Nos bons tempos da ex-Rede Ferroviária Federal S/A-RFFSA (EFCB), existiam os trens de passageiros Vera Cruz e Santa Cruz, que circulavam entre Rio-São Paulo-B. Horizonte, diariamente, levando considerável número de horas, saindo, simultaneamente, ida e volta, às 23h de cada gare e chegando às 8 horas nas capitais, quando se curtiam as belas paisagens.
O jornal O Globo, de hoje, 28-06-18, publica matéria, no caderno Copa-2018, pag. 1, sob o título: “Uma jogada transiberiana”, na qual fala das “Ferro Moças”, revelando que as “provodnitsas” de lá são pouco educadas, ao contrário das nossas que serviam em nossos trens daquela época saudosa.
O jornalista Renato Alexandrino, enviado especial do jornal, comete o mesmo engano de centenas de outros confrades de nossa mídia. Pela nomenclatura ferroviária, o veículo vagão é específico para transportar CARGAS; o que transporta gente, passageiro, é o CARRO. No dizer do saudoso Professor Victor José Ferreira, trem de passageiro tem alma porque transporta gente, pessoas.
A página da matéria exibe que, nos beliches dos carros, os passageiros ficam com os pés para o lado de fora do corredor, ao contrário de nossas cabines privadas, onde os passageiro sentiam-se bastante confortados durante a viagem noturna. Diz ele que viajou no trem de lá, que as ferromoças (provodnistsas), não têm aquele feeling das nossas aqui, daqueles bons tempos.
Há alguns anos, escrevi no JB e Tribuna da Imprensa sobre os nossos saudosos trens Santa e Vera Cruz, numa versão de “no tempo e no espaço”. A equipagem, as ferromoças, os chefes de trens, todos eram corteses para com os passageiros famosos: artistas de rádio, teatro, TV, jogadores de futebol etc. Primavam pelas boas maneiras em atender.
As linhas ferroviárias, embora mal conservadas, diga-se de passagem, caso haja vontade política de nossos dirigentes, poderiam ser revitalizadas. A via permanente, os carros de aço recuperados, entre outras medidas técnico-operacionais, proporcionariam o retorno triunfal do Vera e Santa Cruz, creio, salvo melhor juízo, com pouco investimento, desde que as concessionárias MRS e FCA disponibilizem-se a cooperar e abrir janelas para a circulação desses trens de passageiro-turismo, entre as três gares, a nosso juízo, perfeitamente coexistíveis, sem embargos.
Os ministérios de Transporte, Cidades e de Turismo, independentes sim, mas, harmoniosamente, poderão promover e incrementar a volta do Brasil aos trilhos, neste naipe e dar a volta por cima a fim de que se tenha a circulação desses trens entre as principais capitais do sudeste, o que já não é sem tempo, pois, lá fora, as viagens turísticas são entre cidades e capitais dos países, que administram esse ícone de fonte de renda. Por que não, aqui no Brasil gigante, deitado em berço esplêndido?
Genésio Pereira dos Santos – advogado, jornalista e conselheiro da Aenfer