Obra da Linha 4 causa danos em prédios e na rede de esgoto

RIO — Vizinhos da obra da Linha 4 do metrô (Barra-Zona Sul), em Ipanema, os moradores do prédio na Rua Barão da Torre 138 vivem sob tensão constante. O drama começou no dia 12 de maio do ano passado, quando crateras se abriram em frente ao edifício (entre as ruas Farme de Amoedo e Teixeira de Melo), que foi tomado por rachaduras. Os buracos foram tapados, mas, daquele susto em diante, os transtornos não cessaram. Até hoje, todo o esgoto do prédio, de três andares, precisa ser recolhido por um caminhão limpa-fossa quase que diariamente porque, de acordo com moradores, a ligação com a rede foi fechada durante as intervenções da Linha 4.

Eles contam ainda que o sistema usado para a retirada dos dejetos é pago pelo consórcio, que também arca com as despesas de um segurança contratado para fazer a vigilância do endereço. O motivo: o muro empenou e o portão não fecha mais. Embora os construtores envolvidos no projeto já tenham dito que a obra não traz riscos para a vizinhança, moradores de outros três edifícios que sofreram rachaduras em consequência das crateras também reclamam. O prédio de número 141 precisou ser envolvido com tapumes para evitar possíveis quedas de reboco sobre a calçada.

O caso ocorrido há oito meses paralisou as escavações feitas pelo tatuzão. O equipamento só voltou a ser utilizado no dia 10 de novembro. Na segunda-feira, um produto químico usado no trabalho do tatuzão vazou para a rua, formando uma grande poça na esquina da Barão da Torre com a Farme de Amoedo, que fica a cerca de 50 metros dos dois edifícios.

MORADORA DIZ QUE VAI PEDIR INDENIZAÇÃO

Moradores do prédio número 138 dizem ainda que as obras do metrô danificaram a rede de luz. Também se queixam de falhas no abastecimento de água e gás, além de problemas no sistema de telefonia e internet. A consultora Doris Wine, que mora no prédio e hospeda turistas em seu apartamento, num sistema de bed and breakfast, conta que, assustados com os problemas nesse trecho da Barão da Torre, os clientes sumiram.

— Quando vieram injetar o cimento no subsolo, acabaram concretando as caixas de luz e telefonia. Eu tive perdas no meu negócio e pedi uma indenização. O consórcio que cuida das obras disse que não vai pagar, mas eu vou recorrer na Defensoria Pública. O concreto entupiu o esgoto da rua, e a minha casa inteira ficou cheirando como uma fossa — reclama a moradora.

No mesmo endereço, devido aos danos na rede de luz, a fiação que deveria ser subterrânea hoje está exposta, presa às paredes do prédio. Síndico do edifício, Rômulo Polpronieri se diz cansado de tantos problemas. O condomínio não entrou com pedido de indenização, mas Rômulo enviou uma carta para o Consórcio Linha 4 Sul pedindo auxílio na reforma.

— Essa obra do metrô está aí há dois anos. O tatuzão passou estourando tudo e depois tiveram que cimentar. Quebraram a instalação elétrica e de gás. Agora, os cabos passam por fora da terra. Também precisamos de um segurança porque os portões não fecham, empenaram. Toda vez que ligam o tatuzão, acontece um novo problema — diz ele.

Em frente ao prédio 141, onde um andaime com tapumes foi instalado, ainda é possível ver parte da cratera que se abriu sob a portaria em maio. O vidro do portão, que quebrou ao ser atingido por um pedaço da marquise, ainda não foi consertado. Dois prédios vizinhos também apresentam rachaduras no chão e nas paredes.

Nas janelas dos apartamentos da Barão da Torre, é possível ver o protesto silencioso de moradores estampado em faixas que dizem “S.O.S.” e “Escavando terror”. Muitos dos prédios também tiveram pequenas réguas fixadas nas paredes, para facilitar as constantes medições feitas para monitorar as rachaduras.

Segundo o Consórcio Linha 4 Sul, há dois seguranças contratados para a vigilância dos edifícios e os portões serão consertados assim que a Barão da Torre for totalmente liberada. A empresa informou que os prédios desse trecho entrarão num programa de reurbanização, com a reforma das redes, que começará logo após a passagem do tatuzão.

CONSÓRCIO DIZ QUE PRODUTO É BIODEGRADÁVEL

Em nota, o consócio disse ainda que o material que vazou na segunda-feira, usado na perfuração com o tatuzão, é “essencialmente constituído de um polímero biodegradável de fácil remoção”, sem risco de obstrução das galerias pluviais, para onde foi escoado. Já as causas do problema ainda estão sendo analisadas. Na manhã desta terça-feira, operários montavam uma barreira com sacos de areia para conter outros vazamentos.

A previsão é que a obra do metrô seja entregue no primeiro semestre de 2016. De acordo com o “RJTV”, da Rede Globo, de um total de cinco quilômetros que precisam ser escavados, o tatuzão avançou 450 metros (cerca de 10% do total). O secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osorio, informou nesta terça-feira que o cronograma das obras não sofreu alteração após o vazamento. A avaliação é que não houve qualquer dano estrutural e que a profundidade das escavações (a uma média de 18 metros) é segura.

— Aquele material é utilizado durante toda a perfuração, mas ali encontrou um caminho para cima e chegou até a superfície. O tatuzão não parou de rodar em nenhum momento.

Ele disse também que, até a primeira quinzena de março, a Barão da Torre vai estar totalmente liberada. Na sexta-feira, haverá uma reunião com moradores para tirar dúvidas.
Fonte: O Globo, 14/01/2015

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