RIO – O primeiro dia da volta dos bondinhos de Santa Teresa foi marcado por longas filas e espera de mais de uma hora pelo transporte. Dos quatro bondes aptos a operar nesta fase de pré-operação, três foram colocados em circulação, transportando mais de 1600 passageiros. No final da manhã, cerca de 70 pessoas – maioria turistas – aguardavam pelo bonde na estação do Largo do Curvelo, com um tempo de espera de até 40 minutos. Na estação do Largo da Carioca, as filas eram ainda maiores, com espera de mais de uma hora. O gerente de logística Ifraim Rosa, de São Paulo, estava acompanhado pela mulher e pelas quatro filhas e ficou descontente com a falta de estrutura.
— O sistema está entrando em operação hoje, mas de forma ineficiente. Está demorando muito. Também senti falta de informações de segurança mais detalhadas. Para o turista, não está legal — afirmou Ifraim.
Moradora de Santa Teresa há quatro anos, a musicista Flávia Belchior, de 33 anos, disse que falta preocupação do governo com o objetivo principal do bonde, que é servir como meio de locomoção para quem vive no bairro.
— De 10 quilômetros no total, estão entregando menos de dois. É uma tentativa de dizer que as obras estão andando, sendo que os moradores acompanham diariamente o descaso de uma obra que é feita e refeita. Estão entregando esse primeiro trajeto como uma resposta turística, pois não atende às necessidades dos moradores.
A advogada Ana Lúcia da Silva, de 48 anos, fez coro e cobrou um sistema que priorize os moradores da região. Ela criticou as longas filas que acabam prejudicando quem mais precisa utilizar o transporte.
— É preciso criar condições de uso que dê prioridade aos moradores. Caso contrário, será sempre esse problema que estamos vendo hoje. Quem precisa descer para trabalhar não tem tempo para enfrentar as filas. Ou seja, as pessoas que vivem no bairro são as mais sacrificadas em toda essa história — desabafou a advogada.
O secretário estadual de Transporte, Carlos Roberto Osorio, informou que a operação, nesta segunda-feira, começou com dois veículos em circulação. Porém, no fim da manhã, foi identicado um aumento no número de passageiros e um terceiro bonde incrementou o sistema. Segundo ele, a partir desta terça-feira, o sistema passará a operar com três carros durante todo o dia.
— Os bondes estão se adaptando à realidade do bairro. Esperamos reduzir o intervalo de cada viagem a partir desta terça. Na próxima semana, vamos avaliar os primeiros dias de trabalho e definir a necessidade de expandir o horário de funcionamento e também de colocar um quarto veículo em operação, além de analisar a possibilidade de circulação aos domingos — explicou Osorio.
BONDE DEVE CHEGAR AO LARGO DOS GUIMARÃES ATÉ SETEMBRO
As viagens, que duram entre 10 e 15 minutos, serão realizadas gratuitamente, de segunda a sábado, das 11h às 16h, com saídas a cada 20 minutos. Os bondes farão o percurso de 1,7 quilômetros entre a estação do Largo da Carioca e o Largo do Curvelo. O retorno do tradicional bondinho acontece quatro anos depois do acidente que deixou seis mortos e mais de 50 pessoas feridas, paralisando totalmente a operação do modal. Desde então, o bairro se transformou em um canteiro de obras, causando transtornos aos moradores devido aos atrasos e aos erros no planejamento da obra.
— Foram anos de abandono e sem informações aos moradores. Apenas esse trechinho de quase dois quilômetros não resolve nada para os moradores, é mais uma viagem para turistas. Queremos o bonde em todo o bairro, como sempre foi. Vamos acreditar que tudo vai dar certo, pois de promessas estamos cheios — desabafou Marli Soares, moradora de Santa Teresa há 40 anos.
