A estatal alemã Deutsche Bahn (DB) começou recentemente a atuar no Brasil e já planeja ampliar a presença no país como operadora de trens. Para isso, no entanto, a empresa ainda aguarda a publicação da nova regulamentação para o setor, que vai liberar transportadores independentes de carga nos trilhos do país – mas diz já conversar com potenciais parceiros.
Dieter Michell-Auli, membro do conselho da Deutsche Bahn International, disse ao Valor que a empresa vê o Brasil como um de seus mercados prioritários nos próximos anos. A companhia abriu uma subsidiária no Brasil há dois anos – que, até agora, é a única da companhia no continente americano. “Nós acabamos de começar, mas já estamos felizes de alcançar um valor superior a € 1 milhão em faturamento. Temos certeza que vamos crescer rápido”, afirmou.
Segundo o executivo, a empresa atua hoje no Brasil como consultora e elaboradora de estudos para interessados no setor. Exemplo recente de atuação no país foi a participação da DB nos estudos de viabilidade, feitos para a Valec, sobre a primeira ferrovia a ser leiloada pelo governo, a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) – entre Campinorte (GO) e Lucas do Rio Verde (MT). O investimento de construção do trecho está previsto em pelo menos R$ 4,9 bilhões.
Além disso, a DB pode assinar um convênio com a Valec para fortalecer a estatal brasileira, que terá um papel-chave no novo modelo ferroviário brasileiro. Pelos planos do Planalto, a Valec será responsável por trazer novos interessados privados em movimentar trens nos futuros trilhos e, em consequência, fortalecer as receitas dos cofres públicos. Mas o mercado ainda vê com receio o papel da Valec. Entre vários outros motivos, está o de que a companhia justamente tem pouca capacidade gerencial hoje. É justamente o fortalecimento da gestão da Valec que o governo procura com a parceria.
O desejo de trabalhar com a DB já foi anunciado por representantes do governo. Mas o edital, diz a Valec, ainda não foi lançado. A empresa escolhida fará “serviços de consultoria com finalidade de implantação do novo modelo de operação ferroviária na totalidade do sistema ferroviário nacional” ainda não foi lançado.
Em um segundo momento, a DB tem interesse em virar uma operadora no Brasil. “Quando o marco regulatório do ‘open access’ trouxer a chance de participar na operação, nós obviamente podemos participar”, afirma Michell-Auli. “O Brasil é muito importante para a DB, especialmente em operações de logística. Queremos continuar a crescer e vemos um futuro brilhante no país”.
O executivo disse ainda que a participação da empresa como operadora no Brasil seria em parceria com sócios locais. “Nós não temos ainda todo o ‘know how’ sobre o mercado brasileiro. [Por isso] Estamos definitivamente conversando com vários [potenciais] parceiros”.
O diretor da DB para a América, Gustavo Gardini, acrescenta que a companhia alemã está negociando com transportadores tanto de cargas como de pessoas. “Estamos falando com alguns grupos no Brasil e avaliando oportunidades”, diz. “Mas a informação sobre quem são eles é confidencial”, completa.
Apesar do interesse no Brasil, a DB não pensa em investimentos vultosos no país. Atuar como concessionária de novos trechos, o que demanda investimento de cifras bilionárias, não está nos planos da empresa. “Em geral, a DB não está em posição de investir em infraestrutura neste momento em países que não a Alemanha”, disse. Por ser estatal, a DB fica sob ingerência do governo alemão, que lidera uma política de austeridade na União Europeia.
A intenção de ficar de fora dos investimentos é diferente da planejada por pares internacionais, como a China Railway Construction Corporation (CRCC) e a russa RDZ. A CRCC, por exemplo, está avaliando as licitações de concessão de ferrovias em parceria com a construtora brasileira Camargo Corrêa. Já a RDZ está formulando estudos em parceria com a brasileira Progen.
A Deutsche Bahn faturou € 39,1 bilhões em 2013, com lucro líquido de € 649 milhões. Seu perfil endividamento (dívida líquida/Ebitda) é de 3,2 vezes. A empresa transportou 390 milhões de toneladas em 2013, ou 80% do que o Brasil inteiro carregou por meio de ferrovias no mesmo ano.
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2014
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