Mobilidade urbana deve ser a única herança para os cariocas depois dos Jogos

A população do Rio de Janeiro sobrevive entre a crise, as obras e as Olimpíadas. Desde que a cidade se tornou sede dos Jogos, o dia a dia tem sido tenso, complicado, principalmente no que diz respeito à mobilidade. E é exatamente nesse setor que o legado deve ser maior para moradores e turistas da cidade, dos 27 projetos prometidos pelo Plano de Políticas Públicas.

A mobilidade, o meio ambiente, a renovação urbana e a área social – esporte, educação e cultura – seriam englobados nos tais projetos. O prazo de cerca de 12 anos e os R$ 24,6 bilhões destinados a eles não foram suficientes, porém, para completar todas as construções, mesmo com a entrada da iniciativa privada na maior parte das obras. Assim, durante esse período, o Rio de Janeiro viu críticas chegarem, principalmente, em quatro assuntos: a despoluição da Baía de Guanabara, lagos e rios; o acidente na ciclovia do elevado do Joá; o trânsito mais pesado em toda a capital; e as reclamações quanto às desapropriações – as últimas apareceram antes mesmo das obras para a Copa do Mundo de 2014.

“O maior legado, sem dúvida, será a mobilidade urbana”, afirmou Orivaldo Perin, diretor de Relações Institucionais da Supervia, que toma conta do sistema de trens que sai da Central do Brasil. A empresa é da Odebrecht, que convidou um grupo de jornalistas para visitar as obras tocadas e mantidas por ela e ligadas às olimpíadas. Uma das prioridades da organização, uma das mais citadas na Operação Lava-Jato, é manter as operações desligadas do que aparece no esquema de corrupção. A Odebrecht faz parte da maioria dos consórcios de construções no Rio de Janeiro.

“Antes, eu pegava a linha Belford Roxo. Mudei de endereço e comecei a usar a linha Deodoro. Não tem comparação, tanto na qualidade dos trens quanto nos atrasos, por exemplo”, conta a ajudante administrativa Victoria Baptista, 33 anos, lembrando de um detalhe fundamental para uma carioca como ela: o ar condicionado que funciona nos carros. “Deu para sentir a diferença porque eu uso só trem e metrô para me locomover. Quem pega ônibus só reclama. O negócio agora é saber se essas melhorias serão mantidas depois das olimpíadas, né? Geralmente, eles tiram tudo depois”, critica Victoria, já acostumada com as “maquiagens” feitas por governos anteriores em grandes eventos.

O VLT, o trecho do metrô entre Ipanema e a Barra, as reformas no aeroporto do Galeão e a TransOlímpica são outros pontos trabalhados durante o período. A pressa foi maior no tocante aos Jogos Olímpicos. O trecho do metrô que vai até a Gávea, por exemplo, ficou para 2018. Funcionaram também as obras que não afetam o dia a dia do carioca, como a ampliação do Galeão. O consórcio que responde pela construção, a RIOgaleão, fez as reformas em 18 meses, mas prazo não é problema quando se tem R$ 5 bilhões à mão para gastar durante 30 anos.

No Porto Maravilha, a destruição de uma via e a construção de um viaduto mexeram com a vida dos cidadãos. Os engarrafamentos aumentaram, em um primeiro momento. Alguns moradores do Condomínio da Saúde tiveram que sair de casa duas vezes por dia para não correr riscos com as explosões para a abertura de duas pistas debaixo de um morro. “Fazer uma obra desse porte, em uma região habitada, com implosões, não é fácil. Mas a própria população local foi bastante compreensiva”, lembra José Renato Rodrigues Pontes, diretor-presidente da concessionária Porto Novo, que conta com R$ 7,5 bilhões desde 2011 para construir e manter o espaço até 2026. Outra vedete dos Jogos deve ser o Veículo Leve sobre Trilhos, que ligará o Aeroporto Santos Dumont à Rodoviária Novo Rio.

Fonte: Correio Braziliense, 04/08/2016

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