O motorneiro Marcos Celestino cruza os Arcos da Lapa com seus primeiros passageiros – ANTONIO SCORZA / Agência O Globo
A nova promessa do secretário de Transportes é de que até o fim de setembro o trecho até o Largo dos Guimarães seja concluído. Segundo ele, caso o prazo não seja respeitado, o governo não descarta o rompimento do contrato com a concessionária Elmo-Azvi, responsável pelas obras e multada em mais de R$ 1 milhão neste ano por conta das falhas.
— O cronograma atual prevê o término total das obras no início de 2017. Mas, esse prazo poderá ser antecipado. A partir de setembro, vamos definir novos prazos de acordo com o andamento das obras. Momento que também vamos conversar com os moradores e com a prefeitura para redesenhar o sistema de mobilidade do bairro. Hoje é um dia de comemorar, mas também de pedir desculpas aos moradores pelos transtornos ocasionados nos últimos anos — disse Osorio.
O médico baiano Marcelo Sampaio, de 27 anos, mora há quase três anos em Santa Teresa e acompanhou a impaciência dos moradores com os atrasos das obras:
— O bonde sempre foi muito importante para a locomoção no bairro. A ansiedade para o fim do caos gerado é enorme. A partir de agora, minha qualidade de vida dará um salto, já que não me sinto seguro dentro dos micro-ônibus que circulam em Santa Teresa.
Já nos novos bondes, a segurança é prioridade, garante o motorneiro Luiz Balman, que há 17 anos conduz moradores e visitantes pelas ruas de Santa Teresa. Apesar de ter presenciado o acidente e de ter perdido um colega de profissão, ele diz que sua paixão é trabalhar no bondinho.
— O dia do aciente foi horrível. Eu estava subindo com passageiros em outro veículo. Ficamos um tempo sem trabalhar, depois atuamos na SuperVia até começarem a fabricar os novos bondes. Ficamos na fábrica acompanhando todo o processo para aprendermos a operar o novo sistema, que é mais moderno. A grande novidade é o freio que chamamos de sapata magnética. Quando acionado, ele trava no trilho, como um imã — contou.
TURISTAS APROVEITAM A VOLTA DO BONDE
A cada chegada na estação, o ritual se repetia: palmas e gritos celebravam o retorno do bondinho, que deixa o passeio por Santa Teresa ainda mais especial. Pela primeira vez no Rio, a francesa Anne Sophie, de 30 anos, não abriu de mão de estar entre os 32 passageiros que estrearam o novo bonde.
— Santa Teresa é um bairro eclético, diferente. Eu sabia que bondes cortavam o bairro, mas não esperava estar aqui para conferir o retorno do tradicional veículo. Estou aguardando desde cedo para fazer a viagem — contou, entusiasmada.
A guia de turismo Françoise Sztajn, de 51 anos, mora na cidade há mais de duas décadas e diz que os turistas ficam decepcionados quando visitam Santa Teresa e não encontram os bondes.
— O bairro havia perdido um dos seus principais atrativos. Além disso, a região ficou feia por conta dos canteiros de obras. Os turistas perguntam, reclamam, mas não há o que fazer. Estou feliz em fazer a primeira viagem do novo bonde e espero que esse símbolo carioca permaneça operando.
O estudante Ederson Alflen, de 24 anos, estava com o voo marcado de volta para Florianópolis, sua cidade natal, para a manhã desta segunda. No entanto, apesar de não ter passado por boas experiências no transporte da cidade, a notícia de que o bonde voltaria a operar fez com que Ederson aguardasse desde cedo na estação do Largo do Curvelo.
— Tive muitos problemas para acessar Santa Teresa. Muitos taxistas não quiseram subir e os ônibus também não ajudaram. O bairro é incrível, bucólico, com palacetes históricos muito bonitos. O bonde mantém essa identidade, além de ser um meio de transporte importante para a região. Não posso ir embora sem ter essa experiência. Perco o avião, mas não perco o bonde — brincou Ederson.
Fonte: O Globo, 27/07/2015
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