Em dia de articulações no Congresso Nacional por Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) com potencial para causar estragos políticos variados, até a presidente Dilma Rousseff entrou no jogo – e mostrou irritação com perguntas relacionadas a supostas irregularidades ocorridas na Petrobras. Questionada sobre a combinação das perguntas feitas aos depoentes na CPI da Petrobrás no Senado, Dilma reagiu: “Eu vou te falar uma coisa. Eu acho extraordinário… o Palácio do Planalto não é expert em petróleo e gás. Quem sabe de perguntas sobre petróleo e gás é a Petrobras. Você podia me informar quem elabora perguntas sobre petróleo e gás para a oposição?” Com essa observação, Dilma encerrou a entrevista coletiva concedida na Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
No Senado, pela manhã, foi cancelada sessão da CPI da Petrobras na qual teria ocorrido a combinação de perguntas e respostas. À tarde, o PT conseguiu emplacar a instalação de uma CPI para apurar denúncias de formação de cartel, corrupção e ilícitos em contratos de obras e manutenção de linhas nos metrôs de São Paulo e Brasília.
Não foram definidos quem serão o presidente, vice-presidente e relator da comissão, proposta pelo PT. A próxima reunião da “CPI do Metrô” será em setembro, quando a eleição estará nas ruas.
Em sessão da CPI mista da Petrobras, da qual a oposição participa, foi ouvido o ex-diretor internacional da estatal, Jorge Luiz Zelada. Foi uma audiência cheia de provocações entre parlamentares de oposição e governo e na qual Zelada repetiu em boa parte argumentos apresentados em sua participação na outra CPI sobre o mesmo tema, em maio. “O senhor recebeu uma colinha?” provocou o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), dando o tom do embate na comissão.
O ex-diretor negou ter beneficiado a construtora Odebrecht em licitação de projeto na área de segurança, meio-ambiente e saúde, conhecida como SMS. “Jamais interferi em licitações, seja essa ou outra da minha área, para beneficiar quem quer que seja”, afirmou. Ele foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ). Zelada disse que desconhecia os relatórios de uma comissão interna que havia detectado potenciais perdas à Petrobras com o contrato. Na auditoria feita pela própria Petrobras, foram identificados superdimensionamento de custos e outras irregularidades.
O ex-diretor negou também ter repassado documentos sigilosos a executivos da holandesa SBM Offshore, fornecedora da estatal que está sob suspeita de pagar propina. Investigação interna da Petrobras identificou que a senha pessoal de Zelada foi usada para acessar documentos posteriormente encontrados em posse de terceiros. “Não repassei documentos à SBM”, garantiu.
Por fim, Zelada reafirmou que não teve participação relevante na aquisição da refinaria de Pasadena (EUA). Tendo assinado o resumo de compra dos 50% remanescente da refinaria em 2008, Zelada disse que a compra da segunda parte foi submetida ao Conselho em 3 de março, mesmo dia em que foi anunciada sua entrada no lugar de Nestor Cerveró. “O resumo executivo já estava elaborado antes da minha entrada. Sofreu pouquíssima alteração. Não houve nenhum ato de gestão da minha parte”, afirmou.
Apesar da Petrobras ter sido obrigada a comprar em 2008 a metade restante de Pasadena, que pertencia à empresa belga Astra Oil, por conta de duas cláusulas presentes no contrato, mas que foram omitidas no primeiro relatório executivo feito para balizar a compra da refinaria, Zelada disse acreditar que “olhando o conceito do projeto, [Pasadena] foi um bom negócio”. Na próxima quarta-feira a CPI mista receberá outro ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, que já prestou depoimento à comissão instalada no Senado.
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2014