Sem prazo para o ferroanel

Discutido há pelo menos cinco décadas por governantes e empresários, o Ferroanel, que teria um dos trechos – o Sul – passando pelo Grande ABC, parece ideia cada vez mais distante de moradores da região. Embora a recente greve de 11 dias de caminhoneiros em todo o País tenha trazido à tona a importância do projeto para desafogar transporte rodoviário, não há sequer previsão para que a obra de gigantesco porte saia do papel.

Apresentada nos anos 1990 como solução para o já na época saturado sistema de transporte de cargas por rodovias, o modal é simples, pois segue o conceito do Rodoanel, porém em ramal ferroviário. A ideia é contornar São Paulo com trilhos e escoar cargas do Porto de Santos para o Interior, o que liberaria a malha existente para o transporte de passageiros.

Especialistas ressaltam que, apesar de ousado, continua a ser projeto viável, tendo em vista o sinal de aporte financeiro do governo do Estado e da União para sua execução.

Para o professor Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, coordenador do curso de Engenharia do Mackenzie Campinas, a vantagem do Ferroanel pode ser explicada numa simples conta. “Um vagão suportaria a carga transportada por três caminhões, ou seja, um trem com 20 composições tiraria 60 caminhões das rodovias.”

O projeto desafogaria o sistema de logística atual, tendo em vista que 88% do transporte de cargas do Estado são feitos via rodovias e apenas 8% via ferrovias.

Outro impacto será para usuários de transporte público. Com o avanço populacional da Grande São Paulo e o crescimento da economia nacional, a convivência entre trens de carga e de passageiros começou a ficar complicada. A Linha 10-Turquesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que atende nove estações no Grande ABC, é exemplo. Atualmente, compartilha trilhos com a concessionária de cargas MRS. A medida, no entanto, impede expansão do serviço.

“Na verdade, além de significar perda enorme para a economia do Grande ABC, e também do Estado, o não andamento do Ferroanel terá impactos cruciais para o futuro do transporte ferroviário de passageiros”, avalia a arquiteta urbanista e doutora em planejamento urbano Silvana Zioni, professora da UFABC (Universidade Federal do ABC). “É uma questão de vontade política. Poderíamos ter um modal para o transporte de cargas e passageiros aproveitando ramais já existentes”, ressalta.

Análise semelhante faz o professor de Engenharia da FEI (Fundação Educacional Inaciana) Creso Peixoto, especialista em Transportes e Mobilidade Urbana. “O projeto é uma grande solução para São Paulo. Certamente com ele outros projetos, como o Trem Metropolitano (Campinas-Santos), poderiam sair efetivamente do papel. Porém, se o Ferroanel não vingar tudo ficará difícil.”

SEM PRAZO

Cogitado inicialmente para entrar em operação em 2008, o trecho Sul do modal sequer tem projeto executivo elaborado. “Não existe nenhuma ação em andamento”, destaca o governo do Estado, além de jogar a responsabilidade pelo atraso na União. “Trata-se de iniciativa federal”, justifica.

Embora em melhor situação, o trecho Norte do Ferroanel, que ligará o Interior de São Paulo a Santos, segundo a Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), aguarda parecer da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) para emissão da licença ambiental previa pelo Consema (Conselho Estadual de Meio Ambiente), porém sem qualquer previsão para início das suas obras.

O traçado de 52,75 quilômetros de extensão depende ainda de recursos estimados em R$ 4 bilhões para conectar as estações Engenheiro Manoel Feio, em Itaquaquecetuba, na Região Metropolitana, e Perus, em São Paulo. O projeto, que prevê a retirada de aproximadamente 7.300 caminhões por dia das rodovias estaduais, já consumiu cerca de R$ 6,7 milhões dos cofres da União.

OUTRO LADO

Segundo a Dersa, no momento, o Estado elabora estudos básicos para obtenção de orçamento estimado do trecho Norte do Ferroanel. A conclusão deste processo está prevista para outubro, mas dependerá de análise da União.

Procurado pelo Diário, o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil não retornou aos contatos até o fechamento desta edição.

Fonte: Diário do Grande ABC,  25/06/2018

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