Soluções inteligentes para um futuro próximo

O arrefecimento da produção industrial observado no primeiro semestre do ano não impede que o transporte ferroviário pense adiante. Neste momento, diversas empresas testam tecnologias que visam a operações mais eficientes e seguras. Passada a emergência causada pelo novo coronavírus, quem investiu em inovação terá grandes chances de liderar o processo de retomada. As novidades são positivas também para o meio ambiente, já que preveem redução na emissão de poluentes.

Segundo Vicente Abate, presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), o setor trabalha para se manter em dia com as tendências mais avançadas. “Estamos atualizados com o que existe de melhor em termos de tecnologia. Já adotamos motores com tração com corrente alternada, que permitem a redução de 25% no consumo de energia. Hoje, os truques dos vagões são dimensionados para ter uma interação melhor com a via permanente. Isso faz o trem navegar mais suavemente, reduzindo o desgaste da roda e do trilho”, detalha.

No segmento transportador de produtos refrigerados, a Brado Logística é um exemplo de busca pela vanguarda. Dentro do projeto Railway Energy, a empresa criou um protótipo de bancada que promete revolucionar o mecanismo de refrigeração de contêineres tipo reefer. “Mais especificamente, a ideia é desenvolver um sistema capaz de transformar a energia cinética do freio dinâmico da locomotiva em energia elétrica durante o trajeto do trem em movimento. A energia elétrica será aproveitada para alimentar um banco de baterias ligadas ao reefer, fazendo com que o sistema de refrigeração permaneça ligado por mais tempo possível”, descreve Henrique Meirelles, diretor financeiro da Brado.

O projeto prevê, ainda, um sistema de geração estacionário a diesel, acoplado ao vagão, que mantém o contêiner reefer ligado durante todo o trajeto. “A continuidade permite a adequação do gerador estacionário a fim de receber uma célula de combustível movida a etanol E46. Assim, viabilizaremos uma fonte de energia renovável em substituição ao diesel”, revela o diretor.

Outra aposta da empresa é o plano Brado 4.0, cujo objetivo é utilizar a automação e a inteligência artificial. “Dividido em três fases, terá os seguintes indicadores de performance: ganho de produtividade; crescimento das operações nos terminais; mapeamento das operações; e geração de Big Data para uso estratégico”, destaca Meirelles. “Prevemos um aumento de até 15% em nossa eficiência operacional, com base na mudança de processos e na unificação das plataformas de gestão. Se, em 2019, transportamos 328 mil TEUs, projetamos que o Brado 4.0 irá suportar o volume de 8,7 milhões de TEUs para os próximos dez anos”, adianta.

Para chegar à frente

São muitas as iniciativas inovadoras em fase de experimentação. A VLI, empresa que oferece soluções logísticas que integram ferrovias, portos e terminais, vem investindo no sistema batizado de NYAB Leader Auto Control. Trata-se de um assistente de condução de locomotivas apto a proporcionar, entre outros benefícios, eficiência na operação do trem, redução do consumo de combustível, gerenciamento do tempo de deslocamento, redução do desgaste de material rodante e mais segurança nas operações.

O sistema inteligente é uma tecnologia embarcada que utiliza informações do trem e do perfil da rota para calcular um plano de condução otimizado. A condução, nesse caso, é por meio de controle semiautomático. Isso significa que o maquinista executa apenas algumas funções na cabine e assume o comando da locomotiva conforme a necessidade.

Amplamente adotado nos EUA, o NYAB Leader Auto Control proporciona redução no consumo de combustível na ordem de 3% a 17%, a depender das características do trem e dos trechos percorridos. O objetivo é implementar esse sistema em 226 locomotivas que operam nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Maranhão e Tocantins.

O gerente-geral de engenharia ferroviária e do centro de controle operacional da VLI, Alessandro Gama, conta que a alma dessa tecnologia é um algoritmo que interpreta os dados. “A partir daí, o sistema realiza simulações on-board que calculam o desempenho da composição quilômetros à frente e analisa múltiplas estratégias de operação. À medida que novas variáveis entram no cálculo, o sistema classifica cada estratégia em tempo real, de acordo com os objetivos operacionais da ferrovia, selecionando a melhor configuração para otimizar o consumo de combustível”, acrescenta.

Por fim, um plano de condução otimizada é disponibilizado em uma interface visual na cabine da locomotiva. O sistema é capaz de assumir o controle da operação assim que a velocidade de deslocamento ultrapassar os 8 km/h. Também é sugerida a quantidade de freio automático a ser aplicada. Tudo isso, é claro, sob a supervisão do maquinista.

 

Fonte: Revista CNT (Págs. 35-37)

Data: Março/2020

 

 

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