No corre-corre apressado de trabalhadores, uma via em transformação. Marco histórico da cidade por ligar o Porto à Avenida Beira Mar, a Rio Branco começa a ganhar uma nova configuração, em meio a obras. Os trilhos do VLT já ocupam seus quase dois quilômetros de extensão. Entre as duas faixas do novo sistema e as outras duas para carros e ônibus, a pista voltará a ter um canteiro central, que começa a receber vegetação. Para alguns historiadores, a avenida que segue rumo ao futuro também resgata o seu passado.
PROJETO PREVÊ BOULEVARD
Quando foi inaugurada, em 1904, os dois sentidos da então Avenida Central eram separados por pequenos canteiros. Em cada um deles, havia postes de iluminação, como mostram as fotos do alagoano Augusto Malta, um dos principais fotógrafos da evolução urbana do Rio no início do século passado. A abertura da avenida permitiu que a burguesia pudesse caminhar por ela, em trajes elegantes. Com o passar do tempo, charretes deram espaço para carros, bondes e, agora, VLTs, que terão seis pontos para embarque e desembarque de passageiros.
O projeto na avenida inclui ainda um boulevard, entre a Avenida Nilo Peçanha e a Rua Santa Luzia. A partir do dia 16, o trecho será fechado em definitivo ao tráfego de veículos. Para o historiador Antonio Edmilson Rodrigues, professor da PUC-Rio, o calçadão na área histórica dialoga com seu passado:
— Podemos verificar isso através da promessa do prefeito de transformar a avenida novamente em boulevard. Não é uma repetição do passado, mas há um diálogo.
Na Avenida Rodrigues Alves, o VLT seguirá por cima de um gramado até chegar à Praça Mauá. De um lado, será possível observar as antigas construções da Zona Portuária e, do outro, o mar e a vista para a Baía de Guanabara.
— Quem passa hoje pela Rodrigues Alves, onde antes tinha a Perimetral, toma um susto. O que o VLT faz é permitir que as pessoas passem a olhar o Centro de outra maneira. A velocidade baixa, como era o bonde de antigamente, também é muito interessante, porque vai dar para acompanhar a paisagem.
Autor do livro “Rio Belle Époque”, o escritor Alexei Bueno acredita que o projeto também vai permitir a integração dos equipamentos culturais da cidade:
— As extremidades da Rio Branco são valiosas. O VLT fechará, portanto, um circuito histórico e de equipamentos culturais dos mais importantes do país. Para o turismo, será excelente. Já para a famosa e trágica mobilidade do Rio, só vendo como irá funcionar.
HISTORIADOR CRITICA PROJETO
O historiador Nireu Cavalcanti, no entanto, critica o VLT na Rio Branco:
— Esse projeto não tem a menor relação com a história da avenida. Antigamente, os bondes estavam inseridos numa escala onde se podia conviver tranquilamente os carros, os pedestres e o bonde. Não é o caso do VLT. Em nenhum centro histórico no mundo tem um veículo desse porte circulando.
Por enquanto, operários trabalham no acabamento e na limpeza da via para deixar tudo pronto até abril, quando deverá ser implantada a primeira linha do sistema, ligando a Rodoviária ao Aeroporto Santos Dumont. Segundo o presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto, Alberto Silva, 90% das obras estão concluídas na Rio Branco.
— Quem seguir para a Avenida Beira Mar poderá embarcar e desembarcar nos canteiros. A grama usada é do tipo amendoim, uma espécie mais resistente, que exige menos manutenção.
Fonte: O Globo, 06/01/2016