A crise provocada pelo coronavírus já começou a provocar gargalos no transporte de carga no Brasil. Os primeiros sintomas da crise surgiram ao longo da semana passada, com a dificuldade de caminhões para atravessarem fronteiras (internacionais e entre alguns Estados) e para entregar produtos a lojas, que foram encontradas fechadas.
O maior temor é que, com o agravamento da epidemia, medidas de restrição passem a impedir entregas, o que poderia levar a um desabastecimento. Hoje, porém, esse cenário não está no radar, segundo as transportadoras.
A atuação do governo federal tem sido essencial para garantir a circulação, afirma César Meireles, presidente da Associação Brasileira de Operadores Logístico (Abol), que reúne 32 dos maiores operadores do setor.
O Ministério de Infraestrutura se reuniu, na noite de sexta, com representantes de todos os Estados para discutir a situação. A garantia de livre circulação da carga foi um dos principais consensos na discussão, segundo a pasta. O governo também acordou, com concessionárias de rodovias, a suspensão da pesagem dos caminhões por 90 dias, para agilizar o trânsito.
A União também tem atuado para resolver bloqueios de caminhões em fronteiras estaduais, segundo Meireles. Empresas registraram casos do gênero no Rio de Janeiro, Santa Catarina e Ceará.
As companhias também têm encontrado problemas para chegar a países da América Latina – embora, em tese, o fechamento de fronteiras no continente não se aplique ao transporte de cargas.
A BBM Logística teve problemas na Argentina e no Uruguai. A companhia tem buscado acionar caminhões nos países vizinhos para garantir a entrega da carga, segundo André Prado, presidente do grupo.
Outro entrave enfrentado pela transportadora na última semana foi o fechamento de lojas, o que impediu entregas. Houve casos nos Estados do Rio de Janeiro e de Santa Catarina, mas a expectativa é que passe a ser mais comum, diante da suspensão do varejo não essencial em outros Estados do país.
“A partir do momento que sabemos que a carga não será entregue, o caminhão nem deverá sair. Então a previsão é que, no varejo não essencial, o fluxo seja interrompido daqui para frente”, afirma Prado.
A queda na movimentação é certa, segundo as empresas, mas ainda não foi significativa até agora. Por enquanto, a avaliação é que a retração virá junto da queda na produção, principalmente em setores não essenciais – de eletrônicos, vestuário etc. Segmentos como embalagens, alimentos e medicamentos não deverão sofrer tanto.
“Ainda é cedo para mensurar a retração, mas haverá impacto. A logística acompanha a economia”, afirma Meireles.
O escoamento de grãos pela malha ferroviária da Rumo também não foi afetado de forma significativa até o momento, segundo a companhia, que disse, em nota, que ainda iria acompanhar de perto os desdobramentos da crise.
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