A crise cada vez mais intensa na indústria automobilística levou as montadoras a colocar em férias coletivas milhares de trabalhadores em todo o país. A medida vinha sendo negociada com o sindicato dos metalúrgicos como uma saída para evitar demissões, ainda. Mas, será que essa é a solução?
É evidente que não! O clima é de muita apreensão entre os funcionários, embora não tenham ocorrido demissões. As férias coletivas são uma forma de evitar a dispensa de trabalhadores. Empregados permanecerão longe da produção até o fim do mês com o objetivo de reduzir os estoques, que crescem sem parar com a retração do consumidor e a queda das vendas.
Tenho escrito aqui repetida vezes sobre a ferrovia, como caminho viável para sairmos da crise econômica que assola o nosso país. Muitas vezes incompreendido e motivo de piadas e gozação. Comentários, inclusive, de que eu deveria escrever sobre outro assunto foram sugeridos. No devido tempo, é claro, vou incorporar ao nosso debate outros temas importantes.
No momento, é fundamental compreender que o modelo de desenvolvimento, que serviu há décadas, já não serve para atender nossa demanda de transporte, mobilidade e serviços. Vender carros e caminhões está na contramão do mundo. Não pode ser prioridade. Mas, sim coadjuvante. A prioridade para o transporte, tanto de massa como de carga, tem que ser o ferroviário por vários motivos: Primeiro, porque é ecologicamente correto, mais econômico, mais barato, seguro, transporta muito mais pessoas e cargas. Segundo, reduziríamos os congestionamentos nas cidades, stress, poluição, tempo para se deslocar até o trabalho. Terceiro, nas estradas, reduziríamos o desperdício de mercadorias, o frete, os acidentes fatais, e com a manutenção das rodovias que custam uma fortuna. Isto é economia de dinheiro. Sobraria mais, para investir no social, na saúde, educação e segurança pública. E por último, com relação à mão de obra, podemos aproveitar esses trabalhadores da indústria automobilística na indústria ferroviária, já que atividade é bastante parecida. Ou seja, linhas de produção para locomotivas, vagões, peças, trilhos, dormentes para ferrovias. Essa é a saída. Pensar no coletivo. E não no transporte individual. Um carro só pode transportar até cinco pessoas. Um VLT 600. Metrô e trem de ferro muito mais. Nas estradas, um caminhão só pode transportar 120 toneladas. Um comboio de trem, como esse que corta o nosso Mato Grosso, pode carregar os 100 vagões com 12 mil toneladas.
O que estamos percebendo com esse novo olhar é que a ferrovia é articuladora. É, ao mesmo tempo, uma indústria, criadora de muitos empregos e dinamizadora da economia, é também, uma solução para a mobilidade urbana e interurbana. Com isso, garante o direito das pessoas a se deslocarem com liberdade. Traz um modelo de locomoção, adotado em vários países, com menos stress. Além disso, é um modelo cultural que rompe com o individualismo e o isolacionismo das pessoas, orienta o transporte para a coletividade e à solidariedade.
Na encíclica “Laudado Si” (Louvado Seja) – Sobre o cuidado da casa comum, de autoria do Papa Francisco, divulgada no último dia 18/6, o Santo Padre alerta: “A relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do paradigma que deriva da tecnologia, a busca de outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a grave responsabilidade da política, a cultura do descartável e a proposta de um novo estilo de vida são os eixos desta encíclica, inspirada na sensibilidade ecológica de Francisco de Assis”.
O Papa condena o consumismo e o modelo destrutivo do Planeta. Os milhões de automóveis poluem a Terra e nos estão levando a um caminho de destruição. Está na hora de mudar isso!
Vicente Vuolo é economista, cientista político e analista legislativo do senado federal.