi para a rua porque o governo ainda tenta resolver o problema da falta de interesse do setor privado.
Atrair empresas estrangeiras seria uma forma de garantir o sucesso dos leilões. Até agora, além dos russos, chineses, australianos e espanhóis demonstraram interesse.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 08/07/2014
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