Concessionária da malha ferroviária no Rio de Janeiro e em outras 11 cidades, a SuperVia perdeu 7 milhões de passageiros desde o início das restrições adotadas devido à pandemia do novo coronavírus e pede linhas de crédito de ao menos R$ 65 milhões para continuar operando o sistema.
Desde a adoção de medidas de fechamento de comércio e isolamento social adotadas pelo governador Wilson Witzel (PSC), o sistema ferroviário do Rio teve 9 estações fechadas, para isolar o Rio dos demais municípios da baixada e em outras 15 há controle da Polícia Militar, que só libera o embarque de quem atua nos serviços essenciais.
O transporte médio diário de passageiros, que era de 600 mil antes do início das restrições, atualmente oscila entre 140 mil e 170 mil, o que representa uma queda mínima superior a 70% em dias úteis.
A perda média diária no faturamento da concessionária é de cerca de R$ 2 milhões. O valor necessário para manter as operações depende da duração das medidas de isolamento. Se for um mês, R$ 65 milhões, valor que dobrará caso as restrições se prolonguem por mais 30 dias, segundo o executivo Antonio Carlos Sanches, presidente da SuperVia.
“Tirando essas 9 estações, a operação continua e o custo é praticamente o mesmo. Em alguns casos até elevou, por conta da higienização extra. Era feita a limpeza normal, mas agora cada composição que volta à Central do Brasil é higienizada completamente antes de seguir viagem. Com essa redução de 70% da receita e elevação de custo, o impacto é brutal. Temos necessidade de fluxo de caixa praticamente imediato”, disse Sanches.
Em março, os sistemas de trens, metrôs e VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos) tiveram redução média de 62,6% no total de passageiros transportados no país, segundo a ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos), em comparação com o mesmo mês do ano passado.
Enquanto em 2019 foram transportadas 262,5 milhões de pessoas em março, no mês passado o total foi de apenas 98 milhões. Abril começou com redução ainda mais acentuada, de 79%, índice que, se for mantido até o fim do mês, fará com que só 56 milhões de passageiros sejam transportados sobre trilhos no país.
Segundo Sanches, o caixa da concessionária suporta apenas mais 45 dias, depois de já terem sido feitas reduções de gastos e renegociações com fornecedores para postergar pagamentos.
A concessionária tem feito reuniões com ministérios, governo do Rio, BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e Caixa em busca de capital de giro em situação extraordinária.
“Sabemos que pelos caminhos tradicionais o processo é lento e vai demorar, vai passar o prazo que temos. O BNDES ficou de fazer estudo com governo federal e uma das medidas é fluxo de caixa, empréstimo para injetar dinheiro com garantia do Tesouro Nacional”, disse.
O risco de interromper as operações, ainda conforme o executivo, é alto. Os dois maiores gastos da SuperVia são com folha de pagamento e energia elétrica. Mas outros gastos estão sendo postergados.
“Não vou [em algum momento] mais conseguir comprar peças de reposição ou pagar fornecedores. Aí vou ter de encostar trem. Mais crítico ainda é a manutenção da via. Mesmo que em dois ou três meses tudo volte ao normal, não temos como rapidamente restabelecer essa cadeia de suprimentos.”
Com cerca de 200 trens, a SuperVia é concessionária do sistema desde 1998 e opera 270 quilômetros de malha ferroviária. Ela emprega 4.000 pessoas, entre vagas diretas (2.500) e indiretas (1.500) e atua em 12 municípios do Rio de Janeiro.
Sanches, que presidia a Celpe (Companhia Energética de Pernambuco), está na Supervia desde agosto do ano passado, escolhido pelo grupo japonês Gumi, que três meses antes comprou da Odebrecht o controle acionário da concessionária. O grupo é formado por Mitsui, JRWest e fundo soberano do governo do Japão.
A concessionária não demitiu empregados, mas colocou um grupo em férias. Quando esse grupo voltar, outros sairão. Sanches disse que estão sendo feitos estudos sobre redução de jornada e suspensão de contratos de trabalho, para serem adotados em algum momento, se for o caso.
“Pelas conversas todas, algumas ações vão ajudar, como por exemplo o BNDES prorrogar prazos da nossa dívida. Isso representa um quinto do nosso fluxo de caixa. Só isso não resolve, mas ajuda. A situação não é típica, é extraordinária, e precisa de medidas extraordinárias, com rapidez, para fazer com que as empresas respirem. Fazendo uma analogia [à saúde], precisamos de um respirador.”
BILIONÁRIO
A ANPTrilhos afirma que a perda do setor já chegou a R$ 681 milhões, só com bilheteria, entre o dia 16 de março, quando a queda na demanda começou a ser observada, e a última segunda-feira (6).
Se a pandemia afetar os sistemas por mais dez semanas, o prejuízo poderá chegar a R$ 3,4 bilhões, calcula a associação.
Além da Supervia, outras concessionárias se reuniram com membros do governo federal para pedir socorro, como o presidente do conselho da ANPTrilhos, Joubert Flores.
A avaliação do executivo segue a de Sanches, ao afirmar que as empresas não conseguem diminuir os custos fixos e passaram a gastar mais com produtos para higienização nas composições.
A mais importante das medidas, conforme ele, é dar suporte para capital de giro, para que as empresas tenham caixa para pagar funcionários e fornecedores. A entidade é representante de operadoras como os metrôs de São Paulo e do Rio e a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Outros pedidos das concessionárias são a aprovação de projetos de investimento, a isenção de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre energia elétrica, a redução de encargos durante a situação de emergência e a redução de custos previdenciários.
São transportados por dia nesses modais mais de 12 milhões de passageiros nas principais capitais e regiões metropolitanas de 11 estados e Distrito Federal.
Fonte: Folha de São Paulo, 13/04/2020
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