O sistema BRT, implantado há pouco mais de dois anos com a promessa de facilitar a mobilidade dos cariocas, já causou 55 acidentes, totalizando 22 vítimas fatais, ou quase uma morte por mês, conforme levantamento feito pelo EXTRA. Os números apontam ainda total de 188 feridos nos corredores Transoeste e Transcarioca.
Com mais tempo de existência, o Transoeste, que liga o Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, a Campo Grande e Santa Cruz, totaliza 45 acidentes, 20 mortes e 159 feridos. Os três últimos ocorreram no espaço de uma semana, no fim de agosto, e resultaram em duas vítimas fatais e uma terceira, que teve parte da perna amputada.
Já o Transcarioca, que completou três meses na terça-feira passada, soma dez acidentes, com duas mortes e 29 feridos. O corredor, ainda em processo de implantação, liga o Terminal Alvorada ao Galeão, na Ilha do Governador.
— O alto número de acidentes é uma questão que precisa ser estudada — afirma Marcos Poggi, especialista em análise de mobilidade urbana e projetos em transporte, para quem o BRT não é a melhor opção em grandes metrópoles, onde a demanda costuma ser muito superior à capacidade.
Os operadores do sistema, entretanto, apontam a imprudência de motoristas e pedestres como a principal causa da maioria dos acidentes. A presidente da CET-Rio, Cláudia Secin, diz que a entrada em funcionamento do BRT não implicou no aumento de acidentes. Segundo ela, estatísticas do Corpo de Bombeiros apontam queda de 23,93% de ocorrências na Avenida das Américas, no primeiro ano de funcionamento do Transoeste — em comparação com o mesmo período do ano anterior à implantação. Ainda segundo Cláudia, na comparação com a frota circulante, os acidentes caíram 17,84%, no mesmo corredor, de janeiro de 2013 para janeiro de 2014.
O Consórcio BRT informou que lamenta os acidentes e destacou que a preocupação com segurança e treinamento dos motoristas é constante.
Começo difícil em Curitiba
Em Curitiba, onde o sistema foi implantado de forma pioneira há cerca de 40 anos, a adaptação também foi difícil no começo. Segundo Ricardo Bertin, coordenador adjunto do curso de Engenharia de Transporte da PUC-Paraná, os acidentes eram frequentes e só diminuíram após cerca de cinco anos de implantação e algumas adaptações no serviço.
— Foi feita uma campanha de educação com a população e treinamento dos motoristas, alertando para que ficassem mais atentos aos pedestres — afirmou.
Para Bertin os acidentes com o BRT durante os primeiros anos de sua implantação são inevitáveis, por se tratar de um sistema novo para o usuário, que não está acostumado aos ônibus circulando numa velocidade muito acima do que era habitual para ele.
Hoje, segundo Bertin, os índices são menores, mas os acidentes ainda ocorrem. Os casos mais comuns são de motoristas que fazem conversões proibidas.
De acordo com a Urbs, que controla o sistema de transportes coletivos em Curitiba, o BRT local possui uma rede integrada com 13 municípios vizinhos e transporta 2,3 milhões de passageiros.
Fonte: Jornal Extra, 05/09/2014