Cerca de 30% dos investimentos via mercado global de títulos verdes vão para transporte de baixo carbono, que inclui principalmente ferrovias, além de ônibus elétricos e BRTs. Para 2020, as emissões verdes em nível mundial devem chegar a US$ 350 bilhões, segundo a Climate Bonds Initiative (CBI) – uma organização inglesa que certifica projetos para captação de recursos por meio da emissão de green bonds.
”Os títulos verdes são exatamente idênticos a qualquer outro bond. A única diferença é a destinação dos recursos que está vinculada a projetos sustentáveis, como a redução da emissão de gases poluentes. Há bastante tempo a gente fala do potencial de se diversificar o modal de transportes no Brasil, e eu acho que isso é válido não só para a logística como principalmente para o transporte de passageiros”, disse a diretora para América Latina da CBI, Thatyanne Gasparotto, durante o Webinar nos Trilhos da última terça, dia 21/07, cujo tema foi títulos verdes para ferrovias. O evento contou também com a participação do subsecretário de Sustentabilidade do Ministério da Infraestrutura, Mateus Salomé do Amaral.
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Gasparotto ressaltou que projetos de mobilidade urbana focados na redução de emissões de CO2 têm grande potencial no mercado verde, no que diz respeito ao interesse dos investidores. Mas, por outro lado, afirmou que no Brasil a quantidade de emissões de green bonds para financiamento de projetos ferroviários ainda é incipiente. No segmento de carga, por exemplo, é um fato recente. No início de julho, a Rumo fez emissão de US$ 500 milhões em títulos verdes para aplicação em projetos sustentáveis em sua malha. A certificação foi feita pela CBI. Esta foi a primeira vez que uma ferrovia fez esse tipo de operação no Brasil.
No segmento de passageiros, um bom exemplo vem do Chile. ”Na América Latina, do ponto de vista do financiamento de transporte público, a gente teve a emissão dos títulos soberanos do Chile, para o financiamento de linhas de metrô em Santiago. Uma boa parte da operação deles foi muito atrativa, então, existe, sim, demanda por esse tipo de título. No Brasil, no entanto, a gente não teve ainda ninguém abraçando essa oportunidade do ponto de vista de mobilidade urbana, mas a gente espera que isso mude em breve”. No Chile foram feitas três emissões recentes que totalizaram US$ 6 bilhões para o sistema metroferroviário da capital Santiago. Segundo a diretora da CBI, as três operações foram suficientes para ultrapassar o mercado brasileiro em termos de volume de finanças verdes. ”O Brasil continua sendo um mercado mais maduro, temos muito mais operações aqui, muito mais diversificação de setores, de perfil de emissores e etc. Mas por conta dessas três operações no Chiles, eles passaram o mercado brasileiro em volume”. A primeira emissão de títulos verdes no mercado brasileiro aconteceu em 2015. Entre aquele ano e 2020, foram US$ 6,1 bilhões em títulos verdes no país, maior parte emitida por empresas do setor de energia renovável. No Chile, o volume de emissões está em torno de US$ 7 bilhões.
Gasparotto citou também dificuldades regulatórias no Brasil, que impedem o acesso mais fácil de prefeituras e governos do estado aos títulos verdes. ”Os governos locais podem emitir, a gente tem vários títulos nesse sentido sendo emitidos no mundo. O desafio que temos no Brasil não tem nada a ver com o mercado verde em si, tem a ver com o arranjo de tomada de dívidas de estados e municípios, que precisam de uma garantia da União, de um aval do governo federal. É uma estrutura que a gente acaba não vendo, não vemos estados e municípios tomando dívidas diretamente”, explicou Thatyanne Gasparotto.
Fiol, Ferrogrão e Fico devem ter selo verde até o fim deste ano
Mateus Salomé, do Minfra, disse que a pasta está trabalhando na estruturação de um programa em parceria com a CBI para a certificação de três novas ferrovias, a Fiol, Ferrogrão e Fico. O objetivo é que até o fim deste ano as três já estejam certificadas para que, no momento da concessão, se tornem aptas a captar recursos por meio da emissão de títulos verdes pelo novo concessionário.
”É uma inovação que está sendo feita nesse processo, por ser um projeto de governo, a gente os certifica e a emissão de títulos vai ser feita pelos concessionários, aqueles que vencerem os leilões. Então, no momento de buscar suas emissões de títulos, ou de buscar recursos no mercado, eles poderão optar por buscar como verde ou não. Mas normalmente buscar como verde hoje tem sido muito vantajoso”, disse Mateus.
Uma vez certificados, os projetos passam a ter certos critérios para serem implementados, como emitir menos de 25 gramas de gás carbônico por tonelada/quilômetro transportado, além do fato de a carga total transportada pela ferrovia ser de menos de 50% de combustíveis fósseis. A ideia é que os impactos climáticos do transporte ferroviário sejam cada vez mais mitigados.
O Webinar nos Trilhos faz parte das comemorações dos 80 anos da Revista Ferroviária, e conta com o patrocínio da Loram do Brasil, da Cavan, da Plasser & Theurer e Plasser do Brasil. Apoie o jornalismo ferroviário. Assine a revista, cadastre-se em nossa newsletter diária e nos siga nas redes (Youtube, Linkedin, Instagram, Facebook e Twitter).
Fonte: Revista Ferroviária, 24/07/2020
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