Trem de levitação magnética abre as portas para o público na UFRJ

RIO — Como um tapete mágico, flutuando silenciosamente e sem poluir o meio ambiente, o trem de levitação magnética (Maglev-Cobra), desenvolvido há 16 anos pela Coppe/UFRJ, abriu as portas para o público, nesta terça-feira, na Ilha do Fundão. As viagens na linha experimental de 200 metros, que liga o Centro de Tecnologia (CT) ao Centro de Tecnologia 2 (CT 2), serão realizadas todas as terças-feiras em dois horários distintos: de 11h as 12h e de 14h as 15h.

Com os testes, os pesquisadores do Laboratório de Aplicações de Supercondutores da Coppe/UFRJ pretendem conseguir, ano que vem, a certificação para operar o trem comercialmente. Para o professor Richard Stephen, coordenador do projeto, seria viável a construção, a partir de 2020, de uma linha de cinco quilômetros ligando o BRT Transcarioca ao Parque Tecnológico.

— Essa construção seria a nossa abertura para o mundo. O veículo está sendo desenvolvido para ser usado na malha urbana, não é de alta velocidade. No ano passado, conseguimos fazer os ajustes necessários para agora abrir ao público com segurança – disse Stephan, ressaltando as vantagens do novo modal. — Além do silêncio e do menor consumo de energia, o custo chega a ser três ou até cinco vezes menor do que o metrô subterrâneo. Se formos comparar com o VLT ou um monorail, é bem provável que chegue a um custo similar.

O professor sugere ainda a criação de oito estações ao longo do campus da UFRJ: Parque Tecnológico, Incubadora de Empresas da Coppe, Reitoria, Faculdade de Letras, Centro Tecnológico, Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras/Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cenpes/Cepel), Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e Terminal Rodoviário.

— Isso ainda é objeto de estudo. O Programa de Engenharia de Transportes está desenvolvendo um estudo de demanda — pontuou.

Ele explica que, em vez de roda, o trem de quatro módulos utiliza levitação. A pista de testes possui placas de ímãs instaladas nos dois lados. No meio, supercondutores impedem a passagem do campo magnético, fazendo o veículo flutuar cerca de 1 cm.

Por ser uma linha experimental, o Maglev-Cobra transporta 10 passageiros por viagem (podendo chegar até 30 pessoas) com uma velocidade de 10 km/hora. No entanto, de acordo com Stephan, é possível conectar novos módulos, de 1,5 metro de comprimento cada, e aumentar a capacidade do veículo, que, em percursos mais longos, pode chegar a 100 km/h.

Assim como alunos, funcionários e professores, a pesquisadora Marta Amorim, de 54 anos, resolveu dar um passeio no novo veículo na manhã desta terça-feira. Agora, ela espera que o novo modal seja aplicado em larga escala.

— Não teve trepidação. Gostei mais do silêncio e da maciez. Parecia que eu estava flutuando. O metrô sacode, por exemplo — afirmou.

Desde 2000, quando começaram as pesquisas para a aplicação da levitação voltada para o transporte urbano, já foram investidos cerca de R$ 15 milhões, segundo o coordenador do projeto. A maior parte dos recursos veio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio (Faperj) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo Stephan, a inauguração do trecho, prevista para o ano passado, não ocorreu devido à falta de recursos. O professor aguarda novos investidores para que o veículo possa ser fabricado em escala comercial.

— O ano de 2015 foi um balde de água fria no Brasil. O preço do petróleo ficou lá embaixo, tivemos escândalos de corrupção. Então, ficamos paralisados. O recurso que vinha para o projeto fechou a torneira. Tivemos que dispensar algumas pessoas, porque não havia verbas para mantê-las. Avançaríamos com mais rapidez na parte de testes, se tivéssemos mais recursos — lamenta o professor.

Protótipo do trem desenvolvido pela COPPE/ UFRJ que usa levitação gravitacional é aberto ao público para testes com carga – Gabriel de Paiva / Agência O Globo

De acordo com Stephan, o Maglev-Cobra é o primeiro veículo no mundo a transportar, em escala real, passageiros utilizando levitação magnética por supercondutividade e ímãs. A mesma tecnologia também vem sendo testada na China e na Alemanha. Outros três veículos desenvolvidos no Japão, na China e na Coreia do Sul utilizam outra forma de levitação: o princípio eletromagnético, que exige malhas de controle para sua estabilização.

Protótipo do trem desenvolvido pela COPPE/ UFRJ – Gabriel de Paiva / Agência O Globo

— A Coreia do Sul passou cinco anos fazendo testes com passageiros até obter a certificação. Então, não estamos indo devagar. Nós estamos indo até rápido. Se a gente conseguir a certificação em 2017, vamos dar um exemplo para todo mundo. Lembrando que lá na Coreia, não faltou dinheiro. Os japoneses estão desde 1975 pesquisando, já fizeram várias linhas de trens. No Brasil, temos muito a ideia de que as coisas acontecem de um dia para o outro. O processo é demorado. Não é tão simples mostrar que existe um caminho alternativo mais interessante — comentou.

Fonte: O Globo, 17/02/2016

 

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