RIO – Com atrasos sistemáticos nas obras de reformulação do sistema de bondes de Santa Teresa, foi inaugurado nesta segunda-feira a segunda etapa do projeto ferroviário da região: o trecho que liga o Largo do Curvelo ao Largo dos Guimarães, um dos polos gastronômicos do local. O passeio inaugural foi feito por volta das 11h com a presença do secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório, e logo uma multidão de pessoas se aglomerou na Estação Carioca para fazer o trajeto, que é gratuito nessa fase chamada de pré-operação. Como a antiga linha que ia até a Rua Francisco Muratori, na Lapa, está em fase de conclusão, Osório anunciou que pretende unir, à noite, até fevereiro, dois dos locais mais boemios do Rio. A via férrea que liga até a Lapa, destruída nos temporais de 1966, será inaugurada na primeira quinzena de janeiro, segundo o secretário.
— Temos uma novidade. A nossa ideia é reunir essas duas regiões boemias da cidade também à noite nos fins de semana. De forma que o frequentador da Lapa possa subir e curtir Santa Teresa à noite e vice-versa. Com isso, a gente une, com o bonde, os dois principais polos gastronômicos e de lazer do Rio de Janeiro — afirmou o secretário. — Isso será possível após a complementação desta etapa importante da chegada dos bondes ao Largo dos Guimarães, ao coração de Santa Teresa. Já estamos olhando para frente. E a próxima etapa é colocar em circulação os bondes num percurso que não funcionava desde 1966, da Lapa, na Rua Francisco Muratori, esquina com a Rua do Riachuelo, até o alto de Santa Teresa e ao Largo da Carioca. Esse serviço foi descontinuado nas enchentes de 1966 e volta a funcionar agora em janeiro com passageiros no horário normal durante o dia.
— As novas linhas Francisco Murotoni-Largo dos Guimarães-Carioca será inaugurada, provavelmente, depois do carnaval. Mas vamos estudar. Estaremos prontos para operar à noite no carnaval, mas nossa preocupação é que, como a cidade fica muito cheia nessa época, e temos uma quantidade muito grande de blocos, tanto em Santa Teresa e no movimento da Lapa, isso não seja viável. Vamos conversar com a Riotur para saber se é adequado inaugurar esse serviço no carnaval ou se deixamos a novidade para depois da festa — afirmou o secretário.
Na fase de pré-operação, o sistema funcionará das 11h às 16h. Das 15 composições previstas para todo o sistema, cinco estão sendo usadas para ligar a Carioca ao Largo do Cuverlo e ao Largo dos Guimarães. Quando toda a obra estiver pronta, o que é previsto pela Secretaria estadual de Transportes para 2017, o horário será ampliado.
— Vamos conversar com os moradores para decidir tudo sobre o bairro. Queremos saber a opinião deles sobre o horário de funcionamento. Certamente, precisaremos usar os bondes nos horários de pico. Mas precisamos saber, já que o bonde faz um certo barulho ao se movimentar, se os moradores querem que funcione até às 18h, 19h, 20h. E que horas deverá começar a circular: se às 6h, às 7h. Vamos ouvir a população — garantiu Osório, que anunciou ainda a ideia de fazer a integração dos bondes com o transporte público municipal. — A ideia é que o preço da passagem do bonde seja menor do que a tarifa dos ônibus. Mas estamos vendo a questão de quem queira usar o transporte público municipal integrado aos bondes. Aí, o usuário pagaria R$ 3,40 e poderia usar ônibus também.
Uma das primeiras passageiras a embarcar no bonde que reinaugurou a linha Carioca – Largo dos Guimarães, a administradora de empresas Loyse Soares, de 40 anos, festejou.
— Para a gente é a volta de uma cultura para o Rio de Janeiro. Por que isso aqui é um marco de Santa Teresa. Turistas vêm aqui, as pessoas de todos os lugares vêm aqui e querem conhecer o bonde. Ele traz vida para o bairro. É isso que é importante. É fazer o bairro respirar novamente. O bonde faz parte do marco cultural da cidade.
Outro que estava eufórico era o analista jurídico Diego Santana, de 29 anos.
— Convoco todos os moradores, todos os amigos e familiares que vivem aqui no bairro a prestigiar o retorno (do bonde) para que possamos ficar mais tranquilos depois de tanto tempo de ausência. E vamos comemorar.
Emidio Dandrea, presidente da Associação de Moradores de Santa Teresa, viu a festa na chegada do bonde ao Largo dos Guimarães, mas disse que é preciso fazer mais.
— Essa é a segunda etapa. Com certeza é uma melhoria para o bairro, mas o ideal é chegar ao final, pois não está atendendo as comunidades. Quem usa hoje os bondes são moradores das comunidades. Oitenta por centos dos usuários dos bondes vêm delas. Mas está chegando lá. Precisamos de mais agilidade.
Maria Edileuza Batista da Silva, de 57 anos, dono do Bazar da Edileuza, bem em frente à estação do Largo dos Guimarães, disse que pretende recuperar a freguesia perdida.
— Muito bom! Espero que seja sempre assim. Nos deixou muito felizes. As pessoas precisavam desse bondinho de volta. Moro aqui há 37 anos e tenho esse comércio há 23. A falta dos bondes afetou muito o meu negócio. Pode botar 85% de vendas deixaram de ser feitas. Sempre usei muito os bondes. Meus filhos iam para o colégio, voltavam para casa de bonde. É muito bom ter o bondinho de volta —
Antes do embarque para a viagem inaugural, Carlos Roberto Osório celebrou:
— Hoje é um dia marcante para o serviço de bondes de Santa Teresa. Com passageiros, retomamos o serviço ao coração do bairro, que é o Largo dos Guimarães, e isso significa que nós estamos avançando. Temos, agora, em nosso cronograma três quilômetros de vias sendo construídas entre a Praça Odylo e o Largo do França. E a entrega completa do projeto será em 2017. Tivemos dificuldades , mas o bonde está de volta e agora ele chega ao coração do bairro de Santa Teresa e acho que isso é um motivo de comemoração para o Rio de Janeiro.
Sobre as medidas de segurança para evitar acidentes como o de 2011, quando cinco pessoas morreram e 57 ficaram feridas, o secretário garantiu que os bondes novos são muito seguros.
— Todo o cuidado nesse projeto foi tomado. Primeiro na construção dos bondes, que guardam características históricas dos bondes do passado, mas eles têm uma configuração mecânica e, principalmente de freios, de última geração. Nós temos nesses novos bondes quatro sistemas de freio, inclusive o quarto freio, que é o de emergência, é magnético e funciona sob qualquer condição. Nossa maior preocupação é segurança. Por isso, antes de colocar qualquer bonde em circulação são feitos testes exaustivos. Não apenas nos bondes como também na via permanente, nos trilhos. Estamos avançando paulatinamente. O serviço que hoje volta a ser entregue à população é seguro, testado, e pode garantir a tranquilidade a qualquer usuário — afirmou.
Fonte: Extra, 28/12/2015