Primeira ferrovia em energia solar

Os usuários podem não ter prestado muita atenção, mas um pequeno conjunto de painéis solares próximo à ferrovia em Aldershot, cidade 50 quilômetros a sudeste de Londres, pode significar um futuro mais verde para as viagens de trem. O conjunto é uma experiência para suprir diretamente uma ferrovia com energia solar. Em muitos lugares da Grã-Bretanha, a energia solar já alimenta redes elétricas ferroviárias aéreas, mas os trens têm de ser plugados a elas por operadores. Assim, em certo sentido, muitos trens já usam energia solar. Mas conectar diretamente os painéis aos próprios trilhos pode tornar o abastecimento solar mais eficiente.

No estágio atual, os painéis não produzem muita energia. Com cerca de 37 quilowatts, o conjunto pode facilmente alimentar a bateria de um carro elétrico Tesla, mas não levaria um trem elétrico muito longe. Mas isso é secundário na experiência de Aldershot, pois o objetivo, mais do que operar uma ferrovia, é testar um conceito. E o conceito vem funcionando, diz Stuart Kistruck, diretor de engenharia na região sul da Network Rail, a operadora estatal da infraestrutura ferroviária na Grã-Bretanha.

A Network Rail trabalha no projeto em colaboração com o Imperial College, de Londres, e a Riding Sunbeams, empresa sem fins lucrativos criada por ativistas do clima para promover projetos locais de energia renovável.

‘Terceiro trilho’. Conectar o trecho de Aldershot foi mais fácil graças a uma peculiaridade histórica. Quando começou a eletrificação das ferrovias britânicas, no século 19, foram usados dois sistemas: um de eletrificação aérea e um de “terceiro trilho”. Este consiste num trilho condutor de energia instalado ao longo do trajeto em dormentes isolados. Os sistemas de terceiro trilho costumam ser empregados em ferrovias urbanas porque são mais fáceis e baratos de construir do que fazer túneis e pontes grandes o bastante para acomodar linhas suspensas – e as ferrovias no sul da Grã-Bretanha são cheias de pontes e túneis baixos. Por razões de segurança e outras, os sistemas de terceiro trilho funcionam tipicamente com 750 volts de corrente direta, voltagem muito mais baixa que a da eletrificação aérea, que opera com 25 quilovolts. Os conjuntos de painéis solares produzem corrente direta de 600-800 volts, o que reduz a complexidade e o custo de conectá-los à linha ferroviária. Outra conveniência é que, para reduzir a perda de energia, as ferrovias com terceiro trilho possuem subestações mais próximas umas das outras. Assim, elas proporcionam mais pontos para encaixar a energia solar.

Um problema para organizações como a Riding Sunbeams é que as redes elétricas aéreas raramente são desenhadas para aceitar energia de fontes pequenas e variadas. Ferrovias de mão dupla, porém, podem permitir uso da alternativa, diz Leo Murray, diretor da empresa. Com a Network Rail, a Riding Sunbeams fez uma lista de locais apropriados para instalações maiores de painéis solares.

Mas, além de fazer relações públicas para a causa verde, o que a Network Rail ganha com isso? Primeiro, há muitas terras sem uso próximas de ferrovias onde podem ser instalados painéis. Esses painéis fazem sombra na vegetação em torno, reduzindo seu crescimento. Folhas nas linhas podem prejudicar o deslizar das rodas do trem e causar problemas.

Custo e economia

 Segundo, porque é um bom negócio. A energia solar ao lado de ferrovias será mais barata que a da rede aérea, calcula Kistruck. Segundo suas projeções, 10% da energia exigida pelas ferrovias da região sul podem vir daí. Tal economia não é para ser desprezada.

Com cerca de 40% da malha ferroviária britânica eletrificados, a Network Rail é o maior consumidor isolado de energia do país. Sua conta anual de energia é de cerca de US$ 390 milhões, apenas na tração de trens. 

A ideia pode ser empregada em outras linhas ferroviárias, não apenas nas urbanas. Com modificações e acréscimos, ela poderia ser adaptada também a redes de transmissão aérea. Isso é particularmente promissor em países que não a nublada Grã-Bretanha. A

Índia, por exemplo, está entusiasmada com a possibilidade de usar energia solar em seu sistema ferroviário. A Indian Railways vem instalando painéis solares no teto de alguns trens. Embora estes continuem tracionados por locomotivas poluidoras movidas a diesel, os painéis já fornecem energia para iluminação, ventilação e cartazes luminosos, o que proporciona alguma economia. 

O espaço limitado para instalação de painéis nos tetos de vagões impede que eles produzam energia suficiente para eletrificar trens inteiros. Entretanto, o trenzinho de Byron Bay, que corre numa ferrovia hoje turística perto de Brisbane, na Austrália, chega perto disso. É um trem de dois vagões movido inteiramente a energia solar vinda de painéis nos tetos dos vagões e no teto da estação. O trem “solarizado”, que data originalmente de 1949, leva 96 passageiros num trajeto de apenas três quilômetros e funciona numa parte do mundo abençoada com sol abundante. Os usuários de trens de Londres não têm tal sorte. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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Fonte: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,trilhos-…

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