SuperVia reconhece atraso de equipamento que poderia evitar acidente

RIO — O funcionamento de um sistema eletrônico de segurança no ramal de Japeri, que deveria estar instalado em toda a malha ferroviária fluminense desde o fim de 2013, poderia ter evitado o acidente ocorrido na noite de segunda-feira, quando 229 pessoas ficaram feridas na colisão entre duas composições na estação Presidente Juscelino, em Mesquita, na Baixada. Hoje, o chamado ATP (sigla em inglês para “proteção automática de trem’’), que regula a velocidade e faz paradas imediatas de vagões em situações de emergência, está em funcionamento apenas no ramal de Deodoro — a rede tem oito, no total. Segundo o presidente da concessionária SuperVia, Carlos José Cunha, o atraso na implantação do equipamento se deve à espera pela chegada de novos trens chineses, comprados pelo governo do estado, e à complexidade do treinamento de maquinistas.

— O investimento é de R$ 300 milhões. A infraestrutura já está implantada em toda a rede. O sistema corta a energia dos trens. Esperamos a chegada dos vagões para instalar o ATP neles. O custo é muito alto e não dá para colocarmos os equipamentos nos trens em operação, que já deveriam estar fora de circulação. As novas composições deverão entrar em operação este ano. No ramal de Deodoro, que já tem o sistema, o intervalo entre as composições caiu para cinco minutos. Mas não basta termos as novas composições, é preciso entender que o sistema de segurança envolve uma grande mudança na forma de conduzir um trem. Temos maquinistas com 40 anos de profissão trabalhando da forma tradicional. Todos os 350 maquinistas estão sendo treinados — disse Cunha. O presidente da SuperVia confirmou que um dos trens envolvidos no acidente ultrapassou um sinal vermelho: — Ainda precisamos saber se o maquinista foi autorizado a fazer isso ou agiu deliberadamente. O caso está sendo apurado pela 53ª DP (Mesquita), que também tenta identificar os responsáveis por um arrastão realizado logo após a colisão: vários passageiros feridos tiveram pertences roubados enquanto eram socorridos. A polícia investiga várias hipóteses para a causa do acidente, inclusive a possibilidade de um raio ter atingido o sistema de sinalização do ramal de Japeri. — Um supervisor relatou que uma chuva forte em Queimados provocou danos à rede. Se funcionários da concessionária detectaram algum problema e nada foi feito, houve negligência — disse o delegado Matheus de Almeida. O secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osorio, afirmou que está empenhado em punir os responsáveis pela colisão e prometeu cobrar medidas para evitar que acidentes voltem a ocorrer. — Um acidente desse tipo é injustificável. A colisão aconteceu num trecho em linha reta do sistema e não havia problemas de visualização. Sem dúvida, houve uma sequência de falhas. O maquinista de um dos trens saltou para a plataforma poucos segundo antes do choque — destacou Osorio, referindo-se ao condutor que é esperado para depor nesta quarta-feira na delegacia de Mesquita.

Fonte: O Globo, 06/01/2015

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