O primeiro trecho do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), no centro do Rio, entrará em operação no dia 22, ligando, de modo inédito, a Rodoviária Novo Rio ao Aeroporto Santos Dumont. Especialistas em planejamento urbano e em transportes, contudo, têm opiniões diversas sobre a novidade. Por um lado, o modal é elogiado por ser ecológico e de alta capacidade; por outro, criticado por desvirtuar o projeto original da Avenida Rio Branco, aberta há 111 anos.
Obra vinculada à Olimpíada, o VLT é desaprovado por urbanistas ouvidos pelo Estadão por ignorar a vocação da Rio Branco de ligar a Baía de Guanabara, da Praça Mauá (seu início), do lado do Porto, à Avenida Beira-Mar, junto ao Aterro (onde termina). O arquiteto e urbanista Luiz Fernando Janot, que representa o Rio no Conselho Federal de Arquitetura e Urbanismo, acha que o traçado deveria ter passado por consulta pública. “É equivocado e imediatista. Desvirtua um símbolo da história do Rio. As cidades são construídas paulatinamente por meio do diálogo com a sociedade. ”
Janot afirmou estranhar o fechamento do trânsito para a criação de um calçadão entre as Avenidas Nilo Peçanha e Presidente Wilson, trecho sem vida comercial, mas de importantes equipamentos culturais: Teatro Municipal, Biblioteca Nacional, Museu Nacional de Belas Artes e Centro Cultural da Justiça Federal. Ali, será criada uma ciclofaixa. Pedestres dividirão o espaço com ciclistas.
O arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), questiona o fato de o trilho passar sobre o centro histórico da cidade – escavações no período das obras mostraram trechos de calçamento do século 19. “Não cabe interromper essa concepção belíssima, mudar o sentido urbanístico da avenida, que é um patrimônio nosso. Os governos são movidos pelos eventos, agora é a Olimpíada. O VLT é bonito? É. Mas é um equívoco. ”
Circunscrito ao centro, o VLT é tratado pela prefeitura como “símbolo da mudança na dinâmica social e econômica vivida pela cidade”. O fato de não fazer uso de cabos aéreos para captar energia elétrica (a alimentação é feita pelo trilho) é ressaltado como dado de modernidade.
O modal se insere no contexto da revitalização da zona portuária.
Os testes vêm sendo feitos desde o ano passado. A inauguração será em esquema de “soft opening”, ou seja, só por algumas horas por dia. Futuramente, o VLT funcionará 24 horas. Para o segundo semestre é aguardada a entrega do segundo trecho de trilhos, da estação ferroviária Central do Brasil à Praça 15, de onde partem as barcas para Niterói. Serão seis linhas, 28 quilômetros e 31 paradas. A tarifa custará R$ 3,80, o mesmo que os ônibus cariocas.
Mas a estreia dos bondes, cujos trilhos vêm sendo instalado há dois anos, incluindo as escavações, suscita dúvidas quanto à segurança dos pedestres. Embora o VLT tenha aviso sonoro, o costume dos cariocas de atravessar as ruas fora da faixa preocupa. Outra expectativa é com relação aos calotes. Como não haverá catracas, o usuário validará o bilhete por conta própria. Fiscais deverão estar nos bondes. Quem não tiver pago a tarifa será multado em R$ 170. Em caso de reincidência, o valor subirá para R$ 255.
Especialista em engenharia de transportes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Alexandre Rojas vê no VLT um “ótimo modal”, mas que será necessário um tempo de adaptação da população tanto na questão da segurança quanto do pagamento. Ele acha “uma bobagem” críticas à sua implementação na Rio Branco. “O bonde existiu dos anos 20 aos 60, então também é um resgate da Rio Branco do passado”, afirmou.
Fonte: Agência Estado, 08/05/2016
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