Gerdau tem perda de R$ 1,95 bi no 3º tri

Diante do cenário de desaceleração do setor siderúrgico no mundo e de acentuada queda das vendas no Brasil, a Gerdau decidiu reorganizar sua situação financeira no terceiro trimestre.

O grupo focou na geração de caixa livre, eliminou os “covenants” (cláusulas contratuais restritivas de endividamento) nos contratos de financiamento com bancos comerciais e, ao mesmo tempo, antecipou o reconhecimento de perdas pela não recuperabilidade de ativos (“impairment”) e a baixa de créditos fiscais de difícil aproveitamento no curto prazo.

Nesta semana, a empresa também renovou por três anos uma linha de capital de giro de US$ 1 bilhão com um “pool” de nove bancos, que pode ser acessada por todas as suas operações no mundo. Ontem, mesmo dia em que divulgou o balanço trimestral, anunciou uma oferta primária de ações ordinárias e preferenciais da Metalúrgica Gerdau com a expectativa de captar R$ 1,3 bilhão. Segundo seu presidente, André Gerdau Johannpeter, a emissão servirá para amortizar dívidas e melhorar a liquidez da controladora, cujo endividamento financeiro líquido é de R$ 2,1 bilhões.

As baixas contábeis referentes ao “impairment” e aos créditos fiscais somaram R$ 2,15 bilhões e foram as principais responsáveis pelo prejuízo de R$ 1,95 bilhão no trimestre, ante lucro de R$ 262 milhões no mesmo período de 2014. O impacto, entretanto, não teve efeito sobre o caixa e sem ele o resultado seria positivo em R$ 193 milhões, disse Johannpeter. O lucro operacional, conhecido pela sigla Ebitda, foi negativo em R$ 602 milhões, ante R$ 1,22 bilhão em igual base comparativa.

A eliminação dos “covenants” vinculados à relação entre dívida líquida e Ebitda foi acertada com 16 bancos de “relacionamento muito forte” com a Gerdau, disse o vice-presidente executivo de finanças, Harley Scardoelli. Segundo ele, o acordo permite ao grupo manter a estratégia de redução do endividamento sem o risco de quebrar as cláusulas contratuais num momento de volatilidade do mercado. A linha de crédito renovada este mês não contém este dispositivo, disse o executivo.

No terceiro trimestre a relação dívida da líquida com o Ebitda da Gerdau atingiu 3,8 vezes, ante 2,7 vezes no mesmo período de 2014 e 3,1 vezes no segundo trimestre deste ano. Porém, para Scardoelli, é “razoável” estimar que o grau de endividamento da companhia começará a recuar dentro de dois trimestres, pois não existe tendência de “crescimento contínuo” do passivo.

Conforme o executivo, a elevação da alavancagem no terceiro trimestre foi influenciada pelo impacto da variação cambial sobre a parcela da dívida em dólar. Em compensação, a partir de agora a geração de caixa acumulada em 12 meses em moeda americana também se fortalecerá com as receitas das operações no exterior e das exportações a partir do Brasil, acrescentou. “A situação deve ser normalizar já no curto prazo”, afirmou ele.

A geração de caixa livre pela Gerdau somou R$ 1,646 bilhão no período de julho a setembro, ante R$ 679,5 milhões no mesmo intervalo de 2014. A estratégia do grupo incluiu um controle rigoroso sobre a necessidade de capital de giro, que avançou R$ 426 milhões de junho para setembro por conta da desvalorização do real na contabilização das operações no exterior. Sem a variação cambial, porém, o “efeito caixa” foi uma redução em R$ 1,259 bilhão, informou a companhia.

Os investimentos somaram R$ 508,6 milhões no trimestre e R$ 1,769 bilhão nos nove meses, ante R$ 438 milhões e R$ 1,59 bilhões nos mesmos períodos de 2014, respectivamente. Apesar da alta, o montante acumulado no ano ficou abaixo das depreciações e amortizações, que somaram R$ 1,9 bilhão em nove meses.

Segundo Scardoelli, o nível de aportes já é praticamente o mínimo para a manutenção dos negócios e os únicos novos projetos em andamento são a instalação do laminador de chapas grossas na usina Ouro Branco (MG) e a construção da nova aciaria na Argentina. As duas plantas entrarão em operação no segundo semestre de 2016. Neste ano, os aportes deverão superar o montante de R$ 1,9 bilhão previsto inicialmente, também devido ao efeito do câmbio sobre os investimentos no exterior, disse Johannpeter.

A receita líquida consolidada da Gerdau cresceu 11,4% no terceiro trimestre, para R$ 11,92 bilhões, puxada pelo efeito cambial sobre as vendas na América do Norte e sobre as exportações de aço a partir do Brasil, que cresceram 178,7% em volume, para 811 mil toneladas, e 137,7% em valor, para R$ 1,16 bilhão. Já no mercado interno, o volume caiu 17,7%, para 1,127 milhão de toneladas, e a receita recuou 19%, para R$ 2,56 bilhões. Na América do Norte as vendas físicas caíram 3,5%, para 1,66 milhão de toneladas, mas cresceram 26,6% em reais, para R$ 4,83 bilhões.

Fonte: Valor Econômico, 30/10/2015

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