Ex-executivo da Andrade negocia delação sobre Valec

Um ex-funcionário da Andrade Gutierrez, Rodrigo Lopes, deve fazer delação premiada para revelar fatos sobre a Valec. Lopes era o responsável por negócios da área de ferrovias e já apresentou proposta de delação no âmbito da Operação O Recebedor, deflagrada em 26 de fevereiro em Goiás. A investigação apura suposto esquema de propina a ex-diretores da Valec por empreiteiras contratadas para construir as ferrovias Norte-Sul e Integração Oeste-Leste.

Lopes teria se comprometido a falar sobre políticos – um senador e dois deputados, “não necessariamente de Goiás”, disse uma fonte.

O MPF estima que o superfaturamento nas obras em Goiás some R$ 200 milhões, sem correção monetária, mas que, com as obras em os outros Estados, o prejuízo pode ultrapassar R$ 630 milhões.

A operação é um desmembramento da Lava-Jato. O MPF em Goiás já investigava contratos da Valec e a administração do ex-presidente José Francisco das Neves, o Juquinha. João Auler, ex-presidente do conselho da Camargo Corrêa preso na Lava-Jato, negociou delação e admitiu participação no esquema.

Auler e outros funcionários da Camargo Corrêa, Luiz Otavio Michirefe e Álvaro Soares, confirmaram pagamento de propina entre 2008 e 2011 pelas empresas contratadas para executar a Norte-Sul ao então presidente da Valec.

Rodrigo Lopes, da Andrade, foi apontado por Michirefe como representante da empresa no cartel e “interlocutor” de Juquinha. Michirefe disse que Lopes o procurou em 2011 e “informou sobre solicitação de Juquinha para que houvesse uma cotização das empresas com contratos na Valec, para ajudar nos honorários advocatícios”. Segundo Michirefe, “Juquinha era o responsável por organizar quem deveria ganhar qual lote”.

Álvaro Soares disse que Lopes e Juquinha eram “próximos” e que as reuniões do cartel da Valec ocorriam na sede da Andrade Gutierrez em Brasília. João Auler disse que o cartel começou em 2001.

A investigação identificou direcionamento em editais da Valec por meio de exigências para restringir a concorrência e falta de justificativa técnica para requisitos como fornecimento de dormente de concreto e limitação de lotes que cada licitante podia concorrer. Soares, da Camargo, disse que a Valec utiliza dormente em concreto desde os anos 80, mas “nada impediria a utilização de outro tipo de dormente”. “Do ponto de vista prático, poucas empresas teriam a experiência na área de aplicação do dormente de concreto.”

A Camargo Corrêa se comprometeu a pagar R$ 65 milhões pelos danos dos desvios nas obras. O montante faz parte dos R$ 700 milhões que a empresa se comprometeu a pagar em acordo com MPF do Paraná no âmbito da Lava-Jato.

Helio Telho, procurador de Goiás que conduz o caso, não comenta acordos de delação. A defesa de Juquinha rejeita as acusações, diz que sua evolução patrimonial é idônea e que nada foi provado nas investigações contra ele. A defesa de Lopes não retornou o contato. A Andrade Gutierrez informa que colabora com as autoridades sobre assuntos pertinentes à Lava Jato e, para garantir que não haja prejuízo às investigações, não faz pronunciamento específico sobre processos em andamento.

Fonte: Valor Econômico, 19/05/2016

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