BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO – A Polícia Federal cumpre na manhã desta sexta-feira 44 mandados de busca e apreensão, e outros sete de condução coercitiva em seis estados e no Distrito Federal. Batizada de “O Recebedor”, a operação é baseada em informações obtidas em acordo de leniência e delação premiada fechado com a Camargo Corrêa, empreiteira investigada pela Operação Lava-Jato. As buscas têm como objetivo recolher provas do pagamento de propina para a construção das ferrovias Norte-Sul e Integração Leste-Oeste, além da prática de cartel e lavagem de dinheiro obtido a partir do superfaturamento de obras públicas.
No acordo, a Camargo Corrêa também se comprometeu a devolver aos cofres públicos R$ 800 milhões, dos quais R$ 65 milhões destinados a ressarcir danos acusados à Valec, estatal ferroviária vinculada ao Ministério dos Transportes. A empresa entregou ainda provas contra outras empreiteiras que participaram do esquema e contra José Francisco das Neves, o Juquinha, ex-presidente da Valec.
Um mandado de condução coercitiva foi expedido contra Juquinha. A Camargo Corrêa admitiu ter pago mais de R$ 800 mil em proprina ao ex-presidente da estatal. Em 2012, gravações da PF indicaram que Juquinha teria subornado funcionários da Valec Engenharia para favorecer sua defesa em processos contra corrupção na construção da ferrovia Norte-Sul.
Segundo a PF, foi detectado desvio de mais de R$ 630 milhões somente no estado de Goiás, em trechos executados nas obras da ferrovia. Além de Goiás, 188 agentes realizam mandados no Paraná, Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e no Distrito Federal. Na cidade de São Paulo, os agentes foram à sede da construtora Constran, ligada à UTC, empresa de Ricardo Pessoa, já investigada pela Lava-Jato.
FERROVIA NORTE-SUL
A empreiteira confessou a prática de cartel, corrupção, lavagem de dinheiro e crimes de licitação. Em abril de 2015, O GLOBO revelou que o ex-presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, confessou à Justiça que a empresa pagou propina para executar obras na Ferrovia Norte-Sul. Segundo o empresário, o esquema era similar ao realizado com contratos da Petrobras investigados pela Lava-Jato e abasteceu partidos políticos e agentes públicos.
O Ministério Público de Goiás suspeita que empreiteiras realizavam pagamentos regulares, por meio de contratos simulados, a um escritório de advocacia e a mais duas empresas do estado indicados por Juquinha, que eram usados para lavar dinheiro proveniente de fraudes em licitações públicas.
O nome da operação faz referência à defesa apresentada por Juquinha na investigação anterior intitulada “Trem Pagador”, na qual seus advogados alegaram que “se o trem era pagador, o alvo não fora o recebedor”.
Essa é terceira operação realizada pela PF somente esta semana. Na segunda-feira, foram cumpridos mandados de prisão temporária na 23ª fase da Lava-Jato. O principal alvo foi o marqueteiro João Santana, suspeito de ter recebido U$ 7,5 milhões no exterior originários de propina da Petrobras. Na quinta-feira, a Operação Zelotes teve uma nova fase. Foram expedidos 18 mandados de busca e apreensão e 22 de condução coercitiva, uma delas contra André Gerdau Johannpeter, presidente do Grupo Gerdau.
Fonte: O Globo, 26/02/2016
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