Mesmo com um déficit bilionário, o governo do estado planeja tirar da gaveta um projeto antigo: o da expansão do metrô até o Recreio. Seriam 24 estações num trecho de aproximadamente 20 quilômetros sob a Avenida das Américas. O governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito Marcelo Crivella discutem buscar ainda este ano no mercado imobiliário os recursos necessários para a obra, como adiantou, nesta segunda-feira, o Blog do Moreno, do GLOBO. A operação que está sendo elaborada prevê a venda de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs), que permitirão a construção de prédios no entorno das avenidas das Américas e Ayrton Senna com gabarito acima do previsto em lei, além do acréscimo de pavimento em edifícios existentes. O aumento em discussão é de até um andar e meio.
O dinheiro arrecadado iria para um fundo destinado à expansão. A nova linha seguiria sob a Avenida das Américas, e as escavações, afirma o governador, seriam feitas com o tatuzão, hoje parado à espera da retomada as obras da Estação Gávea que não foi concluída por falta de recursos. Estado e município já formaram um grupo de trabalho para executar o projeto.
— A obra será pelo canteiro central, com pouca desapropriação — diz Pezão, explicando que a operação dos Cepacs neste caso seria semelhante à do Porto Maravilha, cujo dinheiro arrecadado foi investido em obras de infraestrutura na região.
SERIAM CINCO ESTAÇÕES ATÉ O ALVORADA
Segundo o secretário estadual de Transportes, Rodrigo Vieira, a ampliação será feita em duas etapas: a primeira do Jardim Oceânico até o Terminal Alvorada (intercessão das avenidas Ayrton Senna e das Américas), e a segunda até o Recreio.
— Pelos estudos conceituais, são cinco estações do Jardim Oceânico ao Alvorada, e o restante até o Recreio. A última estação ficará depois da Avenida Glaucio Gil. A obra é uma linha reta, passando por baixo das Américas — conta o secretário. — Esse projeto não tem o grau de complexidade da Linha 4 (Ipanema-Barra) devido à menor quantidade de prédios no entorno.
A localização das estações, afirma Vieira, ainda será tema de debate com moradores. Nos cálculos do secretário, dificilmente haverá tempo hábil para que as obras comecem ainda este ano. O valor do projeto também não foi estimado.
— As reuniões entre estado e município estão acontecendo desde janeiro. A primeira coisa que tem que se fazer é estruturar a operação urbana consorciada e arrecadar recursos com as Cepacs. Temos projetos conceituais de todas as linhas metroviárias para os próximos 40 anos. O que poderá ser feito na região depende do volume de recursos que será arrecadado. Após essa etapa, vêm a elaboração do projeto básico, o licenciamento ambiental e a contratação da obra. São muitos passos — completa o secretário.
A operação das Cepacs ficará sob a responsabilidade da prefeitura, que vai precisar mudar a legislação urbanística da região. Em nota, a Subsecretaria de Projetos Estratégicos do município informou que prepara uma chamada pública para convocar interessados em participar da operação que vai permitir a expansão. “Acordo entre a prefeitura e o estado traz para o município a possibilidade de ampliar o potencial adicional de construção na região da Barra da Tijuca (avenidas das Américas e Ayrton Senna), para que o investimento seja privado”, afirma o comunicado da subsecretaria, que, diferentemente do estado, inclui somente o metrô até o Alvorada. O trecho até o Recreio, diz a nota, ainda será avaliado.
Representantes do mercado imobiliário e lideranças da região acreditam que o aumento de potencial construtivo atingirá o Recreio e as Vargens, deixando a Barra de fora. Rubem Vasconcelos, presidente da Patrimóvel, aposta que esse acréscimo será permitido em áreas a partir da Estrada Alceu de Carvalho, no Recreio:
— O mercado tem total interesse nessa operação. Aquela região do Recreio e de Vargem Grande e Vargem Pequena pode ser totalmente transformada pelo progresso — comenta Vasconcelos, dizendo que, no Recreio, o gabarito máximo é de 25 pavimentos nas proximidades da Avenida das Américas.
Delair Dumbrosck, presidente da Câmara Comunitária da Barra, diz que hoje o bairro não comporta mais adensamento, ao contrário do Recreio:
— Para aumentar o gabarito na orla teria que ouvir a comunidade. Mas em alguns locais acho que poderia. O metrô vale a pena esse sacrifício, essa mudança.
Professor de arquitetura da PUC e consultor em legislação urbanística, Manuel Fiaschi explica que na orla do Recreio são permitidos hoje até cinco andares:
— Poderia haver um adensamento principalmente no entorno das Américas, já no Recreio. Mas eu sou contra aumentar o gabarito no miolo do Recreio (entre a Américas e a praia).
Fonte: O Globo, 28/03/2017
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