Depois de ativos como o aeroporto do Galeão (RJ) e a Embraport (SP), a Odebrecht colocou à venda a SuperVia, empresa que explora os trens de passageiros na região metropolitana do Rio de Janeiro. Uma das últimas “joias” da Odebrecht Transport (OTP), braço de transportes e mobilidade urbana do grupo, a concessionária já tem um fundo estrangeiro como forte candidato à compra. O Valor apurou que as conversas para o fechamento do negócio estão encaminhadas.
Desde que a Operação Lava-Jato foi deflagrada, em 2014, a Odebrecht já se desfez de projetos que engordavam consideravelmente sua carteira. Além do Galeão e do terminal de contêineres em Santos, ela vendeu recentemente sua participação na Via Amarela (que administra a linha 4-amarela do metrô paulista) e o controle da Otima, responsável pelos abrigos de ônibus na cidade de São Paulo. Enquanto isso, a Arteris negocia a aquisição de duas rodovias da OTP: a Rota das Bandeiras (SP) e a BR-163 (MT).
A SuperVia, no entanto, é considerada o ativo mais valioso ainda em posse da OTP. Sua concessão foi prorrogada até 2048 pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). A empresa detém uma rede de 270 quilômetros de extensão, com cinco ramais e 102 estações na Grande Rio. São 600 mil passageiros por dia. Em 2016, a SuperVia lucrou R$ 29 milhões e teve receita operacional líquida de R$ 638 milhões. A dívida chegava a R$ 1,4 bilhão – aproximadamente 70% disso com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Em 2015, a OTP criou uma nova subsidiária voltada exclusivamente à área de mobilidade, na qual o conglomerado japonês Mitsui tem 40% de participação acionária. A saída da SuperVia, ao que tudo indica, seria um movimento coordenado das duas sócias ao mesmo tempo. Para a Odebrecht, o sentido é de urgência porque a empresa tem reduzido fluxo de caixa atualmente.
Criada em 1998 para administrar a malha urbana da RFFSA no Rio, a SuperVia foi comprada pela Odebrecht em 2010
Outro revés significativo é a perda do contrato da linha 6-laranja do metrô de São Paulo, em consórcio com UTC e Queiroz Galvão, que teve sua rescisão anunciada pelo governo estadual. Seria a primeira linha do metrô totalmente construída e operado por meio de uma parceria público-privada (PPP). A empresa espera um acerto de contas para reaver investimentos feitos nas obras preliminares e evitar um processo de judicialização.
Além de um alívio financeiro, se concretizar a venda da SuperVia, a OTP conseguiria livrar-se de um negócio que sempre teve alto custo para sua imagem por causa de acidentes e problemas operacionais. Um dos casos com maior repercussão foi o episódio em que um trem foi autorizado pela companhia a passar por cima do corpo de um homem que havia sido atropelado na estação Madureira.
A SuperVia também esteve nas delações premiadas de executivos da Odebrecht. Delatores afirmaram ter feito pagamento de propina para diretores da Agência Reguladora de Transportes do Estado do Rio de Janeiro (Agetransp), que teriam como destino o financiamento de campanhas do PMDB, e para um diretor da distribuidora Light, com o objetivo de abatar uma dívida milionária pelo fornecimento de energia.
Criada em 1998 para administrar a malha urbana da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA) no Rio, a SuperVia foi comprada pela Odebrecht em 2010. Poucos meses depois, saiu a renovação antecipada do contrato de concessão por mais 25 anos, em troca de investimentos como modernização de estações e refrigeração dos trens. Hoje a companhia tem 189 composições com ar-condicionado. Estações como São Cristóvão, Deodoro, Vila Militar e Engenho de Dentro foram reformadas para a realização dos Jogos Olímpicos em 2016.
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2018
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